04 Fevereiro 2016
O amor pelo dinheiro pode ser a origem de todo o mal, mas, segundo o controlador financeiro do Vaticano, os bispos devem entender como administrá-lo adequadamente.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada na revista The Tablet, 26-06- 2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em setembro do ano passado, o Cardeal George Pell falou a bispos recém-ordenados em um curso de formação anual em Roma projetado para ajudá-los a tratar a miríade de novas responsabilidades que por ora estavam assumindo. O texto contendo o que fora dito no curso foi publicado pelo Vaticano em formato de livro.
O cardeal australiano, nomeado pelo Papa Francisco como o primeiro Prefeito da Secretaria para a Economia da Santa Sé, dá aos novos bispos uma instrução bem clara: mantenham os gastos sob controle. Isso é algo que ele está tentando fazer no Vaticano ao criar orçamentos para cada departamento, contratando um auditor externo pela primeira vez e tentando valorizar todos os ativos – inclusive a Basílica de São Pedro e a Capela Sistina.
Ainda que a maior parte dos homens que se tornam sacerdotes não tenha no dinheiro a sua motivação, quando se tornam bispos eles assumem o controle de orçamentos e ativos multimilionários. E da forma como as dioceses se estruturam, é o bispo quem possui o poder total sobre as finanças.
O ex-arcebispo de Melbourne e Sydney é claro, no entanto, em que o líder de uma diocese deve entender o básico de finanças e demonstrar interesse em se apropriar dos assuntos em torno do tema. Se ele não faz isso, explica Pell, “irá facilitar a ação de ladrões”.
E continua: “Não é preciso ser um especialista, mas deve-se ter condições de ver onde se encontram algumas incoerências”.
O cardeal diz ainda que “a desonestidade não é conhecida” na Igreja e cita o seu primeiro trabalho paroquial na qualidade de sacerdote assistente como um exemplo sem, todavia, entrar em detalhes.
Nos últimos anos, têm havido casos de controladores financeiros diocesanos que desviaram dinheiro. O ex-tesoureiro da Diocese de Menivia Frank Monti, no País de Gales, foi condenado por furtar mais de 20 mil dólares para se presentear com um grand piano, enquanto que Anita Guzzardi, ex-coordenadora financeira da Arquidiocese da Filadélfia, foi condenada pelo desvio de mais de 900 mil.
O Cardeal Pell insta os bispos a ter controles financeiros rígidos e a empregarem um gerente de negócios para se certificar de que as diretrizes estão sendo respeitadas. Este gerente deve ser mais do que um contador; precisa ser um “empreendedor” que entende de finanças, terras e Direito Canônico. Relatórios financeiros são também citados como fundamentalmente importantes, juntamente com controles internos rígidos para se certificar de que o dinheiro esteja sendo gasto corretamente.
Estas medidas irão garantir que uma diocese não acumule uma perda anual, algo que, segundo o cardeal, deve ser “muito raro”. Também de acordo com ele, uma determinada diocese acumulou dívidas em um ano acima de 10 milhões de dólares, enquanto que é amplamente sabido que outras se esforçam para se manterem num ponto de equilíbrio.
Por fim, o cardeal explica que o bispo deve agir como o zelador dos ativos diocesanos e firmemente afirmar que “não irá vender propriedades”. Ele ensina: “Este patrimônio deve ser preservado e entregue ao bispo sucessor. Ele pertence ao futuro e não deve ser desperdiçado em uma geração”.
A nomeação do Cardeal Pell para administrar as finanças vaticanas foi um movimento astuto por parte do Papa Francisco. Ao mesmo tempo em que deseja uma “Igreja pobre para os pobres”, o papa também quer que a instituição não caia no vermelho.
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Cardeal Pell fala aos novos bispos sobre a administração das finanças da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU