18 Dezembro 2015
Nos dias 14 e 15 de dezembro passados, o pastor Olav Fykse Tveit, secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), esteve em Roma para se encontrar com os representantes do Pontifício Conselho Justiça e Paz, da Comunidade de Santo Egídio e da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália (FCEI).
A reportagem é de Luca Baratto, publicada pela agência Notizie Evangeliche (NEV), 16-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Expoente do CMI – órgão que reúne 345 Igrejas anglicanas, ortodoxas e protestantes, representando mais de 500 milhões de cristãos em todo o mundo – nós lhe fizemos algumas perguntas sobre os corredores humanitários, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de Paris, o diálogo inter-religioso e o movimento ecumênico.
Eis a entrevista.
Qual é a razão da sua visita à Itália?
Eu vim para a Itália para me encontrar com alguns dos parceiros com os quais o CMI colabora. Acima de tudo, com o cardeal Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, para discutir juntos os resultados da Conferência das ONU sobre as Mudanças Climáticas (COP21), que se concluiu no dia 11 de dezembro em Paris. Depois, com a Comunidade de Santo Egídio, com a qual nós colaboramos sobre os temas da paz e da justiça, particularmente no que diz respeito ao Oriente Médio, e com a Federação das Igrejas Evangélicas na Itália (FCEI).
A FCEI e a Comunidade de Santo Egídio são parceiras para a constituição de corredores humanitários do Marrocos e do Líbano à Itália. Qual é a sua opinião sobre esse projeto?
Eu tenho uma opinião muito positiva. A atual crise de migrantes que chegam à Europa do Norte da África e do Oriente Médio requer novas parcerias e novas iniciativas. É importante que a sociedade civil e as comunidades de fé estejam na vanguarda para defender a dignidade e garantir a segurança de cada ser humano. Nessa perspectiva, a iniciativa dos corredores humanitários, para garantir viagens seguras para pessoas particularmente vulneráveis, é muito importante. É um sinal para toda a sociedade: não podemos deixar os refugiados nas mãos de traficantes que abusam e se aproveitam financeiramente deles.
Você participou de diversos encontros organizados em torno da COP21 de Paris, definindo o encontro como um "momento de verdade". Pode nos explicar o que queria dizer?
A COP21 foi um momento de verdade, acima de tudo, porque ninguém pôs em dúvida a realidade das mudanças climáticas, o fato de que elas se devem à atividade humana e que, portanto, é nossa responsabilidade eliminar as causas que as produzem. Mas eu gostaria de dizer que também foi um momento de esperança. De fato, sentiu-se a vontade generalizada de querer realmente enfrentar o problema. O acordo assinado é um forte sinal dessa vontade, uma tomada de responsabilidade por parte das nações que o assinaram. Agora, porém, devemos fazer com que essa esperança se realize verdadeiramente, que as nações realmente façam a sua parte e façam até mais do que foi decidido em Paris – porque, com efeito, as decisões tomadas ainda não são suficientes para alcançar os objetivos estabelecidos. É importante dar impulso a toda iniciativa para eliminar as emissões de gases de efeito estufa e à utilização de energias renováveis. O compromisso das comunidades de fé é o de acompanhar, apoiar e encorajar essas mudanças, que deverão ocorrer no tempo mais rápido possível.
As comunidades cristãs chegaram à COP21 organizando "Peregrinações pela justiça climática", que partiram de diversos pontos da Europa e até mesmo das Filipinas.
Sim, é verdade. A ideia da peregrinação como expressão do compromisso cristão foi lançada – neste ponto, pode-se dizer, com sucesso – pela assembleia de 2013 do CMI em Busan (Coreia do Sul). A peregrinação é a descrição da vida cristã como um todo. É um movimento, um caminho de fé, que, no caso de Paris, foi percorrido à pé, concretamente, por peregrinos de carne e ossos que atravessaram a Europa para dizer que querem a mudança e querem fazer parte dela. A peregrinação pode ser percorrida concretamente, simbolicamente, espiritualmente ou em uma combinação desses três elementos. Acho que essa ideia é relevante para todas as tradições cristãs e que não pertença nem a uma só confissão nem a uma só prática religiosa específica como o fato de visitar lugares especiais e santos. Em vez disso, é reconhecer que o nosso "lugar santo" é aquele onde estamos, aquele que nós habitamos normalmente, aquele em que as pessoas precisam do nosso testemunho e da nossa ajuda em favor da justiça e da paz.
No início do seu mandato como secretário-geral do CMI, o diálogo inter-religioso, especialmente com o mundo muçulmano, teve um forte impulso. Em que ponto estão esses diálogos e que novas iniciativas estão programadas?
O CMI, há muitos anos, mantém diálogos com diversos parceiros muçulmanos. Diálogos separados, já que, no mundo muçulmano, não existe uma organização como o CMI. Há três anos, uma delegação composta por pessoas designadas pelo CMI e pela universidade jordaniana Al al-Bayt viajou para a Nigéria para ouvir tanto os cristãos, quanto os muçulmanos, sobre a violência que atingiu as suas comunidades e sobre como superá-la. O resultado foi a abertura de um centro cristão-muçulmano para monitorar as violências, mas principalmente para apoiar as iniciativas de paz e de amizade entre as duas comunidades na Nigéria. Algumas semanas atrás, em Genebra, houve um encontro com um grupo de acadêmicos iranianos. Estamos à espera de uma visita de alto nível do Cairo aqui em Genebra nos próximos meses. Nesses encontros, naturalmente, discutiu-se a relação entre violência e religião. Juntos, podemos afirmar que essa violência é praticada por grupos extremistas e que as situações que são criadas são totalmente independentes da vontade da grande maioria dos líderes e dos fiéis muçulmanos. No entanto, o diálogo inter-religioso do CMI não se limita ao Islã, mas também abraça as outras religiões, assim como a relação entre religião e violência deve ser abordada a partir de um ponto de vista mais amplo.
Há alguns anos, você se encontrou em Roma com o Papa Bento XVI e lhe presenteou um par de luvas de lã. Você também as presentearia ao Papa Francisco?
Não, não faria isso. Na época, falava-se de inverno ecumênico. Hoje, a estação ecumênica está mudando. O presente das luvas para Bento XVI queria significar que, em tempos em que não vemos os progressos esperados, devemos estar preparados, mesmo assim, para continuar o diálogo. A mudança da estação ecumênica também é fruto da paciência tida nos períodos menos propícios. Do ponto de vista do CMI, observamos os sinais positivos provenientes do Papa Francisco, incluindo as visitas na Itália à Igreja Valdense de Turim e à Igreja Luterana de Roma. Mesmo a posição de Francisco sobre as mudanças climáticas é um elemento de unidade. Eu acredito que os cristãos sempre devem ousar um testemunho comum, com base no nível de acordo ou de desacordo entre eles. Para agir de modo significativo no serviço que prestamos ao mundo, não podemos esperar que todos os desacordos sejam resolvidos.
O que você espera do Sínodo pan-ortodoxo que será realizado em 2016?
Pessoalmente, saúdo o Sínodo pan-ortodoxo como um importante momento de unidade confessional do qual todo o movimento ecumênico vai se beneficiar. Para o CMI é um evento muito importante. Gostaria de notar que, até hoje, o CMI foi o único lugar em que as diversas Igrejas ortodoxas se encontraram. Nesse sentido, o CMI serviu à unidade do mundo ortodoxo de modo significativo. Isso é algo com que nos alegramos e esperamos que possa continuar com mais força depois do Sínodo.
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COP21, momentos de verdade e esperança. Entrevista com Olav Fykse Tveit - Instituto Humanitas Unisinos - IHU