18 Dezembro 2015
"Parece-me evidente que decorre da maternidade por substituição uma comercialização, ou seja, uma instrumentalização da mulher. E isso, certamente, é inaceitável."
A opinião é da filósofa italiana Elisa Grimi, diretora da revista internacional Philosophical News e professora da Universidade de Neuchâtel.
A entrevista foi concedida a Giusy Fasano, publicada no jornal Corriere della Sera, 17-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Como definiria o conceito de maternidade por substituição [a chamada "barriga de aluguel"]?
Como estudiosa de filosofia e, portanto, amante da verdade, eu a definiria como uma "blasfêmia". Blasfêmia, sim, e não acho que de modo exagerado, porque vai contra a vida, e a vida é Deus que dá. A vida não é um substituto, a vida é uma graça. A vida é um dom e um doar-se: a maternidade é um dom e um doar-se. Portanto, a maternidade diz respeito à vida e não deve ser instrumentalizada.
Na Itália, está em curso há semanas uma discussão entre aqueles que são favoráveis e aqueles que não são favoráveis à maternidade por substituição. A sua posição é muito clara...
Eu me inclino do lado da vida, isto é, de quem é filha. Porque, veja, aqui, além de haver confusão sobre o conceito de maternidade, há ainda mais sobre o conceito de filho e filha. Não é possível traçar os limites daquilo que é humano e, portanto, da sua dignidade e direitos, sem incluir o conceito de "filho". Qual é o melhor alimento para um recém-nascido senão o leite da sua mãe? Com isso, não quero dizer, porém, que o leite artificial não pode não ser a melhor solução, mas, primeiro, vem sempre a origem da vida, sem a qual o artificial não encontra nem mesmo a sua definição.
Quem é a favor dá exemplos concretos: a mulher que leva adiante a maternidade pela irmã doente, por exemplo... O que é possível objetar em tais casos?
Esse exemplo parece trazer consigo uma solução. Substituição é melhor do que nada: talvez. O problema, porém, é de tempo. Porque uma gravidez leva tempo, e nesse tempo a vida se forma na vida, em uma coisa só, infinitamente misteriosa, um tempo repleto de expectativa. Portanto, o presente não pode ser salvo por uma iniciativa humana, mas pelo reconhecimento de a quem pertence a vida. E o filho tem uma única mãe. Quer esse menino ou menina esteja destinado a viver um minuto, um mês, um ano ou cem anos, esse é o mistério do tempo. E o tempo não é um substituto.
Quem é contrário defende que é inaceitável fazer das mulheres objetos à disposição do mercado apenas porque a técnica, hoje, torna isso possível. Você concorda?
Parece-me evidente que decorre da maternidade por substituição uma comercialização, ou seja, uma instrumentalização da mulher. E isso, certamente, é inaceitável.
Existe um limite além do qual se deve aceitar não ter um filho?
Os cálculos humanos nem sempre chegam ao fim, por mais auxílios de que se possa dispor. Estamos acostumados com uma sociedade em que o conceito de sacrifício é visto como inimigo do homem, assim como o de paciência. Em vez disso, sacrifício e paciência fizeram a nossa história.
Qual é a importância do pensamento católico na contrariedade à maternidade por substituição?
Nenhuma. O pensamento é pensamento humano. A fé pode ser católico ou diferente. Mas aqui estamos falando daquilo que é humano.
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"As mulheres não são um instrumento." Entrevista com Elisa Grimi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU