15 Dezembro 2015
A exibição do filme Para onde foram as andorinhas nesta sexta-feira, na Zona de Ação pelo Clima, no Centro 104, em Paris, contou com a participação de mais de 60 pessoas que ao final fizeram muitas perguntas aos indígenas do Xingu. O cacique kayapó Raoni Metuktire chegou de surpresa para prestigiar o evento.
A reportagem foi publicada por Instituto Socioambiental - ISA, 12-12-2015.
Na tarde desta sexta-feira (11), aconteceu o último evento organizado pelo ISA em Paris durante as negociações para um novo acordo climático global. Com mais de 60 pessoas para a projeção do filme Para onde foram as andorinhas?, feito em parceria com o Instituto Catitu, o evento foi na Zona de Ação para o Clima (ZAC), espaço da Coalizão Climática 21, da sociedade civil.
Tukupe Waura, que, junto com seu tio Yapatsiama, falou pela segunda vez ao público do ZAC sobre os impactos das mudanças climáticas no Parque Indígena do Xingu (MT), fez um alerta: “Nesse momento, os governantes do Brasil estão doentes. Precisam fazer tratamento com pajelança”. Ele, que na semana que vem representará o seu povo na etapa nacional da 1ª Conferência Nacional de Política Indigenista (CNPI), está preocupado com a cegueira dos políticos brasileiros com relação aos direitos indígenas: “Eles precisam de um professor altamente qualificado para ensinar a eles”.
Os presentes, que quiseram saber mais sobre o desaparecimento dos sinais que organizam o tempo e o ambiente para os xinguanos, e se surpreenderam com a fala de Yapatsiama, feita na língua Waura: “Tenho certeza de que o desaparecimento das cigarras tem a ver com o aumento da temperatura”. Também as abelhas e os marimbondos sumiram: “Quando a gente vai para o mato, a gente se guia pelo marimbondo. É o nosso GPS”. Para o ancião Waura, é preciso que os países europeus parem de incentivar o agronegócio brasileiro: “Essa é minha mensagem a vocês e seus governantes. O Brasil devastou tudo ao redor de nossa aldeia”.
Paulo Junqueira, coordenador do Programa Xingu, do ISA, lembrou à sociedade civil francesa que, embora boa parte das áreas florestadas no Brasil correspondam a Terras Indígenas e Unidades de Conservação, manejadas por povos indígenas e populações tradicionais, as pastagens degradadas pelo agronegócio já recobrem a extensão de duas Franças: 140 milhões de hectares. O público respondeu às intervenções sugerindo boicotes, como à produção de soja do país.
O evento contou com a participação de outras duas lideranças indígenas. Telma Marques, do povo Taurepang e do Conselho Indígena de Roraima (CIR) denunciou a postura do governo brasileiro em uma coletiva de imprensa do Fórum Internacional dos Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas, o "Caucus" indígena, na manhã de sexta. “A grande mitigação [das mudanças climáticas] que o governo brasileiro, o Congresso Nacional, pode fazer diante do mundo é arquivar a PEC 215”, alfinetou.
Já o líder Raoni Metuktire, do povo Kayapó, que também esteve no ZAC, está em uma maratona de encontros e entrevistas para falar dos impactos da construção de Belo Monte na Volta Grande do Rio Xingu. Na semana passada, ele denunciou pessoalmente a François Hollande, presidente da França, a edição de uma Medida Provisória (MP) pelo governo federal para viabilizar hidrelétricas – tidas como modelo de “energia limpa” nas negociações climáticas – dentro de Terras Indígenas.
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Governantes do Brasil estão doentes e precisam fazer tratamento com pajelança, diz Tukupe Waura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU