28 Novembro 2015
"Há o risco de que o terrorismo prejudique a capacidade da sociedade civil de fazer ouvir a própria voz, de fazer sentir a própria pressão sobre os líderes que se reunirão na Conferência de Paris sobre o clima", afirma Naomi Klein.
A reportagem é de Maurizio Caprara, publicada no jornal Corriere della Sera, 27-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A ensaísta canadense, autora de livros com vendas superior a um milhão de cópias, afirma isso enquanto se encontra na capital da França ferida pelos massacres cometidos por integralistas islâmicos, a mesma cidade que a partir do próximo domingo, 11 de dezembro, hospedará o encontro mundial chamado COP-21, que terá a participação, no início dos trabalhos, de 147 chefes de Estado e de governo.
Nos dias da conferência, a mulher que ficou famosa com o livro Sem Logo vai participar de uma exibição de Isso muda tudo, documentário que, a partir do dia 2 de dezembro, poderá ser visto em 52 cinemas italianos. Dirigido pelo marido Avi Lewis, é uma viagem por imagens em várias partes do mundo, inspirado no livro de Naomi Klein que tem como subtítulo "O capitalismo contra o clima". Na Itália, impresso pela editora RCS, ele se intitula "Uma revolução nos salvará. Por que o capitalismo não é sustentável".
Páginas e sequências têm em comum, em essência, uma tese: a perspectiva das possíveis catástrofes com o aquecimento do planeta pode aconselhar o mundo a renunciar às energias poluentes, a recorrer apenas a fontes renováveis, a redesenhar o sistema econômico vigente, reduzindo as desigualdades sociais.
Eis a entrevista.
Que impacto você prevê sobre a Conferência de Paris por parte dos ataques sangrentos do dia 13 de novembro?
Precisamente, não sabemos quais serão. Mas eu sei isto: eles estão tendo um efeito sobre a capacidade da sociedade civil de fazer ouvir a própria voz. Muitos protestos foram proibidos.
O que permitiu essa proibição foi o estado de emergência declarado na França. O governo proibiu as passeatas sobre as mudanças climáticas previstas para o domingo e o dia 12 de dezembro. Como presidente da conferência, Laurent Fabius assinalou que muitos encontros públicos serão confirmados.
Eu acho que eles estão dizendo que as manifestações ao ar livre serão banidas. Serão realizados encontros, concertos. Em relação à cúpula, as questões ainda não decididas são muitas: se as suas decisões serão legalmente vinculantes e exatamente quanto chegarão os financiamentos para os países em desenvolvimento, por exemplo, são pontos que ainda estão sendo negociados. A possibilidade de exercer plena pressão sobre os líderes diminuiu.
Você acha que esse novo dano já foi produzido pelos atentados que custaram a vida de 130 pessoas?
Eu acho que já houve um dano. Temo que, se for feito um mau acordo, os países em desenvolvimento terão menos espaço para criticar o entendimento sem serem vistos como traidores da solidariedade à França. As duas questões, ao contrário, deveriam ser mantidas em separado. Os nossos líderes tomam as suas decisões de uma forma melhor quando sentem uma pressão dos movimentos sociais e, se está em jogo um acordo forte, são postos sob pressão por grandes companhias com muito dinheiro.
Quais?
As empresas dos combustíveis fósseis têm pleno acesso aos políticos que estarão na conferência. Empresas poluidoras os patrocinam. A sociedade civil, que não tem dinheiro, está freada. A voz dos negócios não, porque estes não vão para as ruas: vão para os bastidores. O movimento não vai se render. Encontrará as formas mais criativas para dizer que o acordo deve ser ambicioso e vinculante.
Você vai abrir um desses caminhos?
O nosso filme se torna ainda mais importante porque amplifica vozes que não poderiam ser ouvidas. Chegarão a Paris as pessoas prejudicadas por uma economia que ignora os limites postos pela natureza que falam no documentário.
Em "Isso muda tudo", você diz: "A Grécia está aberta a todas as possibilidades: por causa da crise, é possível vender o solo, das minas de ouro às plataformas de petróleo e não só. É o mesmo que está acontecendo na Espanha e na Itália". Refere-se, em relação à Itália, a algo em particular?
Assim como na Grécia, na Itália houve uma forte pressão para extrair petróleo do fundo do mar, duplicando a sua produção. É o exemplo mais dramático. Depois, penso nos cortes ao apoio para as energias renováveis. A queda dos preços do petróleo talvez diminua a pressão. O objetivo, porém, era esse.
No documentário, você descreve as dores sofridas pelos gregos durante a crise, mas não menciona as culpas da classe política grega que tinha elevado o gasto público improdutivo. Por quê?
Na Grécia, quem paga o preço mais alto da crise não são políticos: são as pessoas comuns. Um documentário é feito de trechos curtos, que não esgotam tudo sobre os temas tratados. No entanto, é verdade que os sacrifícios foram pedidos das pessoas comuns, e o filme faz com que se veja isso.
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"Os ataques podem favorecer um pacto por baixo na Cúpula de Paris." Entrevista com Naomi Klein - Instituto Humanitas Unisinos - IHU