Por: Cesar Sanson | 11 Novembro 2015
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) se reuniu na tarde deste domingo com Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana. No encontro, foram debatidos os impactos sociais e ambientais das duas barragens da Vale que se romperam na última quinta-feira (5). Oficialmente, 28 pessoas estão desaparecidas entre trabalhadores da Samarco e suas terceirizadas, além de moradores de Bento Rodrigues. Mais de 550 desabrigados estão em hotéis. O mar de lama contaminada avança para o oceano e já atingiu a cidade de Governador Valadares.
A reportagem é publicada no portal do MAB, 10-11-2015.
Joceli Andrioli, da coordenação nacional do MAB, agradeceu ao bispo e aos padres presentes a acolhida que a organização teve na cidade, a confiança, o companheirismo e reafirmou os laços históricos que unem Igreja e movimento na região. Apresentou a percepção do MAB de que é preciso aprofundar as denúncias tendo claro que os problemas são complexos e que só serão resolvidos pela força da organização popular.
"É preciso ter claro que o foco tem que ser o esclarecimento máximo da população e o envolvimento dos atingidos em um processo de organização de base que provoque mobilização. É preciso ter agilidade nas ações, mas muita clareza e firmeza no que temos que fazer", afirmou. Elecando outras experiências que o MAB já acompanhou em distintas regiões, inclusive em áreas em que houve conquistas por parte dos atingidos, Joceli apresentou o plano de trabalho que prevê a necessária responsabilização da Vale e da BHP que devem garantir as condições mínimas para que a populações possa viver bem na cidade enquanto a empresa não faz o reassentamento. Outra proposta é que haja uma mesa única em que MAB, Arquidiocese, governos e Vale possam discutir a situação dos atingidos.
Dom Geraldo falou do misto de dor e indignação por ter visto a situação dos vilarejos. Conforme afirmou em outros momentos, disse que nunca viu nada parecido. Durante a discussão, falou da clareza que tem de que é preciso que os atingidos não aceitem processos de negociação isolados, individuais. "É preciso conversar com todos e apresentar uma pauta clara que não será conquistada deixando que cada faça por si", afirmou. Também considera que a só um reassentamento, uma Nova Bento Gonçalves, uma Nova Paracatu poderá possibilitar que as famílias voltem a ter os laços e as condições de vida que tinham antes da tragédia, opinião também compartilhada pelo movimento.
O arcebispo disse que a Arquidiocese de Mariana se associa ao MAB nesta tarefa que deve aliar solidariedade, união e organização coletiva. "A opção da Igreja já foi feita. Na luta entre Golias e Davi, nós ficamos ao lado do menino. A posição tem que ser clara e sem ambiguidades: temos que ficar ao lado dos atingidos e não de quem provocou a tragédia", concluiu.
Foi encaminhado uma série de ações nos próximos dias, entre elas a Caminhada pelo Direito à Vida e o debate público Mariana: uma tragédia anunciada que serão realizados na quinta-feira, 12 de novembro, a partir das 16h reunindo MAB, Igreja, sindicatos, ambientalistas. Também haverá uma missa campal ás 18:30h na Praça da Sé no dia anterior, 11\11, em homenagem a todos as vítimas do desastre.
Para Letícia Faria, membro da coordenação estadual do MAB, somente a organização popular fará a empresa assumir as suas responsabilidades. E a participação da Igreja é fundamental com a sua força de denúncia, de presença, de mobilização e de compromisso com a vida que sempre foi muito forte nesta região, seja com Dom Luciano, seja com o trabalho de Dom Geraldo", afirmou.
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Arcebispo de Mariana convoca todos os atingidos para a organização e a luta popular - Instituto Humanitas Unisinos - IHU