06 Outubro 2015
Uma polêmica sobre a homossexualidade tão clamorosa significa ofuscar a obra-prima feita pelo papa em Cuba e nos EUA, e esmagar o Sínodo sobre temas espinhosos impostos de modo não ritual. Está acontecendo exatamente aquilo que o papa temia: algumas minorias da Igreja tentam hipotecar o Sínodo, polarizando artificialmente as posições, e radicalizar uma discussão que Francisco gostaria que fosse, o máximo possível, unitária.
A reportagem é de Massimo Franco, publicada no jornal Corriere della Sera, 04-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A irritação do Vaticano diante da entrevista ao jornal Corriere della Sera do teólogo polonês Krysztof Charamsa nasce dessa preocupação. Uma polêmica sobre a homossexualidade aberta de forma tão flagrante e controversa, de fato, significa ofuscar a obra-prima diplomática feito pelo pontífice na última viagem a Cuba e aos EUA; e esmagar o Sínodo sobre temas não só espinhosos, mas também impostos de modo, no mínimo, não ritual.
Nos EUA, o papa tinha conseguido ziguezaguear as divisões do episcopado e as divisões entre republicanos e democratas. O resultado foi um fortalecimento objetivo do pontificado, porque a fronteira norte-americana se apresentava como a mais insidiosa: pelas relações com as instituições seculares e pelas com um episcopado católico na sua maioria conservador e hostil ao presidente Barack Obama.
Trata-se de um crédito em termos de legitimação internacional e de recompactamento entre papado e bispos, que também tem o seu peso em um Sínodo precedido por tensões palpáveis justamente sobre as questões da família: do casamento dos divorciados à homossexualidade.
Agora, o risco é que o caso Charamsa acabe forçando Jorge Mario Bergoglio a seguir uma agenda imposta, de alguma forma, de fora e totalmente excêntrica em relação ao seu estilo inclusivo e à possibilidade de pilotar o Sínodo rumo a uma posição compartilhada, sem divisões.
Não é evidente que, no fim, a operação não corra o risco de fracassar. A habilidade de Bergoglio é reconhecida, principalmente, pelos seus adversários. Mas, paradoxalmente, o movimento do teólogo da Congregação para a Doutrina da Fé promete dar força e poder justamente para o componente mais conservador.
Existe uma espécie de "Internacional Tradicionalista" que, há muito tempo, não esconde a sua inquietação diante das aberturas papais sobre essas questões: embora sejam concessões que Francisco faz em termos de tom, não de substância doutrinal.
É o descontentamento refletido pelo livro de nove cardeais "ortodoxos" publicado para coincidir com o Sínodo e bem evidente no confronto sobre gays entre católicos conservadores e progressistas. Mas é difícil que aqueles que gostariam de uma abertura sobre essas questões consigam convencer a grande maioria da Igreja Católica. É mais provável que provoquem uma reação defensiva e uma severa tomada de posição de um pontífice forçado a enfrentar as forças centrífugas das alas extremas que instrumentalizam cada palavra sua.
Será um Sínodo movimentado, porque toca em questões que dividem não só a Igreja, mas também o Ocidente, e que, em continentes como África e Ásia, recebem respostas radicais, com um chamado peremptório para a fidelidade doutrinal. As palavras do teólogo polonês, provavelmente, não ajudaram a sua causa. No máximo, permitirão que a frente conservadora passe para a ofensiva.