02 Setembro 2015
No ar desde novembro de 2014, site 'Refugees Welcome' conecta alemães dispostos a receber refugiados e solicitantes de asilo em suas casas a pessoas em busca de abrigo; mais de 120 foram alojadas e iniciativa foi replicada na Áustria.
A reportagem é de Natalia Quiroga, publicada pela Agência Efe e reproduzida no portal Opera Mundi, 31-08-2015.
Quando Marieke Geiling, uma alemã de28 anos, soube que passaria a maior parte do ano vivendo no Egito, decidiu que teria que alugar o apartamento que compartilhava com seu namorado, Jonas Kakoscheke, em Berlim. Naquele momento, pensou: por que não deixar meu quarto a um refugiado?
Geiling, assim como muitos cidadãos da Alemanha e de toda a Europa, se indignava com a maneira com que seu governo lida com a situação das pessoas refugiadas. Poucos dias depois, Bakari estava instalado em sua casa. O malinês aportou na costa da Itália após uma longa viagem de barco e chegou a viver vários meses nas ruas de cidades alemãs.
Para custear o aluguel do apartamento, Geiling e seu namorado pediram ajuda a amigos e familiares mediante microdoações. Em duas semanas tinham arrecadado o total do aluguel para os próximos nove meses.
A partir daquela experiência, Geiling e Jonas, junto a sua amiga Golbe Ebding, colocaram em marcha em novembro do ano passado o Refugees Welcome (“Refugiados são bem-vindos”, ou Flüchtlinge Willkommen, em alemão), projeto para conectar pessoas refugiadas e solicitantes de asilo com cidadãos alemães dispostos a abrir as portas de suas casas e mudar a situação das pessoas obrigadas a abandonar seus países.
“Queríamos fazer alguma coisa para evitar a estigmatização das pessoas refugiadas que chegam a um novo país e muitas vezes têm que viver amontoadas em lugares a partir dos quais é quase impossível se integrar na comunidade em que estão vivendo”, explicam os jovens por email.
O projeto já conseguiu que 122 pessoas refugiadas compartilhem apartamentos na Alemanha e na Áustria, onde foi criado um projeto similar. Quando uma pessoa com um apartamento disponível o cadastra no site, ela é imediatamente colocada em contato com uma organização de auxílio próxima capaz de encontrar um refugiado ou solicitante de asilo em busca de um lugar para morar na cidade.
Como em todo processo de aluguel, as pessoas se conhecem, conversam e, se tudo vai bem, começam a compartilhar o apartamento. O Refugees Welcome apoia a busca de financiamento para custear a parcela do aluguel da pessoa refugiada, através de microdoações ou do apoio de organizações humanitárias. Em algumas cidades, como Berlim, também há ajuda governamental para cobrir os custos de moradia das pessoas refugiadas.
O êxito tem sido estonteante: mais de mil pessoas ofereceram sua casa e cerca de 1.100 pessoas refugiadas se inscreveram no projeto. Foram criadas petições para replicar a iniciativa nos Estados Unidos e na Austrália.
Geiling explica, porém, que lhes falta capacidade e tempo para gerir todo o processo. “Muita gente apoia o projeto e acha a ideia brilhante, mas o processo é longo. Temos que encontrar pessoas que se ‘encaixem’, e algumas vezes, na hora da mudança, os anfitriões ficam com medo de que acabem tendo de cuidar das pessoas que entram em suas casas”, diz.
Um medo que, reconhece, ela também sentiu quando abriu as portas de sua casa, mas que superou por convicção. “Senti que era meu dever superar minhas próprias limitações e seguir adiante com a ideia de que pessoas com culturas radicalmente distintas podem viver juntas.” A melhor prova disso é que, até agora, todas as experiências facilitadas pelo programa foram positivas e enriquecedoras para ambos os lados. “É uma nova forma de receber pessoas refugiadas em que ganhamos todos”, acredita.
A Alemanha é o país europeu que mais recebe solicitações de asilo. Se o governo alemão tinha calculado que em 2015 chegariam 450 mil pedidos, mais do que o dobro de 2014, as últimas estimativas apontam que pode chegar a 800 mil esse ano. Na maioria dos casos, as solicitações são de pessoas que fogem de conflitos como o da Síria. E ainda que a Alemanha seja, junto com a Suécia, um dos países que mais refugiados acolhe, muitas pessoas acreditam que o sistema não favorece a integração real dos recém-chegados.
Sobrecarregadas, as instituições locais frequentemente alojam os refugiados em escolas e edifícios abandonados ou em cidades onde a população os rechaça, como no ataque contra um centro de acolhimento na cidade de Heidenau, na Alemanha, por parte de grupos neonazistas. Sem a possibilidade de trabalhar e sem contato com a população do novo país, é difícil imaginar como se pode iniciar uma nova vida.
Iniciativas como a do Refugees Welcome ou como a do grupo de pessoas que semana passada recebeu entre flores e aplausos um ônibus com refugiados sírios demonstram que a solidariedade continua sendo uma capacidade humana para a qual não existem fronteiras.
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Jovens criam site para que alemães abriguem refugiados em suas casas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU