26 Agosto 2015
Natacha Araújo Rena, em conferência no IHU. (Fotos: Ricardo Machado/IHU) |
“Depois que o prefeito lançou um decreto proibindo ocupações em frente ao museu gerido por Angela Gutierrez, mais de cinco mil pessoas de biquíni e sunga se reuniram na praça em frente ao local e, em uma cidade conservadora como Belo Horizonte, transformaram a praça na Praia da Estação”, conta Natacha Silva Araújo Rena para o público de mais de 60 pessoas que compareceu nas duas palestras realizadas no Instituto Humanitas Unisinos-IHU. As apresentações compõem a programação do 2º Ciclo de Estudos Metrópoles, Políticas Públicas e Tecnologias de Governo. Territórios, governamento da vida e o comum.
Gentrificação
Ao pensar sobre as cidades, o que mais interessa à Natacha são as biopolíticas de resistência àquilo que ela chama de Estado-Capital, que surge com o neoliberalismo que é uma máquina de fazer o Estado operar ao seu favor. “Os processos de gentrificação vêm dessa lógica. O capitalismo se transforma do capital fabril para o capitalismo imaterial e nesse sentido a metrópole se torna algo fundamental. Isso está relacionado à produção em rede, que se produz junto e coletivamente”, explica Natacha.
As sutilidades da biopolítica
Diante destas novas particularidades da organização social e biopolítica, a Multidão, nos termos de Negri e Hardt, é o que faz frente ao Império. “É óbvio que o capital sobrevive do excedente das relações e interações das pessoas, mas há toda uma potência multitudinária que permite uma nova ordem de comportamento que é a da cooperação das singularidades e não do individualismo fabril”, analisa a professora.
Ao fundo, Natacha à esquerda e Lucas Henrique da Luz, mediador do evento |
Ao lembrar Deleuze e suas sociedades do controle, Natacha chama atenção que a Multidão opera pelo paradigma da peste, que se disciplina e controla, mas não excluiu. “Se considerarmos as dimensões de nossas vidas, somos objetos de controle intenso e ininterrupto, mas somos potentes em nos rebelarmos, por isso nos tornamos todos uma espécie de possível peste, que infecta o sistema desde dentro”, descreve.
Insurgências
"Se controla todo o tempo da vida e do território" |
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Com os crescentes processos de desocupações e “planejamentos secretos” da cidade de Belo Horizonte, Natacha passou a analisar os projetos urbanísticos orçados em bilhões e que estavam sendo acordados entre as empreiteiras e a prefeitura, sem consulta aos moradores. “Passamos a produzir uma série de informativos, pressionar o Ministério Público, projetar slides nas comunidades e explicar para a população o que a prefeitura planejava fazer e passamos a empoderar essas populações que seriam vítimas da gentrificação”, relata orgulhosa Natacha.
Para Natacha, a causa, a luta, é mais importante que a inclinação política de quem reivindica. “O que nos importa é a pauta. O ideal é que se passe por pautas que ultrapassem a ideia de esquerda e direita, e que nos leve a discutir o comum, colocando o Estado para trabalhar para a gente. Tá na hora de pensar os movimentos de forma estratégica, fazendo o governo funcionar para a gente”, pontua.
Assista aqui vídeo da Ocupação do Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte.
Quem é Natacha
Natacha Silva Araújo Rena é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, onde também realizou mestrado em Arquitetura pela mesma universidade. É doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade de São Paulo – PUC-SP. Em seu currículo conta com mais de 37 premiações e é autora de dezenas de artigos científicos. Em 2010, organizou a publicação do livro Territórios aglomerados (Belo Horizonte: Universidade Fumec, 2010).
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As engrenagens da Cidade Máquina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU