Por: Cesar Sanson | 17 Agosto 2015
Adesão aos protestos ainda é alta, e pedido de impeachment se mostra mais uníssono nas ruas. Mas com dificuldades de ampliar base de apoio e renovar mensagem, manifestações podem estar perdendo impacto inicial.
A reportagem é de Jean-Philip Struck e publicada por Deutsche Welle, 16-08-2105.
Manifestantes contra o governo Dilma Rousseff voltaram, neste domingo (16/08), a tomar as ruas do Brasil. Em São Paulo, principal termômetro dos protestos, os organizadores conseguiram reunir 135 mil pessoas na Avenida Paulista, segundo o Datafolha. O número é superior aos 100 mil contabilizados pelo instituto no último protesto, em abril, mas ainda assim bem inferior aos 210 mil de 15 de março.
Para especialistas ouvidos pela DW, o crescimento tímido em relação aos protestos de abril mostra que esse tipo de movimento terá dificuldade de desempenhar um papel determinante para forçar uma eventual saída da presidente.
"O movimento perdeu o impacto inicial e, quando não diminui como em abril, fica estagnado", afirma o cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Para Oliveira, a mensagem radical de muitos organizadores e a contínua falta de foco dos protestos impedem que as manifestações cresçam e ampliem sua base de apoio.
"Muitos manifestantes agora pedem claramente a saída de Dilma, mas ainda assim os organizadores não se acertam sobre quem deve assumir depois. Querem o vice ou novas eleições? Os números ainda são grandes, mas é possível sentir um desgaste na mensagem, que está ficando meramente repetitiva. É possível arriscar que essa será a última manifestação desse tipo“, opina.
Havia expectativa sobre qual seria a força dos manifestantes neste domingo, já que os novos protestos foram convocados em meio a um novo recorde na baixa popularidade de Dilma – que atingiu 8% em agosto – e novidades na Operação Lava Jato, como a prisão de José Dirceu.
Além disso, os principais movimentos que convocaram os protestos – MBL, Vem pra Rua e Revoltados Online – desta vez unificaram seus discursos e resolveram se concentrar em protestar pela saída de Dilma, abandonando manifestações genéricas contra a corrupção e poupando políticos de outros partidos implicados na Lava Jato, como Eduardo Cunha e Renan Calheiros.
Para o cientista social Ernani Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco, a adesão deste domingo mostra que uma eventual saída de Dilma "ainda continua dependendo de uma base legal para a abertura de um processo". Segundo ele, a atual pressão das ruas não deve ser suficiente para impressionar a maioria dos políticos e acelerar um processo de impeachment.
Em outras cidades do Brasil, os números foram inferiores ou semelhantes aos de abril, sem qualquer crescimento. Em março, os protestos reuniram pouco mais de 1 milhão de pessoas pelo país. Em 12 de abril, o número caiu para menos de 700 mil, segundo diferentes estimativas.
Tucanos divididos
Embora não tenha havido surpresas em relação aos números, os protestos deste domingo contaram com algumas novidades, entre elas a participação aberta de membros do PSDB nas manifestações, como os senadores Aécio Neves, José Serra e Aloysio Nunes.
Aécio Neves compareceu à manifestação de Belo Horizonte, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, segundo a PM. Nos protestos anteriores, o tucano, que foi derrotado por Dilma na eleição presidencial de 2014, convocou manifestantes a tomarem as ruas, mas se limitou a apenas a acompanhar os eventos de longe. Desta vez, ele discursou em cima de um trio elétrico e disse que o governo de Dilma “não tem mais autoridade e credibilidade“.
Serra, por sua vez, gravou um vídeo pedindo que os brasileiros comparecessem aos protestos e marcou presença na Avenida Paulista, em São Paulo. Vice na chapa de Aécio, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) compareceu ao protesto de Brasília, que reuniu 25 mil pessoas, e disse que um eventual "impeachment de Dilma está nas mãos do PMDB".
Apesar da adesão de tucanos às manifestações, o partido ainda permanece dividido sobre a saída de Dilma. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já se manifestou contra, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que pretende disputar a eleição de 2018, tem se mantido longe das discussões.
Sai Barbosa, entra Moro
Vários manifestantes em diferentes cidades do país exibiram faixas e até um boneco em apoio ao juiz Sérgio Moro, que conduz os processos relacionados à Operação Lava Jato – indicando que o magistrado paranaense substituiu o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa no imaginário dos protestos.
Os protestos deste domingo ocorreram dias após Dilma ter conseguido algumas importantes vitórias na sua tentativa de estancar a ameaça do impeachment, como a aproximação com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e a derrota do deputado Eduardo Cunha no STF.
Oficialmente, o Planalto classificou as manifestações deste domingo meramente como expressões “dentro da normalidade democrática''. Desta vez, Dilma orientou seus ministros a não falarem sobre os protestos, ao contrário do que ocorreu em março, quando José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) concederam uma entrevista conjunta.
Na época, analistas apontaram que as declarações contraditórias dos dois ministros demonstraram que o Planalto ficou aturdido pelo impacto inicial das manifestações.
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Movimento anti-Dilma mostra força, mas dá sinais de desgaste - Instituto Humanitas Unisinos - IHU