17 Julho 2015
"De setembro a dezembro: em três meses, Francisco vai jogar os jogos fundamentais do seu pontificado." Da viagem a Cuba e aos Estados Unidos, ao Sínodo Ordinário sobre a família, da visita à África negra à abertura do Jubileu da Misericórdia.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 14-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quem indica esse "fio condutor" na iminente agenda papal é Alberto Melloni, professor de História do Cristianismo na Universidade de Modena-Reggio Emilia e da Cátedra Unesco sobre Pluralismo Religioso e Paz da Universidade de Bologna.
"O pontífice quis enquadrar a sua missão nos EUA e na ONU entre duas viagens dedicadas aos indigentes sul-americanos e africanos", explica ao Vatican Insider o diretor da Fundação para as Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha.
Eis a entrevista.
De três países pobres da América Latina (Equador, Bolívia, Paraguai) às áreas mais difíceis do continente negro, passando pela visita a Cuba e aos EUA. Que sentido você identifica nessa "geopolítica das viagens"?
Colocada entre duas visitas aos pobres na América do Sul e na África, a viagem aos Estados Unidos não corre o risco de parecer como uma corrida de corte na iminência das eleições presidenciais com um projeto político. Os discursos sobre as injustiças sociais proferidos na América Latina são tão fortes que esclarecem qual é a visão do papa sobre o tabuleiro internacional. Além disso, a sua resposta no avião sobre o crucifixo dado pelo presidente boliviano Morales é muito importante do ponto de vista do conteúdo doutrinário. Para Francisco, não é um problema o recurso ao marxismo por parte da Teologia da Libertação.
O que une o sentido das viagens ao do Sínodo sobre a família?
As viagens sempre têm um resultado extremamente positivo, porque Francisco tem uma personalidade magnética e de forte aderência. O que está em jogo no Sínodo, no entanto, é totalmente diferente e representa uma ruptura enorme em comparação com o que aconteceu até a sua eleição. Bergoglio ativou um mecanismo sinodal que nunca tinha funcionado. Uma transformação que ainda não foi completada, mas o papa já obteve uma vitória indiscutível, porque, finalmente, no Sínodo, confrontam-se posições diferentes e há uma discussão de verdade. Na ideia de Francisco, não existe uma ruptura entre duas Igrejas diferentes. Para ele, a Igreja é uma só, e o Sínodo é o lugar em que se confrontam as diversas sensibilidades e podem se confrontar posições distantes entre si.
O que você prevê?
A chamada oposição dos conservadores defendia que não havia nada a discutir no Sínodo, mas só aderir a posições imutáveis. Um ponto que hoje está totalmente superado. No Sínodo, de fato, podem-se abordar livremente as questões sobre a família. E isso representa um evidente sucesso para o papa.
Em que o Ano Santo extraordinário dedicado à misericórdia é inovador?
Se a justiça é uma alternativa à misericórdia, então não é a justiça cristã. Por isso, Francisco derruba aquela que foi durante séculos a doutrina das indulgências. Na bula de proclamação do Jubileu, o pontífice se refere à indulgência de Deus. Administrá-la não é mais prerrogativa do papa e da Igreja. O caminho vai de todos em direção a todos.