14 Julho 2015
O papa concluiu a sua turnê pela América Latina. Uma viagem em três etapas que, primeiro, o levou ao Equador e à Bolívia, e que já fez história pela mensagem política lançada por Bergoglio: uma forte denúncia contra os males do capitalismo e do lucro, "um sistema que já não se aguenta" e que requer "uma mudança estrutural". Um ato de contrição pelos "crimes do colonialismo" e pelas culpas da Igreja Católica na repressão dos povos indígenas. Uma acusação também contra o neocolonialismo e as suas novas fórmulas "como alguns tratados denominados 'de livre comércio' e a imposição de medidas de 'austeridade' que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres".
A reportagem é de Geraldina Colotti, publicada no jornal Il Manifesto, 12-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O colonialismo – disse Bergoglio – "novo e velho, reduz os países pobres a meros provedores de matérias-primas e de trabalho barato. Mas nenhum poder fático ou constituído tem o direito de privar os países pobres do pleno exercício da sua soberania".
Um papa que gosta do sonho da Pátria Grande, caro ao libertador Simón Bolívar e agora retomado pelos governos que se referem ao socialismo do século XXI: "O papa fala daquilo que aplicamos no Equador", declarou o ministro das Relações Exteriores equatoriano, Ricardo Patiño.
O presidente boliviano, Evo Morales, reafirmou a consonância entre o discurso de Bergoglio e as suas políticas. E, da Venezuela, muitos comentaristas lembraram os discursos do ex-presidente Hugo Chàvez, semelhantes aos do papa.
Um papa que escolheu o diálogo direto com os movimentos. A eles, ele se dirigiu em Santa Cruz, na Bolívia, no segundo encontro depois daquele organizado no Vaticano. E a eles – desejou – os governos deveriam se dirigir para "colocar a economia a serviço dos povos e para se opor a uma economia da exclusão e da desigualdade: não é uma utopia – afirmou Bergoglio –, os bens disponíveis são suficientes. O problema é o sistema".
Um discurso que Horacio Cartes não pode receber, o presidente neoliberal do Paraguai. Desde o dia 22 de junho de 2012, quando o legítimo presidente Fernando Lugo – ex-"bispo dos pobres", agora senador pelo partido de esquerda Frente Guasú – foi deposto com um golpe parlamentar, pobreza, desigualdade, repressão e corrupção não pararam de aumentar. Há mais de dez dias, um grupo de trabalhadores se crucificou na praça para atrair a atenção do papa sobre a ausência de direitos.
Com o fim da visita do papa, os observadores internacionais que acompanham o caso do massacre de Curuguaty fizeram uma coletiva de imprensa da qual participou também o bispo Melanio Medina. Eles pediram a nulidade do processos contra os agricultores, previsto para o próximo dia 22 de julho.
Eles também pediram que Bergoglio se esforce pela recuperação das terras públicas que permanecem nas mãos dos latifundiários. No dia 15 de junho de 2012, em Curuguaty (no leste do país), um grupo de policiais atacou os agricultores sem-terra que tentavam um latifúndio pertencente a um amigo do ex-ditador Alfredo Stroessner. Morreram 11 camponeses e seis policiais. O massacre serviu de pretexto para desencadear o golpe parlamentar contra Lugo, acusado de "inadimplência".
Bergoglio – que condenou o atentado no Egito – dedicou o seu discurso às "heroicas mulheres do Paraguai". Em uma audiência privada, ele se encontrou com as filhas de Esther Ballestrino, uma militante paraguaia que, depois de sofrer a repressão da ditadura de Higinio Mirínigo, em 1947, acabou sendo jogada no mar por um dos voos da morte na Argentina, depois de ter sido torturada nos campos dos militares depois do golpe de 1976.
Ballestrino, que teve um papel importante na formação eclesiástica do jesuíta Bergoglio, também foi uma das fundadoras da associação argentina Mães da Praça de Maio.
De 1954 a 1989, o Paraguai esteve sob as garras da feroz ditadura de Stroessner, eixo do Plano Condor, a rede criminosa liderada pela CIA que atuou nos anos 1970 -1980 para permitir que as ditaduras latino-americanas aniquilassem os opositores onde quer que se encontrassem.
Martín Almada, conhecido defensor dos direitos humanos que fez com que se descobrisse um dos arquivos mais importantes do Condor, pediu que o papa se esforce pela abertura dos arquivos do Vaticano.
Mais de 2,5 milhões de pessoas foram ver Bergoglio: especialmente da Argentina, do sul do Brasil, do Uruguai e do Chile.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Bergoglio homenageia as mulheres e lembra as vítimas do Condor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU