Por: Jonas | 09 Julho 2015
Nesta manhã, dia 6 de julho de 2015, ocorreu uma coletiva de imprensa para a apresentação do II Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Após as saudações e das boas-vindas a Bolívia, feitas pelo vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, Alfredo Rada, foi informado aos jornalistas que estão sendo aguardadas 1500 pessoas, 900 estrangeiros e 600 bolivianos. Rada também os convidou para a abertura do encontro, que será no dia 7 de julho, às 15 horas, no Coliseu Municipal Santa Rosita.
Abaixo, algumas declarações realizadas por lideranças dos movimentos sociais e por convidados para o encontro na Bolívia, publicadas por Religión Digital, 08-07-2015. A tradução é do Cepat.
Eis as declarações.
Declarações de Juan Grabois – Confederação da Economia Popular da Argentina. Membro do Comitê Organizador do Encontro
Nós, a partir das organizações populares, estamos muito alegres de que ele (o Papa) reconheça a importância das organizações que surgem a partir da base, a partir das organizações comunitárias, os camponeses, os povos originários, os trabalhadores em geral, mas, principalmente, os mais precarizados, o que não possuem direitos trabalhistas, os que nem sequer podem se sindicalizar, as famílias que não tem um teto, vilas e assentamentos de bairros precários, que manualmente e sem permissão foram construindo suas próprias moradias.
Que de alguma maneira possam encontrar eco e ressonância para que se dê prioridade a suas reivindicações, para que tenham o protagonismo que merecem, no marco de um processo de mudança que resolva não apenas os problemas pontuais de terra, teto e trabalho (que são a essência deste encontro), mas que sejam propostas alternativas humanas, comunitárias e solidárias, [em contraposição] à globalização capitalista excludente, que hoje está destruindo gerações inteiras de irmãos e irmãs e que de alguma maneira está destruindo a nossa Mãe Terra.
Obrigado a todo o Estado Plurinacional da Bolívia e a Evo Morales, único dirigente social e indígena que exerce o poder político em um Estado, neste momento. Será um encontro muito humilde, muito sóbrio, foram aceitas todas as inscrições das organizações latino-americanas que solicitaram.
Declarações de João Pedro Stédile – Coordenação Nacional do Movimento de Trabalhadores Sem Terra do Brasil – CLOC Via Campesina
Estou muito feliz de estar aqui conversando com vocês e com o povo da Bolívia. Digo-lhes que do Brasil estamos vindo com uns 250 delegados de todos os movimentos populares dos três setores sociais que são o tema de fundo do encontro: os que lutam pela terra, pelo trabalho e por uma moradia digna.
Agradecemos pela acolhida e o carinho que é característico do povo boliviano. Estamos felizes de participar deste encontro com o Papa Francisco, que de certa forma é a continuidade do que já fizemos em menor grau no ano passado, em outubro, no Vaticano, quando o Papa nos convidou e lá estivemos com 150 delegados do mundo todo. Estamos muito felizes de compartilhar outro momento entre nós e com o Papa.
Estamos felizes porque nestes momentos de crise, a humanidade carece de novas ideias e de novos líderes, e o Papa Francisco se transformou em um líder mundial, porque suas ideias e a sua coragem tem sido todos os dias um testemunho das mudanças que necessitamos no mundo e em nossos países. E deu um exemplo concreto com sua vida, não é só discurso as mudanças que está incentivando dentro da Igreja.
Por isso, nós que militamos nos movimentos populares, reconhecemos em seu testemunho um companheiro. O Papa Francisco já não é apenas um líder da Igreja católica, nem sequer apenas dos cristãos, mas se transformou em um líder daqueles que querem uma sociedade mais justa e igualitária.
Também acredito que é importante destacar que virão a este encontro companheiras e companheiros de várias crenças e o Papa nunca nos perguntou que qual a religião que temos, porque ele sabe que todos nós somos iguais diante dos olhos de Deus. Não importa a cultura que temos por parte de nossos ancestrais, nem o que cultivamos, o mais importante é considerar todos os seres humanos iguais e com os mesmos direitos, para ter as mesmas oportunidades.
Portanto, acreditamos que este encontro em Santa Cruz será histórico, e será um passo a mais para essa grande aliança dos povos, para que possamos impulsionar as mudanças urgentes que a humanidade necessita. E para isso ele também nos deu uma palavra de ânimo, que só há um caminho, que é aquele em que os próprios povos são os protagonistas. A gente tem que se organizar para lutar e resolver os problemas.
Como dizemos no Brasil, “quem não se organiza, Deus não ajuda”. Então, procuremos nos organizar para lutar e garantir a bênção do Papa Francisco e de Deus.
Declarações do Cardeal Peter Turkson – Presidente do Conselho Pontifício de Justiça e Paz, designado pelo Papa para acompanhar o Encontro
Indivíduos, famílias e comunidades inteiras vivem precariamente, geralmente sob um grande sofrimento às margens da sociedade; e não são apenas os chamados “pobres” ou subdesenvolvidos. Lamentavelmente, a maioria dos países parece estar contaminada com a cultura do descarte, experimentando um crescimento da população marginalizada e rejeitada, em especial entre os jovens e anciãos.
Frente aos desafios que a globalização e a indiferença nos apresentam , convoca-se tanto a igreja como ao mundo inteiro para escutar o clamor de justiça e responder a este chamado com todas as nossas forças.
Na Evangelii Gaudium e na Laudato Si’, reconhece-se o grito dos pobres e da terra. Não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma só e complexa crise social-ambiental. As linhas para a solução requerem uma aproximação integral para combater a pobreza, para resolver a dignidade dos excluídos e, simultaneamente, para cuidar da natureza.
A igreja, assim como a sociedade, deve aprender a incluir os excluídos. Isto significa chegar até aqueles que se encontram na periferia e assim receber os marginalizados como membros absolutos de nossas comunidades, economia e sociedades. Porém, o que resulta essencial é escutar, principalmente com humildade, não apenas os sofrimentos, mas também as expectativas, experiências e propostas que os próprios marginalizados possuem.
Eles devem ser os protagonistas de suas próprias vidas e não apenas os receptores passivos da caridade ou planos de outros. Tem que ser os protagonistas das mudanças econômicas, sociais, culturais e outras que resultam imprescindíveis.
Para isso, estão organizados em movimentos e agrupamentos populares, e representantes destas organizações pelo mundo estarão reunindo neste evento, nos próximos três dias, para debater cinco temas chaves: os recentes desafios em torno da moradia, trabalho, terra, violência e meio ambiente.
A igreja pretende assumir as necessidades e aspirações dos movimentos populares como próprias e assim se unir com aqueles que, a partir de diferentes iniciativas, estão se esforçando para gerar as mudanças necessárias para conseguir um mundo mais justo.
Paralelamente, diversas organizações populares sentem um grande desejo de se reunir com a igreja e se somar na busca de mudanças profundas em nível local, regional e global.
Este II Encontro dos Movimentos Sociais e Populares promete ser um grande diálogo que perpetuará no tempo a comunicação, cooperação e a coordenação entre os próprios movimentos de base e entre estes e a igreja, em todos os níveis.
Declarações de Charo Castelló – Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos (50 países de quatro continentes)
Trago solidariedade para todos os trabalhadores da Bolívia e para todos os participantes deste Encontro. Queremos ser partícipes do diagnóstico da situação que estamos vivendo, não queremos que ela nos seja contada. Queremos ver a realidade, mas não com frieza, mas, sim, a partir das pessoas que sofrem. Também com os olhos e a visão do Evangelho e as contribuições que o Papa nos faz. Uma visão que vai além de uma simples mudança de sociedade. Tem a ver com a humanidade, com a justiça, com a solidariedade, com a fraternidade. Isso é o que queremos viver e compartilhar nestes dias.
Também não queremos que nos contem as propostas, também queremos ser protagonistas das propostas. Talvez não sejamos técnicos, mas temos critérios, critérios de humanidade, e com todo mundo queremos fazer nossas propostas, que possuem um caráter político, pois fazem parte das pessoas, das organizações e da vida dos povos.
Movimentos Populares se preparam para a abertura da tarde com uma apresentação artística
A poucas horas da inauguração oficial do II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, do qual participarão, entre outros, o cardeal Peter Turkson, do Pontifício Conselho de Justiça e Paz, e o presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, Evo Morales, a manhã em Santa Cruz de la Sierra começou com uma apresentação artística muito impactante, que destacou como o poder econômico ligado a todos os níveis segue oprimindo os mais fracos do planeta que, no entanto, não se rendem, mas, ao contrário, organizam-se, resistem e lutam por sua própria dignidade. As delegações participantes desfilaram com suas bandeiras e com muito entusiasmo.
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Movimentos Populares querem “ver a realidade a partir dos que sofrem” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU