15 Junho 2015
A iminente mensagem do papa sobre o meio ambiente poderá ser um divisor de águas nos esforços para se alcançar um acordo que busque limitar o aquecimento global, disse uma alta autoridade da ONU. Christiana Figueres diz que Papa Francisco irá sublinhar a obrigação moral de proteger o planeta tendo em vista as gerações futuras.
A reportagem é de Ed King, publicada por RTCC – Responding to Climate Change, 12-06-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Falando à margem das negociações da ONU em Bonn, na Alemanha, Christiana Figueres disse que encíclica do Papa Francisco, a ser publicada no próximo dia 18, causará provavelmente um “grande impacto”.
Autoridades vaticanas já indicaram que esta carta, raramente emitida a todos os católicos, incidirá sobre o imperativo moral do enfrentamento das mudanças climáticas, da fome e da pobreza.
Um recente evento realizado por duas das principais instituições científicas vaticanas concluiu com a advertência de que continuar com a queima de combustíveis fósseis era um “risco existencial” aos mais pobres do mundo.
Figueres, que se encontrou com o papa no ano passado no Vaticano para uma audiência privada, não tem dúvidas quanto ao compromisso do líder religioso em usar a sua autoridade para fazer a diferença.
“Ele está pessoalmente empenhado como nenhum outro papa antes dele. Ele está profundamente apaixonado pelo assunto e se mostra eloquente quando fala a respeito; e esta encíclica irá comunicar isso”, disse ela.
“Ela vai falar ao imperativo moral de enfrentamento das mudanças climáticas em tempo hábil, a fim de proteger os mais vulneráveis”.
A combinação de uma chamada moral para a ação com o argumento econômico para se reduzir as emissões de gases de efeito de estufa será uma “força imparável” diante do pacto climático deste ano da ONU, acrescentou.
Os impactos da mensagem do papa já estão sendo sentidos nos EUA, onde uma onda de políticos de direita e grupos conservadores (“thinktanks”) expressaram indignação com a intervenção papal.
O papa tem programado trazer esta sua mensagem sobre o clima ao Congresso americano ainda este ano, e é provável que a sua chamada para a ação vá deixar muitos legisladores católicos no Capitólio machucados.
O Heartland Institute disse que Francisco estava fazendo “um desserviço ao seu rebanho” ao entrar na campanha dos ambientalistas, enquanto que o esperançoso Rick Santorum, da Casa Branca, disse que ele deveria ficar somente no campo da teologia.
Os principais bispos católicos do país já devem ter recebido um comunicado via email do Vaticano dizendo o que esperar da mensagem papal e como comunicá-la às suas congregações.
Na quarta-feira Dom Thomas Wenski, da Arquidiocese de Miami, disse NPR rádio que Francisco gostaria de sublinhar a necessidade de os seres humanos serem “bons administradores” da Terra e de preservá-la para as gerações futuras.
“Claro, o papa não é um cientista, mas também não é um político. Ele é um pastor e um mestre, e portanto ele vai abordar a questão a partir dessa perspectiva”, disse ele.
“E estas mudanças climáticas tocam os seres humanos, tocam em questões relativas ao florescimento, à prosperidade humana. Portanto, estamos diante de uma questão moral”.
Wenski acrescentou: “Acho que o papa não está partindo do nada. Temos de lembrar que o Papa Bento XVI foi chamado de ‘o papa verde’ porque foi ele quem colocou painéis solares no telhado da Sala Paulo VI”.
“Acho que agora, com esta nova encíclica, talvez o Papa Francisco fique conhecido como ‘o papa mais verde’”, concluiu.
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Encíclica papal deve causar “grande impacto”, diz autoridade ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU