02 Junho 2015
A Igreja Católica foi acusada de pressionar uma de suas figuras mais antigas a censurar trechos de suas memórias relativas a um escândalo de abuso sexual.
O Cardeal Cormac Murphy-O’Connor, ex-líder da Igreja na Inglaterra e País de Gales, teria sido forçado a cortar partes de seu novo livro referentes à crise em seu ministério no qual ele falhou em relatar à polícia um sacerdote pedófilo, deixando-o continuar trabalhando na diocese. Mais tarde, o sacerdote, Michael Hill, seria preso duas vezes por abusar sexualmente de jovens.
A reportagem é de Ed Salter e Haroon Siddique, publicada no jornal The Guardian, 01-06-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Entre as seções que teriam sido cortadas está uma em que Murphy-O’Connor defende o direito de proteger os sacerdotes quando eles erram. Murphy-O’Connor, enquanto bispo da Diocese de Arundel e Brighton, localizada no sul da Inglaterra, transferiu Hill para a capelania no aeroporto de Gatwick apesar de ter sido alertado de que este representava um perigo aos jovens. O cardeal enfrentou pedidos de renúncia durante o escândalo.
Na versão publicada do livro “An English Spring”, um trecho sobre o dever para com um membro do clero teria sido substituído por uma lamentação sobre a falha do bispo em priorizar as vítimas de abuso em vez dos sacerdotes.
Pessoas próximas ao cardeal, que não quiseram ter o seu nome identificado, disseram ao The Guardian que ele fora obrigado a censurar a sua obra. “Pediram a alguns de nós, amigos do cardeal, para ler o texto originalmente elaborado. Compreendo que autoridades da Igreja pressionaram o cardeal para excisar partes do capítulo sobre Michael Hill além de outros trechos do livro”.
A fonte afirmou que o editor oficial de Murphy-O’Connor insistiu em ler os originais e fazer os cortes. “Ele [Murphy O’Connor] é um importante príncipe da Igreja; ele deveria simplesmente seguir adiante e ignorar tudo isso”, disse a fonte consultada.
O editor de Murphy-O’Connor não quis comentar estas afirmações. Em outras partes que foram cortadas do livro o cardeal acusa a Igreja de não estar preparada para acabar com a pedofilia sistemática.
Perguntado se alguma autoridade eclesiástica havia lhe pressionado no processo de publicação de seu livro, Murphy-O’Connor disse: “É melhor eu não responder a essa pergunta. Tudo o que escrevi é o que eu quis escrever. Qualquer ajuda que tive na escrita do livro foi puramente pessoal”.
A Igreja Católica na Inglaterra e o País de Gales não quiseram comentar.
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Memórias do Cardeal Cormac Murphy-O’Connor “censuradas” pela Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU