14 Mai 2015
A onda contemporânea da tecnologia digital mexe e transforma nossas vidas, quer a reconheçamos ou não. O livro Connected toward Communion: The Church and Social Communication in the Digital Age (Liturgical Press) argumenta convincentemente que a Igreja deve manter um foco sobre os desafios da era da informação, particularmente quando se trata da formação ministerial.
A análise é de Melissa Jones, professora da Brandman University, nos Estados Unidos. O texto foi publicado no sítio National Catholic Register, 06-05-2015. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis o texto.
Temos observado como o uso de um simples hashtag pode inflamar corações. Pense na influência de #JeSuisCharlie, #ICantBreathe e #ArabSpring. O poder da comunicação digital é uma promessa e uma ameaça, uma maravilha tecnológica e uma bomba-relógio.
No livro Connected toward Communion: The Church and Social Communication in the Digital Age [Conectado à comunhão: A Igreja e Comunicação Social na Era Digital, em tradução livre], a autora Daniella Zsupan-Jerome reconhece a natureza ilimitada da Internet. "Contribuições variam livremente do socialmente consciente Ushahidi ao lolcat, de comentários de especialistas a memes, de palavras de afirmação a comentários infames. Não é mais plausível imaginar um código de ética e conduta que possa controlar tudo isso".
A tecnologia interativa da Web 2.0 permitiu uma fusão dos papéis de autor e público, e qualquer esperança de civilidade ou comunidade deve vir a partir de dentro dela. A Igreja Católica está consciente da necessidade de políticas com relação aos meios de comunicação. Os líderes da Igreja, especialmente a partir do Concílio Vaticano II, têm se confrontado com os problemas e as potencialidades do que eles chamam de "comunicação social".
Nesse livro, Zsupan-Jerome define a teologia pastoral católica em diálogo com a cultura digital. A autora compilou documentos da Igreja que são significativos e que se relacionam com a comunicação social, analisando-os em comparação à formação ministerial contemporânea.
Ela afirma que a Igreja precisa treinar os sacerdotes e ministros leigos para que estes possam lidar com questões pertinentes à moralidade e à ética: "ser, conhecer e estar juntos nesta era digital".
Ela começa com uma análise do referencial decreto conciliar Inter Mirifica, do Vaticano II (1963), e move-se através de documentos posteriores, incluindo Communio et Progressio (1971), que ela chama de "a obra magna sobre a comunicação social" da Igreja. No entanto, ela também aponta que o próprio tema deste trabalho de 1971 tornou-se rapidamente ultrapassado em muitas das áreas abordadas.
O documento Communio et Progressio expressou a esperança de que as mídias de massa poderiam ajudar-nos a passar da conexão para a comunhão. A autora explica que esse texto baseia-se na ideia de "Cristo, o Comunicador Perfeito, que nos ensina a centralidade absoluta do ser humano quando se trata dos meios de comunicação e práticas de comunicação".
Ela observa que, embora as ferramentas de comunicação de massa mudaram dramaticamente desde 1971, a necessidade de um diálogo entre a fé e a mídia continua.
Uma das discussões mais interessantes do livro é a interpretação de Zsupan-Jerome do documento "Orientações sobre a formação de futuros sacerdotes para o uso dos instrumentos de comunicação social" de 1986. Ao criar esse documento, a Congregação para a Educação Católica também consultou o Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais.
Essas orientações tinham como foco a formação sacerdotal, mas Zsupan-Jerome acredita que elas também são importantes para a formação ministerial leiga. Esse documento é o que existe de mais próximo ao seu foco pretendido de um diálogo entre os escritos da Igreja sobre a comunicação social e a formação ministerial.
O guia aborda três níveis de formação:
1. A formação da consciência e do pensamento crítico de todos os leitores, telespectadores e ouvintes de comunicação de massa;
2. Formação pastoral para os sacerdotes (e ministros leigos);
3. Formação especializada para aqueles que vão trabalhar ou ensinar sobre as mídias de massa.
Zsupan-Jerome concentra-se no segundo nível, a formação pastoral. Notando que o universo da mídia social é vasta, fluida e participativa, ela afirma que os sacerdotes e ministros leigos devem ensinar a literacia mediática, além de participar com os alunos, porque o fluxo das mídias sociais muda constantemente. Ela defende que os sacerdotes e leigos devem servir como guias especializados, além de promover uma comunidade que compartilha boas práticas, reconhecendo que a comunidade inteira, incluindo seus ministros, estão "descobrindo isso juntos".
A autora expõe os textos fundamentais em matéria de tecnologias de comunicação de massa e conduz o leitor através de seus aspectos mais interessantes. Está claro desde o início que ela não pretende expandir o tema para além das linhas doutrinárias. No entanto, esse é um livro criativo e valioso.
Zsupan-Jerome demonstra a utilidade do que já foi escrito a nível magisterial e defende para a utilização desses documentos para formar agentes pastorais para a era digital - pastores que possam ensinar a literacia digital e ajudar a criar e manter comunidades digitais fiéis a Cristo.
A onda contemporânea da tecnologia digital torce e transforma nossas vidas, quer a reconheçamos ou não. Esse livro argumenta convincentemente que a Igreja deve manter um foco sobre os desafios da era da informação, particularmente quando se trata da formação ministerial.
Como escreve Zsupan-Jerome: "Ao invés de incorporar tecnologias digitais ao ministério, o maior desafio é perceber e compreender que o ministério pastoral agora está embutido em uma nova cultura, moldada profundamente pela comunicação digital".
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Livro advoga por formação de sacerdotes e leigos para enfrentar o desafio das mídias sociais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU