Por: Jonas | 28 Abril 2015
Um dia para estudar, valorizar e se posicionar politicamente ao lado de indígenas e negros paranaenses. A segunda etapa do curso Lutas Populares no Paraná, ocorrida no último sábado, dia 25 de abril, cuja temática foi “Lutas e resistências dos indígenas e negros no Paraná”, organizada pelo Centro Jesuíta de Cidadania e Ação Social de Curitiba (CJCIAS/CEPAT), em parceria com o Centro de Formação Milton Santos-Lorenzo Milani e o apoio do Instituto Humanitas Unisinos, contou com a participação de representantes de vários movimentos sociais, sindicatos e professores. Os assessores foram Éder da Silva Novak, membro e pesquisador no Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História da Universidade Estadual de Maringá (UEM), que discorreu sobre a resistência indígena no Paraná, e Cassius Marcelus Cruz, estudioso da história e cultura africana e afro-brasileira, vinculado ao Laboratório de Pesquisa e Extensão com Comunidades Tradicionais Afroamericanas do Centro de Estudos Rurais LAPA/CERES, que abordou a temática da resistência negra paranaense.
O relato é de Jonas Jorge da Silva, membro da equipe do CJCIAS/CEPAT.
O encontro entre as duas temáticas evidenciou o quanto, até o presente, índios e negros são estruturalmente mantidos excluídos do gozo de todos os direitos sociais, civis e políticos, que reza a Constituição Federal, apesar de toda uma história de lutas e resistências.
Para Novak, a luta para viver em seu território sempre foi uma das principais marcas da resistência indígena paranaense, o que não é diferente do restante do país, ao passo que, entre outros elementos, Cruz considera que os negros, além de todas as outras frentes de lutas nas quais teve que se engajar, precisaram se mobilizar para mostrar que existiam em solo paranaense, diante de uma falsa propaganda oficial de um ‘Paraná branco’.
Em um momento em que muitos estudos acadêmicos buscam valorizar a diversidade cultural e a heterogeneidade, enxergar um Paraná de várias cores pode fortalecer a luta de todos em favor de relações sociais políticas e econômicas mais horizontais, menos centralizadoras e com um potencial de transformação sem igual.
Nesse sentido, uma correta abordagem da história dos indígenas e negros no Paraná é fundamental. Primeiramente, como bem frisaram os assessores, não se deve vitimizá-los. Tanto os povos indígenas, que aqui estavam muito antes dos colonizadores, como os negros, provenientes do continente africano, que foram ainda mais escravizados nessas terras, não tiveram um papel passivo, não aceitaram a dominação e a submissão como algo ‘normal’. Houve muita resistência e em determinados momentos acordos que visavam uma estratégia de sobrevivência desses sujeitos, dentro do contexto histórico que estavam inseridos. Portanto, em nada ajuda uma releitura da história desses sujeitos, se esta não estiver relacionada à perspectiva da resistência, da luta incessante que sempre existiu e ainda existe para vencer as gigantescas dificuldades que lhes foram impostas pela cultura ocidental, que em seu golpe mais cruel chegou ao nível da aniquilação do outro, do diferente.
Em relação aos indígenas, por exemplo, Novak fez questão de diferenciar o que se chama de política indigenista, que na maioria das vezes procura tutelar os povos indígenas, de política indígena, que diz respeito diretamente aos interesses dos próprios povos indígenas, constituindo-se uma política deles e para eles. Muitas vezes, determinados órgãos públicos ou organizações não governamentais não dão conta de compreender profundamente os anseios e a dinâmica cultural dos povos indígenas, mas, mesmo assim, não abrem mão de propor medidas e intervenções na vida de tais populações.
Novak apresentou vários elementos sobre a história dos povos Kaingang, Guarani e Xetá, que ocupavam estas terras paranaenses muito antes dos colonizadores europeus, desfazendo mitos e preconceitos que ainda hoje estão presentes na sociedade. Para ele, o chamado vazio demográfico de outrora, que na verdade nunca existiu, hoje, sim, pode ser considerado uma realidade, pois atualmente as terras paranaenses, em sua maioria, foram tomadas pelas grandes monoculturas, ficando concentradas nas mãos de poucas famílias, o que gerou a concentração da população paranaense nas cidades.
Infelizmente, não diferente, a história contada ou não contada sobre os negros paranaenses, em grande medida, ignora as estratégias adotadas pelos escravizados, libertos e seus descendentes no período escravista e pós-abolição. Cruz fez menção à formação de um verdadeiro enclave negro e caboclo na região paranaense, em um processo que chama de acamponesamento negro, que se insere no leque das resistências e lutas populares no Paraná. Como um dos exemplos, citou o caso da participação dos negros na Guerra do Contestado. Para sobreviver em uma realidade que sempre lhes foi tão hostil, negros e negras tiveram que tecer a sua existência no viés da resistência, da luta e da superação. Tais características trouxe uma grande contribuição para as lutas populares empreendidas em solo paranaense.
Não basta olhar para a história do Paraná, é preciso enxergar bem essa história. Nem sempre aquele que pensa que vê, enxerga. Há um Paraná muito mais colorido, aguerrido e em ebulição do que o dito cidadão comum pode imaginar. E é este o Paraná que um dia ainda pode dar certo.
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Resistência indígena e negra. Um Paraná mais colorido e aguerrido do que se imagina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU