13 Abril 2015
Bruno Cava Rodrigues
RELATO EM PRIMEIRA MÃO
Sobre a manifestação que terminou há pouco, 14:00, em Copacabana, Rio de Janeiro:
1) Muita gente, tomando a inteira largura da Av. Atlântica, talvez 10 mil pessoas. Clima leve e alegre, "seleção", contagiando pessoas na praia e nos prédios. Diversidade social e racial, pessoas de bairros distantes e cidades vizinhas.
2) Predomínio do verde e amarelo, bandeiras e bandanas do Brasil, hino nacional pontuando as falas.
3) No percurso, os pontos de nucleação foram dois carros de som.
4) O primeiro, do Vem Pra Rua, concentrou a grande maioria (90%?), com trilha sonora pop nacional anos 90 e um discurso "Viva o Brasil! Viva a Democracia!"; falas sobre corrupção, LavaJato, CPI do BNDES, pizza do Tóffoli, futuro do país, mais democracia, país quebrado, mentira eleitoral.
5) O segundo, com discurso mais marcado de impeachment, agregando a linha da intervenção militar e do anticomunismo (antibolivarianismo, contra Cuba etc), mais punitivista, agradecendo à PF e o juiz Moro.
6) Em vários momentos, tensões pulverizadas pela manifestação entre essas duas tendências. Entre a minoria da intervenção, há três subtendências: a maior delas representada pelo discurso da restauração da ordem que exige "intervenção constitucional" e "intervenção institucional"; a segunda, minúscula, pela volta da ditadura, e finalmente existe uma terceira de caricatos, pessoas fantasiadas, tinha até um jipe da 2ª guerra, que mais parecia carro alegórico.
7) O que une todos os grupos é a pauta anticorrupção, o "Fora Dilma" e o "Fora PT", onipresentes. O vermelho é associado ao petismo, mas fora ele é possível ir em qualquer outra combinação. Os efeitos da crise econômica ainda não encontraram formulação diretamente na rua (tudo entra na rubrica "corrupção").
8) Um momento alto do protesto foi quando o VemPraRua abriu espaço pra um rapper da zona norte, que fez um flow respondendo às acusações que só tinha coxinha, pediu respeito à favela e disse que a luta por um Brasil melhor é de todos. Terminou com "Fora Dilma", "Fora PT", sob ovação.
9) A manifestação é disputável, por óbvio, com antropofagia, sem bater de frente com os signos.
10) Essa manifestação foi ocupada por vários grupos, nas margens dos carros de som, minoritariamente. Enxerguei, entre outras, mensagens pela educação física na escola, pelos demitidos da Varig, sobre o escândalo da Comperj, críticas ao prefeito e governador e, também, referências ao poder dos trabalhadores e pequenos atos de subversão da pauta.
Pablo Ortellado
Balanço rápido do campo hoje na Paulista. A manifestação foi um pouco, mas não muito menor do que a do dia 15 de março. A composição social me pareceu um pouco mais heterogênea também, com uma presença um pouco maior da chamada "classe média baixa". Outra vez, enquanto o público parecia ser predominantemente "despolitizado", havia muita tolerância com posições extremistas de direita: skinheads, regionalistas paulistas, TFP, integralistas e apologistas do golpe militar.
Apesar disso, o entusiasmo parecia maior com os grupos liberais e pragmáticos de direita. Interessante mesmo foi o survey que aplicamos lá, um trabalho em parceria com a Esther Solano e a Lucia Nader, a participação ativa dos estudantes de Relações Internacionais da Unifesp e a gentil colaboração da MATILHA CULTURAL que nos cedeu espaço para reunião. Amanhã ou depois, assim que tabularmos o resultados, vamos divulgá-los. Adianto que são interessantíssimos!
Marcelo Castañeda
12 de abril foi menor do que 15 de março. E não se trata de um #AceitaDilmaVez como tem sido entoado hoje pelos governistas. O que chama atenção é que a indignação está aberta muito além da direita e do conservadorismo, dos interesses da Rede Globo, e de braços golpistas ou do impeachment, como parece ser a preocupação do governismo.
O que importa é que existe espaço para construir alternativas na crise cujos efeitos ainda serão muito sentidos. É momento não só de disputar sentidos, mas de criar sentidos de mobilização das estruturas que nos dominam, indo além do inócuo "Fora Dilma" e buscando influênciar nas decisões que nos afetam em diferentes áreas e escalas. E para isso, trata-se de mobilizar de forma permanente nas redes e ruas.
Para mim, o 12 de abril devolve a esperança de que podemos ir além do golpe da "direita má" e da "boa esquerda" governista, que mistificam a polarização que nos rege. Mas, para isso, temos muito trabalho pela frente.
Andrea Caldas
RACIOCÍNIO LÓGICO SOBRE A IRRELEVÂNCIA DO IMPEACHMENT-
Se Dilma cai, assume Michel Temer- que de certa forma, já governa. O Congresso segue sendo o que é.
No delírio hipotético de que Aécio assumiria ele teria de manejar a crise econômica.
Só mudaria a condução da Petrobrás - atendendo a interesses internacionais- e a política externa
Aqui, na manifestação, vociferam contra os comunistas no governo.(Oi, alguém acredita nisto, mesmo ?)
Acho que nem o PSDB quer isto.
A estratégia é criar um clima de instabilidade para acuar o governo, o que já está dando certo, não é?
Rudá Guedes Ricci
As pesquisas sobre perfil da tal "Classe C" já indicavam esta cultura pró-ordem e anti-radicalismo. Após junho de 2013, as manifestações decaíram em função de certo esgotamento e a ação dos Black Blocs. Agora, o esgotamento de tanta mobilização e o discurso pró-militar. Se quer ser popular ,tem que saber ouvir o que a maioria pensa.
Rudá Guedes Ricci
Estamos terminando o dia em que os coxinhas fizeram milhões de brasileiros dar gargalhadas das piruetas que eles deram.
André Vallias
Xi, mandaram o Montesquieu tomar no "cul"... (comentando reportagem "Integralista xinga Montesquieu e pede fim da divisão dos Poderes" http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1615686-integralista-xinga-montesquieu-e-pede-fim-da-divisao-dos-poderes.shtml
André Vallias
A classe média não consegue nem participar de reunião de condomínio. Vai fazer revolução?
Giancarlo Summa
Excelente e didático comentário de Stéphane Monclaire, professor de ciências políticas na Sorbonne, em Paris, explicando porque a pesquisa do Datafolha é canalha -- do ponto de vista metodológico e científico.
Diz o Stéphane:
Car@s estudantes (no entanto, os prezados colegas professores não são proibidos de ler isso),
Atenção, a Folha de São Paulo afirma hoje (11 da abril) no seu site : "Maioria apoia abertura de processo de impeachment, mostra Datafolha". Sejam prudentes com os "resultados" desta pesquisa e seus comentários na imprensa, notadamente na Folha.
De fato, esta pesquisa da Datafolha constitua uma das mais bonitas ilustrações recentes dos problemas destacados por Pierre BOURDIEU, há 40 anos, relativos à medida das opiniões e que tendem a tornar os resultados de várias pesquisas de opinão pública poucos cientificamente pertinentes. Aqui por exemplo, Datafolha pede aos entrevistados de opinar sobre uma questão (a necessidae de "abrir um processo de impeachment PARA afastar a presidente Dilma da presidência" --adoro este "para") que muitos deles não se pediam a eles mesmo.
Dito de outra maneira, Datafolha e o entrevistador impõem aos entrevistados uma problemática. Além disso esta questão comporta palavras que não saõ necessariamente conhecidas ou/e compreensíveis para cada entrevistado ; o que deficulta a capacidade real de responder a ela (adoro também os apenas 4% de "não sabe", pois conheço bem todos os estrategens que os entrevistadores usam para forçar os entrevistados a responder "sim" ou "não".
Outro grande delício: Datafolha impõe na questão a finalidade da abertura do processo do impeachment (isto é, "afastar a presidente Dilma da presidência) e, desta maneira, influência o entrevistado pois torna a resposta "sim" mais legítima, mais cognitivamente válida.. ". Datafolha não se preocupa de saber se cada entrevistado tem um conhecimento minimo sobre o que é e significa um processo de impeachment e sobre a Operação Lava Jato. Dito claramente, Datafolha finge de acreditar que cada entrevistado tem o mesmo nível de conhecimento da situação !
A Folha (cujo chef de redação e os donos não são verdadeiros torcedores do goveno Dilma, nem da presidente e ainda menos do PT) faz um comentário de grande hipocresia.
1/ não indica quem pediu ao instituto Datafolha esta pesquisa, e prescrevou de "pegar" a opinião dos brasilerios sobre este tema apenas alguns dias antes das manifestações marcadas pelo dia 12 de abril para publicar seus resultados a vespera destas manifestações (ao supor que Datafolha quiz incentivar seus leitores a manifestar, não teria feito diferentemente pois é uma boa maneira de legitimar de antemão as mobilizações do dia 12 e de fornecer aos manifestantes putativos uma boa razão de manifestar , isto é "vou manifestar pois a maioria dos brasileiros quer a abertura do impeachment; assim vou agir conformamente à opinião dominante, estarei no meanstream) .
2/ Datafolha não fala dos graves problemas de metodologia desta pesquisa (mas, é verdade que estes jornalistas não são sociólogos);
3/ o texto da Folha parece ser escrito num estilo neutro pois ele cita estatísticas da pesquisa ; mas em verdade ele participa à dissimulação da construção social e politicamente interressado de uma "opinião pública" e, simultanamente, ele tende a acelerar a objetivação do estado supostamente atual da opinião pública brasileira. Que vergonha !
Por certo, estou escrevendo isso ; mas entendo que (e não quero dissimular isso ao criticar esta pesquisa e a Folha) diversos segmentos da população brasileira podem ser frustrados ou insatisfeitos do que eles percebem da sua própria situação e/ou da situação do país e tendem a imputar suas insatisfações (talvez suas desilusões ou/e seus medos do futuro) à presidente Dilma.
Enfim e evidentemente, sei que a publicação desta pesquisa vai produzir efeitos sociais e políticos. Sei que que no final das contas e como diz o sociólogo e bourdivino Patrick Champagne : em razão dos seus efeitos a opinião pública termina por existir !
Mas tudo isso não impede que esta pesquisa da Datafolha e seus comentários na Folhão são vergonhosos !
Gasda Elio adicionou uma nova foto.
Manifestantes contra o governo resolveram atacar a Igreja também... Foto tirada em BH
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