10 Abril 2015
"Dom Hélder – assim era chamado por todos o pequeno e frágil sacerdote muito amado e famoso em toda a América Latina – nasceu em 1909 numa modesta família da qual ele era o décimo primeiro de 13 filhos. Entrou em seminário muito cedo e foi ordenado sacerdote quando tinha 22 anos", escreve Luis Badilla, jornalista em artigo publicado pelo sítio Il sismografo, 08-04-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis o artigo.
A imprensa brasileira amplia nestas horas grandemente a notícia: A Santa Sé, em concreto a Congregação das Causas dos Santos, com uma carta oficial, segunda-feira passada, autorizou o início do processo diocesano para a beatificação de Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife. Já se sabia que a concessão do Nihil obstat tinha sido firmado aos 25 de fevereiro passado pelo cardeal Prefeito A. Amato. Um comunicado da arquidiocese antecipa hoje que o processo (diocesano) para a beatificação e canonização terá início aos 3 de maio, ocasião na qual será apresentada a Comissão chamada a reconhecer as virtudes heróicas de dom Hélder. O rito terá início com a Santa Missa presidida por Mons. Saburido.
Há dias, em Avvenire, Stefania Falasca comentava: “Agora, portanto, para Dom Helder se abre formalmente a fase diocesana do processo com a nomeação da parte do bispo Saburido do tribunal eclesiástico, que por sua vez deverá instituir uma comissão histórica para proceder à coleta e à análise dos escritos de Hélder Câmara”. (...) “A requisição de introduzir a causa de canonização tinha amadurecido em maio passado com o apoio do inteiro Episcopado brasileiro. Mas, uma primeira vontade tinha sido expressa desde 2008, com um documento elaborado no decurso do encontro nacional dos bispos do Brasil.”
Dom Hélder Câmara (Fortaleza, sete de fevereiro de 1909 – Recife, 27 de agosto de 1999) recebeu no Vaticano um primeiro parecer favorável, abrindo assim o caminho para a beatificação. Após todas as necessárias requisições, em 2014, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, consignou à Congregação das Causas dos santos toda a documentação necessária com uma requisição de nihil obstat. Numa carta do arcebispo de Olinda e Recife, o cardeal Prefeito Angelo Amato, no passado dia 16 de fevereiro, em mérito ao estado do processo de beatificação do Servo de Deus Dom Hélder, comunica ter recebido, no mês de junho de 2014, a requisição de Nihil Obstat para dar início à causa em nível diocesano e, portanto, “de estar na espera do parecer de diferentes Dicastérios para avançar no processo de beatificação deste Servo de Deus”.
Dom Hélder – assim era chamado por todos o pequeno e frágil sacerdote muito amado e famoso em toda a América Latina – nasceu em 1909 numa modesta família da qual ele era o décimo primeiro de 13 filhos. Entrou em seminário muito cedo e foi ordenado sacerdote quando tinha 22 anos (aos 15 de agosto de 1931). Por cinco anos foi muito próximo a instituições e associações religiosas e laicas conservadoras e por vezes de signo integralista. Trata-se de um período de sua vida que o próprio Dom Hélder considera um “erro de juventude, fruto de paixões e não de raciocínios”.
A virada começa no Rio de Janeiro, cidade onde Pio XII o nomeou bispo auxiliar aos três de março de 1952 (tinha 43 anos), recebendo a ordenação episcopal aos 20 de abril de 1952. Aqui, como o recordará frequentemente ele mesmo, o neo bispo “descobre não tanto a pobreza, quanto os pobres”. Deste “encontro com pobres”, como contará mais tarde, nasce a idéia do Banco da Providência de São Sebastião, que assistia precisamente pobres, marginalizados, descartados. No Rio, então capital do Brasil, organizou o 36º Congresso Eucarístico Internacional e a Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB), da qual foi ativíssimo secretário geral. Tomou parte no Concílio Vaticano II, oferecendo notáveis contribuições no âmbito da promoção humana e depois, na América Latina, as suas reflexões teológicas pastorais foram decisivas para a definição da opção preferencial pelos pobres.
Foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife aos 12 de março de 1964, por Paulo VI, dezenove dias antes do atroz golpe militar brasileiro que mudou para pior por pelo menos duas décadas a face da inteira região latino-americana. A reação do novel arcebispo foi peremptória e decisiva: exprimir publicamente um forte apoio à Ação Católica diocesana que tinha condenado o golpe e isso, obviamente, lhe valeu de súbito a acusação de “comunista, demagogo e libertino” da parte das novas autoridades militares. O governador local vetou a Dom Hélder falar em público, fora dos muros da igreja, e toda vez que pregava as suas homilias, elas eram despudoradamente registradas pela polícia política que se organizava com o registrador bem visível nas proximidades do arcebispo. Nesta altura, Dom Hélder escolheu um novo caminho: escrever e fazer conferências no exterior. Publicou 23 livros traduzidos em mais de 20 idiomas. Tomou parte em dezenas de encontros e conferências em giro pelo mundo e em 1970, em Paris, teve a grande coragem de denunciar o uso sistemático da tortura em seu País, bem como a existência de milhares de prisioneiros políticos, muitos dos quais encerrados no anonimato.
Deixou a diocese aos dois de abril de 1985, por ter atingido os limites de idade, continuando a viver na casa popular à qual se havia transferido no início de seu ministério episcopal, em Recife, até a morte ocorrida aos 27 de agosto de 1999, quando tinha 90 anos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O processo de beatificação e canonização de Dom Hélder Câmara terá início aos 3 de maio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU