27 Março 2015
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 14, 1-15,47 que corresponde a Festa do Domingo de Ramos do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
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Jesus contou com a possibilidade de um final violento. Não era um ingênuo. Sabia ao que se expunha se continuasse a insistir no projeto do reino de Deus. Era impossível procurar com tanta radicalidade uma vida digna para os “pobres” e os “pecadores”, sem provocar a reação daqueles a quem não interessava qualquer mudança.
Certamente, Jesus não é um suicida. Não procura a crucificação. Nunca quis o sofrimento nem para os outros nem para ele. Toda a Sua vida dedicara-se a combatê-lo onde o encontrasse: na doença, nas injustiças, no pecado ou no desespero. Por isso não corre agora atrás da morte, mas também não recua.
Continuará a acolher pecadores e excluídos apesar de a Sua ação irritar o Templo. Se o condenam, morrerá também Ele como um delinquente e excluído, mas a Sua morte confirmará o que foi toda a Sua vida: confiança total num Deus que não exclui ninguém do Seu perdão.
Continuará a anunciar o amor de Deus aos últimos, identificando-se com os mais pobres e desprezados do império, por muito que incomode nos ambientes próximos do governador romano. Se um dia O executam no suplício da cruz, reservado para escravos, morrerá também Ele como um desprezível escravo, mas a Sua morte selará para sempre a Sua fidelidade ao Deus defensor das vítimas.
Cheio do amor de Deus, seguirá oferecendo “salvação” a quem sofre do mal e da doença: dará “abrigo” a quem é excluído pela sociedade e a religião; oferecerá o “perdão” gratuito de Deus a pecadores e pessoas perdidas, incapazes de voltar à Sua amizade. Esta atitude salvadora que inspira toda a Sua vida inspirará também a Sua morte.
Por isso aos cristãos, atrai-nos tanto a cruz. Beijamos o rosto do Crucificado, levantamos os olhos para Ele, escutamos as Suas últimas palavras... porque na Sua crucificação vemos o serviço último de Jesus ao projeto do Pai, e o gesto supremo de Deus entregando o Seu Filho por amor à humanidade inteira.
É indigno converter a semana santa em folclore ou reclame turístico. Para os seguidores de Jesus celebrar a paixão e morte do Senhor é agradecimento emocionado, adoração gozosa ao amor “incrível” de Deus e chamada para viver como Jesus solidarizando-nos com os crucificados.
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