03 Março 2015
O questionário do Sínodo de 2015 já está aí. Não percamos esta nova oportunidade para nos fazer ouvir: aproveitemo-la e respondamos, sem hesitar de desenvolvê-la como considerarmos oportuno.
Publicamos aqui uma nota da Conférence Catholique des Baptisé-e-s Francophones [Conferência Católica dos/as Batizados/as Francófonos/as], no seu sítio oficial, 15-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O questionário sobre a família que acompanha a segunda fase do Sínodo chegou, como vocês sabem [disponível aqui, em português]. O Papa Francisco o destinou aos bispos de todo o mundo, para que seja submetido aos católicos. As suas respostas serão analisadas no Vaticano e comunicadas aos padres sinodais.
Intitulado A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo, o novo questionário aborda o assunto a partir de um ponto de vista um pouco diferente, mas continua sendo pouco adequado à realidade vivida pelos seus destinatários.
Não percamos esta nova oportunidade para nos fazer ouvir: aproveitemo-la e respondamos [1], sem hesitar de desenvolvê-la como considerarmos oportuno.
A pastoral como curinga?
O ensinamento do magistério, diz o documento, é mal compreendido e rejeitado nos fatos. A pastoral! Seria esse o curinga dos opositores, assim como dos partidários do aggiornamento? A pastoral é, acima de tudo, pedagogia. A regra... continua sendo a regra.
Um exemplo é a pergunta 20: "20. Como ajudar a compreender que ninguém está excluído da misericórdia de Deus, e como manifestar essa verdade na ação pastoral da Igreja em benefício das famílias, de modo particular das feridas e frágeis?".
Vocês são cegos: se as regras elaboradas em séculos de magistério não os excluíam, como os católicos poderiam imaginar que seja assim? A família está ferida, certamente, mas não mais do que ontem e não mais do que será até o fim da história, como realidade humana!
Sempre e mais uma vez a Humanae vitae
Nas entrelinhas, não há nenhuma intenção de mudar uma vírgula dessa encíclica de efeitos devastadores, especialmente na prática religiosa ocidental. Mas a promoção, por ela inspirada, em favor do "diálogo com as ciências e as tecnologias biomédicas, de maneira que seja respeitada a ecologia humana do gerar" contém uma ambiguidade ao menos inquietante: o que dizer da contracepção e da superpopulação?
Divorciados em segunda união
Os padres sinodais vão se esconder dessa questão? Esperam um relatório, mas sem indicar a data última (talvez depois do Sínodo?) sobre essa batata quente: "A pastoral sacramental em favor dos divorciados recasados precisa de um ulterior aprofundamento, avaliando também a prática ortodoxa".
Que fixação pelo passado, que ignorância das ciências humanas! Um modelo plurissecular – longe de satisfazer o conjunto dos ortodoxos – deveria ser a matriz de um remanejamento antropológico católico no século XXI? Como se pode pretender ser um "pastor" e rejeitar até esse ponto a realidade vivida pelo "rebanho"?
É claro, o texto prega a "acolhida" e a "pastoral". Não perder as gerações vindouras, as forças vivas, além disso, é uma das preocupações dos padres e dos líderes pragmáticos. Mas estejamos muito atentos aos verdadeiros propósitos de tal pastoral! Estejamos atentos para que ela não se limite a uma das duas pedagogias de interiorização das proibições e da exclusão que são uma especialidade do magistério, esperando, assim, a longo prazo, encerrar a questão.
Homossexuais
Em primeira instância, houve tentativas de declarações sinodais respeitosas das qualidades humanas dos homossexuais. Por que se admirar? Devemos, talvez, continuar fingindo que inúmeros padres sinodais odeiam a si mesmos?
No texto que nos interessa, os homossexuais são mencionados somente no contexto da família, ignorando a sua vida individual, a sua criatividade, as suas justas aspirações. Em suma, o grande progresso, segundo alguns padres sinodais, consiste em dizer, por enquanto... que os homossexuais existem "em algum lugar". É para rir ou para chorar?
Alegria ou consternação?
O católico médio acaba pensando que fala uma linguagem inaudível pelo magistério. A Igreja-instituição imagina, talvez, que pode espalhar o perfume do Evangelho ao reduzir a si mesma a um conjunto de regras às vezes obsoletas?
Falar na medida humana, eis o que o mundo ainda espera da Igreja: "Acompanhar alguém não significa precedê-lo, indicar-lhe o caminho, impor-lhe um itinerário, nem mesmo conhecer a direção que vai tomar, mas significa caminhar ao seu lado, deixando-o livre para escolher o seu caminho e o ritmo dos seus passos" (Pe. Verspieren, SJ).
Continuemos mantendo as janelas abertas... deixemo-nos levar pelo vento!
Nota:
1. As respostas, também as laicais, ao questionário do Sínodo de 2015 deverão ser enviadas à Secretaria do Sínodo através dos bispos das várias dioceses – as do ano passado, ao contrário, podiam ser respondidas individual e diretamente à Secretaria do Sínodo dos bispos – e isso, sem dúvida, é um limite.
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Sínodo 2015: ''Caneta e papel em mãos, não hesitemos de responder!'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU