23 Fevereiro 2015
O matrimônio está mudando, e a Igreja episcopaliana, diversamente de muitos outros ramos do cristianismo, está atenta às situações e está pensando seriamente em como responder-lhes. Todos, no cristianismo, deveriam fazê-lo.
A reportagem é de Bill Tammeus, publicada por National Catholic Reporter, 18-02-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Em sua General Convention, em 2012, a Igreja episcopaliana criou a Task Force on the Study of Marriage, solicitando-lhe de “identificar e explorar as dimensões do matrimônio: bíblica, teológica, histórica, litúrgica e canônica”.
Enquanto a Igreja trabalhava na criação de uma cerimônia com a qual abençoar as uniões de pessoas do mesmo sexo, surgiram muitos problemas conexos. Foram elencados deste modo no documento criado pela task force, que recém completou o seu estudo: Que coisa torna cristão um matrimônio? Qual é a relação entre a bênção da parte da Igreja de uma relação, que seja de pessoas de sexo diverso ou do mesmo sexo, ou uma união, ou um “matrimônio” ou qualquer outra coisa criada pela lei civil? A bênção de uma relação entre pessoas do mesmo sexo é equivalente ao matrimônio de um casal de sexo diverso, e, se é assim, esta liturgia deve ser chamada de “matrimônio”?
Certamente, por séculos, o mito era que o matrimônio era a união abençoada pela Igreja entre um homem e uma mulher. Esta tem sido a norma.
Na realidade, o matrimônio evoluiu por dezenas de milhares de anos e assumiu várias formas em várias culturas. Como disse Steven Mintz, um professor de historia na Columbia University, num artigo publicado em 2012 em The Week: “Toda vez que a gente fala de matrimônio tradicional ou de famílias tradicionais, os historiadores se põem as mãos nos cabelos”.
Em quase todas as coletividades protestantes, católicas ou ortodoxas se podem encontrar casais conviventes, tanto hétero como homossexuais. E se podem encontrar pessoas individuais mais anciãs que vivem juntas, sem desposar-se por muitas razões, incluídos motivos de taxas ou de herança. Todas estas pessoas – com frequência fiéis de uma igreja – realmente “vivem no pecado”, como indica a antiga expressão de maneira tão indelicada? A Igreja episcopaliana pretende falar do argumento.
O reverendo Brian C. Taylor, com quem falei recentemente e que presidia a task force episcopaliana, foi muito preciso sobre a carência da Igreja universal em falar claramente disto: Penso que a Igreja não tenha dito nada sobre as relações íntimas de adultos fora do matrimônio ou sobre o modo de viver como ‘single’ [solteiro] de um adulto. Mantemos o matrimônio como norma e como ideal, e entrementes, nas nossas coletividades, a metade das pessoas são ‘single’ a longo termo ou vivem com qualquer um, mas sem estarem casados ou com qualquer outro elo [previsto pela lei]. Limitamo-nos a olhar do outro lado. Não dizemos nada sobre isto.
O problema para mim é: o que deveria dizer hoje a nossa Igreja com respeito às relações íntimas entre adultos fora do matrimônio?
Perguntei-lhe se teria conseguido encontrar uma resposta ao problema.
“Absolutamente não”, respondeu. “Por isso penso que outros três anos de estudo com algumas destas ótimas pessoas seria muito iluminante”.
A task force de Taylor proporá precisamente isto à General Convention deste ano. Solicitará também à Igreja de pensar em reconsiderar a lei da Igreja sobre o matrimônio.
Por quê? O relatório o explica deste modo:
Esta modificação tornaria o cânone:
- endereçado mais praticamente em termos de prática pastoral;
- centrado sobre efetivos votos feitos no rito do matrimônio segundo o Book of Common Prayer, antes que sobre os fins do matrimônio em geral;
- respeitadora das leis teológicas expressas no estudo e nos ensaios da Task Force: e
- graças ao uso de uma linguagem neutra referente ao gênero, correspondente ao objetivo da Task Force de “preocupar-se com as necessidades pastorais de padres que celebram um matrimônio civil de um casal do mesmo sexo nos estados que o autorizam”.
A Igreja cristã universal foi lenta em responder à natureza em evolução do matrimônio.
E esta é outra razão pela qual muitos – tanto jovens como menos jovens – tem abandonado a Igreja. O seu silêncio ou sua condenação os fez sentir-se refutados.
Por isso, aplaudimos o esforço episcopal. Que possa fazer que resplandeçam as flores de mil matrimônios.
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Como podem as Igrejas andar ao passo com a evolução da definição de matrimônio? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU