Por: André | 05 Fevereiro 2015
Na terça-feira, 03, aconteceu a assinatura do Papa Francisco para a beatificação de dom Oscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador assassinado em 1980 pelos esquadrões da morte vinculados ao regime. Na quarta-feira, 04, dom Vincenzo Paglia, promotor da causa de Romero, anunciou durante uma entrevista coletiva no Vaticano que “há três anos começou em San Salvador o processo de beatificação do padre Rutilio Grande (foto), porque é impossível compreender Romero sem compreender Rutilio Grande”. Jesuíta, colaborador de Romero, Rutilio Grande García também foi assassinado pelos esquadrões da morte em 1977.
Fonte: http://bit.ly/1BWEZGh |
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada no sítio Vatican Insider, 04-02-2015. A tradução é de André Langer.
Da entrevista coletiva participaram também o historiador Giuseppe Morozzo Della Rocca, colaborador do postulador e biógrafo de Romero, e dom Jesús Delgado Acevedo, secretário pessoal e postulador diocesano da causa de Romero.
O porta-voz vaticano, padre Federico Lombardi, indicou que o anúncio desta segunda beatificação demonstra que a decisão do Papa sobre Romero “não foi um fato isolado”, e, à luz do testemunho de “muitos sacerdotes e fiéis que deram suas vidas” se perguntou se o caso do arcebispo de San Salvador era um caso isolado. Dom Paglia (foto) disse que a beatificação de Romero é “uma abertura bastante robusta” e que “já estão em estudo outros documentos de outros mártires” da América Latina.
“Agora não é hora de olhar para o passado, mas para o presente para perceber uma profecia: tínhamos que esperar o primeiro Papa latino-americano para beatificar Romero, porque no encontro entre esta beatificação e o pontificado do Papa Francisco há uma semelhança, que é a Igreja pobre e para os pobres”, explicou dom Paglia.
No entanto, os jornalistas tinham muitas perguntas sobre os atrasos e os obstáculos relacionados com a beatificação de Romero. Ao longo dos anos, respondeu o presidente do Pontifício Conselho para a Família, chegaram “quilos de papéis” contrários a Romero, às vezes de boa fé e outras nem tanto. “Escreviam que fazia política, que era um seguidor da Teologia da Libertação. Romero respondeu: ‘Claro, a de Paulo VI’. Acusaram-no de problemas de caráter, de desequilíbrios. Tudo isso, obviamente, freou o processo e reforçou os inimigos”. Os inimigos dentro do país: “Houve dificuldades inclusive entre os bispos do país”, explicou Paglia, que aludiu também à “direita política” e aos “predecessores do embaixador” atual de El Salvador na Santa Sé, que estava presente na entrevista coletiva. Os inimigos vaticanos: dom Paglia aludiu fugazmente ao núncio apostólico daquela época, Emanuele Gerada, mas precisou que, “no testemunho sobre o martírio, em 1996, ele estava de acordo”.
Ao responder a uma pergunta sobre se a oposição do cardeal colombiano da cúria Alfonso López Trujillo, citado nesta quarta-feira pelo jornal italiano Corriere della Sera, poderia ensinar alguma coisa para o futuro, Paglia respondeu: “Se for postulador de outra causa, aprenderei algo; se fizer parte do colégio de teólogos e cardeais, aprenderei algo mais. Mas, obviamente, a decisão sobre Romero silencia os motivos que impediram um processo mais retilíneo”.
Entre as acusações contra Romero, recordou Paglia, também havia questões doutrinais. Assim, teve que passar mais tempo para as verificações no ex-Santo Ofício. Contra Romero havia alguns, indicou, com posturas ferrenhas: “se mover um seixo é fácil, mover uma pedra é muito mais difícil, mas, ao final, como podemos ver hoje, a verdade triunfou”.
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Além de Romero, começa a causa de beatificação do jesuíta Rutilio Grande - Instituto Humanitas Unisinos - IHU