04 Fevereiro 2015
"O cardeal Ravasi é uma pessoa da qual só podemos aprender, é uma experiência que me enriqueceu e eu acho isso, por parte da Igreja, um sinal de abertura absoluta." Nancy Brilli está entusiasmada por fazer parte do grupo de trabalho "Culturas femininas, entre igualdade e diferença", mesmo que o vídeo da qual ela é protagonista foi removido nos países de língua inglesa.
A reportagem é de Silvia Fumarola, publicada no jornal La Repubblica, 03-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Você se perguntou o porquê disso?
Era um ataque de baixo nível contra Ravasi. Definiram-no até mesmo de "satanista", e ele ria. Na internet, nunca se apaga alguma coisa, o vídeo ainda existe.
Isso não lhe desagradou?
Se você vai à internet, deve estar aberto aos comentários. Discordar é lícito. Além disso, se alguém se sente representado pelo insulto, usará insultos. O modo mais construtivo era tomar uma câmera de vídeo e intervir sobre a condição feminina.
Alguém deve ter pensado: bonita demais para ser crível...
Estou feliz por ter 50 anos. Espero que alguém se dê conta de que eu tenho cérebro, além de seios. Não é justo mortificar a própria feminilidade para ser ouvida.
Pode nos explicar melhor o conceito de "burca de carne"?
Era uma definição de Barbara Alberti, uma das autoras do meu espetáculo Sette, de quatro anos atrás, sobre os vícios capitais. A cirurgia torna-se uma "burca" quando uma mulher se submete a uma operação para responder a um modelo, não quando ela decide. Se, entre mim e o mundo, há um nariz gigante, e eu decido diminuí-lo, tenho o direito de fazê-lo. Agora, você pode me dizer: existem tantas mulheres por aí que se arruinaram.
De fato, são mulheres-puma [do inglês cougar women, mulheres que se relacionam com homens mais jovens].
Essa é uma opinião sua, e eu posso concordar, mas quem somos nós para julgar?
Você se perguntou por que Ravasi chamou justamente você?
Pelo profissionalismo e pelo meu percurso humano. Ravasi é um homem iluminado e está propondo este trabalho – feito por mulheres – a uma plateia de bispos e cardeais.
Qual a sua relação com a fé?
Eu amo a minha religião. Mesmo que haja coisas que eu não entenda, eu as aceito. Eu rezo desde sempre, isso me tranquiliza.
Quanto o Papa Francesco influenciou nisso?
Muito, especialmente porque eu o conheci pessoalmente. Conversamos muito, e ele também conheceu o meu filho. A abertura do Papa é verdadeira: não me casei na Igreja, sou divorciada duas vezes. Em outros tempos, eu não teria sequer podido entrar em Santa Marta.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''Ninguém pode julgar as cirurgias se forem o resultado de uma livre escolha'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU