03 Dezembro 2014
No caso de a comunidade mundial chegar a um tratado sobre o clima no próximo ano em Paris, ele deve primeiro fazer progressos no Peru, onde a última rodada de negociações internacionais começou nesta segunda-feira.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada no sítio National Catholic Reporter, 01-12-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Fonte: CNS/Raul Garcia |
Acontecendo anualmente desde 1992, as negociações das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas têm atraído um número maior de holofotes este ano, já que o evento em Lima, Peru, é visto como um passo importante para um eventual acordo em Paris cujo objetivo é reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Em Lima, os negociadores devem desenvolver um projeto de documento delineando os compromissos das nações de redução, bem como uma possível ajuda para os esforços de mitigação e adaptação nos países em desenvolvimento. Os líderes mundiais, então, encontrar-se-ão na França, em 2015, para assinar o acordo, que entraria em vigor em 2020.
Como uma webconferência descreveu, "Não há Paris sem Lima".
Os eventos nas semanas que precederam o encontro de Lima, conhecido formalmente como a 20ª Conferência das Partes e que continua até 12 de dezembro, deram origem a um otimismo de que um acordo internacional pode materializar-se, em particular, um pacto entre as duas maiores economias do mundo - e maiores poluidores de carbono. Em 11 de novembro, os Estados Unidos anunciaram que iriam cortar suas emissões entre 26 a 28% em relação aos níveis de 2005 até 2025, enquanto a China comprometeu-se a reduzir suas emissões até 2030, se não antes.
Mesmo com essas promessas, o New York Times informou que existe ainda um certo ceticismo se um acordo internacional, a essas alturas, poderia evitar que as temperaturas subam acima de 2 graus Celsius (3,6 graus Fahrenheit) - marca que os cientistas climáticos visualizam como um "ponto sem retorno" para evitar os efeitos mais extremos da mudança climática.
Esses impactos incluem aumento dos níveis dos oceanos, inundações, secas, escassez de alimentos, maior frequência de incêndios florestais e eventos climáticos extremos mais intensos, além de temperaturas mais altas em todo o mundo.
Enquanto as negociações da cúpula acontecem ao longo das próximas duas semanas, os grupos religiosos se comprometeram a levantar suas vozes, especialmente com relação aos mais afetados por qualquer impasse na definição de um tratado sobre o clima: os pobres.
Três dias antes da abertura das negociações de Lima, a Caritas Internationalis e a Coopération Internationale pour le Développement et la Solidarité (CIDSE) - uma aliança de agências católicas de desenvolvimento - instaram os negociadores para fazer dos pobres uma prioridade da mudança climática.
"Combater as alterações climáticas é uma obrigação de direitos humanos para assegurar que os pobres, que são os mais vulneráveis às alterações climáticas, tenham acesso à alimentação, à educação e à saúde, e possam criar uma vida estável para suas famílias", disse Bernd Nilles, secretário-geral da CISDE, em um declaração.
Michel Roy, secretário-geral da Caritas Internationalis, adicionou que "comunidades em determinadas áreas do globo vivem no fio da navalha".
"Elas não sabem se vão ter comida suficiente para a próxima estação", ele continuou, "elas temem que suas casas sejam destruídas e seus filhos não sejam capazes de continuar a sua escolaridade se inundações ou secas perturbarem a sua vida familiar mais uma vez. Não podemos ficar parados enquanto as pessoas mais pobres e vulneráveis em nosso mundo sustentam o fardo mais pesado da mudança climática".
Um documento de oito páginas contendo a posição das duas organizações - que representam 180 organizações católicas de assistência e desenvolvimento - delineou os seus pontos de vista sobre as alterações climáticas, uma das quais fala "a partir de uma perspectiva de desenvolvimento humano integral" onde as mudanças no clima limitam esse desenvolvimento.
"É amplamente reconhecido que a mudança climática pode acabar com décadas de esforços de desenvolvimento. Portanto, não é uma questão de escolher entre combater as alterações climáticas e combater a pobreza e a fome. Pelo contrário, medidas para combater a mudança climática são a chave para a erradicação da pobreza, da fome e da desnutrição", disse o relatório.
Os grupos católicos pediram a adoção de um acordo internacional juridicamente vinculativo em Paris, além de outras medidas como:
"Uma resposta à mudança climática deve envolver toda a humanidade: cada um tem um papel indispensável a exercer. Além de argumentos científicos, técnicos e econômicos, as soluções devem abraçar preocupações éticas e morais. Uma abordagem que considere o impacto das mudanças climáticas sobre uma ampla gama de direitos humanos, incluindo o direito universal a uma alimentação adequada, deve ser aprovada", disseram eles.
"Se nós enfrentarmos este desafio ecológico, as importantes escolhas políticas a serem feitas nos próximos meses representarão uma oportunidade real para os responsáveis pela tomada de decisões de colocar os pobres e o cuidado da Criação no coração de nossos sistemas globalizados".
Enquanto as negociações continuam em Lima, uma organização internacional inter-religiosa apelou às pessoas de fé de todo o mundo para levantar suas vozes sobre as suas preocupações com relação à mudança climática.
O grupo Our Voices organizou #LightforLima, uma série de vigílias individuais e em grupo para rezar pelos líderes mundiais a fim de que seja desenvolvido um acordo. Para a primeira semana de negociações, o Our Voices encorajou as pessoas a realizar vigílias em casa e tuitar sobre sua experiência com a hashtag #LightforLima. Para o domingo, o grupo planejou inúmeras vigílias públicas em todo o mundo, inclusive em Washington, Estados Unidos, em frente à Casa Branca.
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COP-20: Grupos católicos destacam o impacto das mudanças climáticas sobre os pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU