17 Novembro 2014
"Nos próximos dias, Dilma Rousseff tomará a decisão mais difícil e relevante desde que assumiu a Presidência. Ao definir o nome do novo ministro da Fazenda, apostará por uma das vias em que o Brasil hoje se divide quanto à forma de equacionar o impasse posto para o país. Precisará escolher um dos lados, com perdas inevitáveis do outro", escreve André Singer, cientista político, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 15-11-2014.
Eis o artigo.
Nos próximos dias, Dilma Rousseff tomará a decisão mais difícil e relevante desde que assumiu a Presidência. Ao definir o nome do novo ministro da Fazenda, apostará por uma das vias em que o Brasil hoje se divide quanto à forma de equacionar o impasse posto para o país. Precisará escolher um dos lados, com perdas inevitáveis do outro.
Há certo consenso entre os especialistas de que a fórmula seguida nos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva dependeu da valorização das commodities nos anos 2000. A forte expansão da economia globalizada, em parte puxada pela China, que demandava gigantescas quantidades de bens primários, foi crucial para que o modelo funcionasse.
Em 2008 o ciclo parece ter terminado. Demorou quatro longos anos para a ficha cair. Até 2010, o olé que o lulismo aplicou à primeira onda da crise mundial funcionou. Usando as alavancas do Estado, evitou-se que chegasse aqui a destruição que atingiria a Europa e os EUA. Em clima de euforia, Dilma foi eleita com relativa tranquilidade.
Em 2011, diante da segunda onda recessiva, Dilma tentou o mesmo movimento, sem sucesso. Os empresários acharam que o Estado tinha se tornado "intervencionista" e o PIB parou de crescer. O mau humor empresarial e a estagnação na Europa, com a China também em desaceleração, criaram o atual impasse.
O neoliberalismo tem propostas nítidas sobre o que fazer. Propõe recessão via expressivos cortes de gastos públicos e, no bojo dela, modificações legais pró-mercado. A inflação cairia e o capital do mundo todo exploraria as novas condições de competitividade obtidas com o rebaixamento do custo da mão de obra. Em 2018, a economia teria voltado a crescer, e as chances eleitorais seriam boas. Com um nome do mercado, Dilma referendará essa visão.
Na outra ponta, os desenvolvimentistas defendem preservar as conquistas obtidas pelos trabalhadores e evitar a recessão. Mas precisam resolver a quadratura do círculo. O crescimento depende de investimento privado e os empresários estão convencidos de que o ajuste neoliberal é necessário. A escolha de um nome que esteve vinculado a Guido Mantega representaria continuar tentando encontrar uma saída prática onde a teoria não apresenta soluções definidas.
Entre um e outro polo, há opções intermediárias, como a nomeação de alguém vinculado à carreira pública, mas muito sensível aos reclamos do mercado. Neste caso, Dilma corre o risco de ficar com o pior dos dois mundos ao fazer concessões recessivas que desagradarão aos trabalhadores, mas não em quantidade suficiente para conquistar os capitalistas. Quem viver verá.
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