17 Novembro 2014
Para Francisco, preanuncia-se uma temporada de grandes tensões. A velha guarda curial, que considera uma "ruína para a Igreja" a sua linha inovadora, alimenta uma crescente oposição e deslegitimação. "Os conservadores estão decididos a vender cara a sua pele", afirma um assíduo frequentador do Palácio Apostólico. São cada vez mais venenosos, nos bastidores, os comentários contra o pontífice latino-americano. "Chega dessa teologia de Copacabana", é um dos mais benevolentes.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 14-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A guerrilha dos boatos se difunde. Depois do alarme falso do membro do Comunhão e Libertação Antonio Socci, sobre a eleição "ilegítima" de Francisco, chegaram misteriosas indiscrições do Vaticano sobre uma provável renúncia do pontífice. A verdade é que o Papa Bergoglio deixou claro que, sentindo-se, amanhã, nas mesmas condições de debilidade física de Bento XVI, ele também renunciaria. Falso é que a questão é atual. Evocá-la faz parte da guerra de nervos contra o papa em curso no Vaticano.
O cardeal Raymond Burke, porta-estandarte do bloco conservador, lançou abertamente o desafio contra Bergoglio. Muitos fiéis, declarou, "sentem um pouco enjoo, porque têm a sensação de que a Igreja perdeu a sua rota". Burke, depois do Sínodo, foi removido pelo papa do cargo de prefeito do Supremo Tribunal vaticano (o Tribunal da Signatura Apostólica) e nomeado patrono da Ordem de Malta.
Uma degradação evidente. Chamativa por causa da idade pouco avançada do cardeal: 66 anos. Sinal de que Francisco pretende realizar uma rápida rotatividade de posições na Cúria para remover o núcleo duro que lhe é hostil. Poucos dias depois do Sínodo, que lhe mostrou estar em minoria dentro da Cúria e não suficientemente apoiado pela cúpula do episcopado mundial, o papa emitiu normas que reiteram a renúncia dos bispos aos 75 anos e declaram obrigatórias (e não mais indicativas) as dos responsáveis da Cúria no mesmo prazo.
Desencadeando inquietação entre aqueles que já passaram da idade da aposentadoria: o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Antonio Maria Vegliò, presidente do Conselho para os Migrantes, o polonês Zenon Grocholewski, prefeito da Congregação para a Educação Católica.
Na Itália, duas sedes importantes estão prestes a ficar livres: Palermo e Florença (liderada pelo cardeal Carlo Caffara, outro adversário da linha aberturista do pontífice sobre temáticas familiares e sexuais). Em Milão, no entanto, se o cardeal Scola não se aposentar antes, a questão da sucessão estará na agenda em apenas dois anos.
Mas os adversários da linha papal já enviaram um sinal contra uma personalidade, que Francisco gostaria de ver, de bom grado, à frente de uma diocese de peso, talvez com um chapéu cardinalício: o teólogo Bruno Forte, arcebispo de Chieti e secretário especial do Sínodo por vontade papal. Nas eleições para o cargo de vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana para a Itália central, que ocorreu há poucos dias, a maioria dos bispos italianos obstruíram a sua candidatura. No segundo turno, contra o pouco conhecido bispo de Fiesole, Mario Meini, a assembleia da CEI deu 140 votos a voto e 60 a Forte.
No entanto, o principal método para frear o reformismo do papa é criar ao seu redor um pântano de inércia, aplaudindo as suas palavras e não fazendo nada. A reforma da Cúria, sobre a qual está trabalhando o conselho dos nove cardeais, se choca com a passividade hostil dos quadros vaticanos. A promoção das mulheres em postos de responsabilidade, em que "se tomam decisões" (como desejou o papa), não dá um passo à frente. A CEI nem sequer levou em consideração a questão, e as próprias mulheres dos movimentos católicos não abrem a boca.
No verão passado, o prefeito da Congregação para os Religiosos, o brasileiro Braz de Aviz, publicou um documento desafiador sobre a obrigação de uma prestação de contas absolutamente transparente dos bens possuídos pelas ordens religiosas e, sobretudo, sobre a necessidade do seu emprego "a serviço das tantas formas de pobreza". De modo que não sejam geridos – como muitas vezes acontece – com uma mentalidade empresarial, voltada para si mesma (sem falar de casos clamorosos de má administração).
O documento, sinal claro da linha de Francisco, não foi acolhido por ondas de entusiasmo, e a sua aplicação se preanuncia como muito lenta. Cinicamente, os adversários do papa apontam para o seu desgaste.