14 Novembro 2014
Há um monte de notícias relacionadas ao catolicismo nos últimos dias. Caso você não venha acompanhando o noticiário, o Papa Francisco rebaixou o cardeal americano Burke no começo da semana passada, o que já era amplamente esperado. Na semana passada, o cardeal alemão Reinhard Marx, um dos assessores mais próximos do pontífice, deu uma entrevista na qual disse que o papa havia insistido que o relatório final do Sínodo dos Bispos incluísse o parágrafo liberalizando a postura da Igreja quanto à homossexualidade, apesar de ele não ter conseguido o número suficiente de votos para ser aprovado pelos bispos. O cardeal Marx disse que as reportagens retratando a derrota dos progressistas no Sínodo estão exagerando, e muito.
A reportagem é de Rod Dreher, publicada por The American Conservative, 10-11-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Diz ele: “Não, este papa abriu as portas [da Igreja] e os resultados da votação ao final do Sínodo não vão mudar isso”. O cardeal alemão acrescentou que vai ser no próximo ano, antes da sessão do Sínodo, que “o trabalho verdadeiro irá começar”.
Apesar das reportagens contrárias que a imprensa vem divulgando, Marx afirmou que o grupo “progressista” no Sínodo não sofreu nenhum revés, e citou o pontificado de Francisco como prova. “Qualquer um que chegue a esta conclusão não está atento sobre o que está acontecendo em nossa Igreja durante os últimos 18 meses”, declarou.
Também na semana passada, o Papa Francisco solidificou o seu poder canônico de demitir bispos diretamente. Isso poderá ser uma boa medida caso conduza-o a livrar-se dos bispos que toleram ou acobertam casos de abusos sexuais. Mas será que ele vai fazer valer esta autoridade por motivos mais simples? Veremos.
Damien Thompson, do jornal inglês Spectator, pergunta-se se estamos vendo o começo de uma “guerra civil católica”, nos seguintes termos:
Como fica o Papa Francisco nesta história? Fica parecendo um pouco com o “Papa Hamlet”, Paulo VI, a quem ele beatificou. Francisco apoia alguns tipos de reformas, mas a incerteza está ramificando a Igreja em segmentos reminiscentes da Comunhão Anglicana. Velhos inimigos de Bento XVI avaliam que podem persuadir Francisco para trazerem o colégio cardinalício em favor deles. Enquanto isso, Burke surgiu como líder dos tradicionalistas linhas-duras. “Ele não quis o seu papel, mas talvez se veja como uma figura de São João Fisher”, diz uma fonte vaticana fazendo uma comparação que põe o sucessor de Pedro no lugar de Henrique VIII.
O que deveria preocupar Francisco é que os católicos conservadores moderados estão perdendo a sua confiança. Ross Douthat, colunista do The New York Times, quem não é nenhum extremista nas ideias, acredita que “este papa possa talvez ser preservado do erro somente se a própria Igreja resistir a ele”. Cristina Odone, ex-editora do jornal Catholic Herald, escreveu que “Francisco realizou milagres com os seus comentários apaixonados, improvisados que desintoxicaram a instituição. Ele personifica o otimismo – mas quando tenta transformar isto em política, não se encontra no comando dos procedimentos e detalhes. O resultado é uma confusão”.
Tudo isso sugere uma analogia muito mais próxima do que aquela com Henrique VIII. Há um outro líder mundial, eleito em meio a um enorme entusiasmo, que surpreendeu e decepcionou os fiéis ao aparentar distante e mesmo impotente nos momentos de crise. É algo horrível de se dizer, mas poderíamos estar assistindo o Jorge Bergoglio se transformar no Barack Obama.
O escritor católico James Kalb tem uma curta porém astuta avaliação dos dois grandes líderes progressistas neste drama: o Papa Francisco e o cardeal Walter Kasper. Kalb acerta em cheio o motivo pelo qual o resultado da agitação na Igreja Católica interessa, e muito, a todos nós – conservadores sociais e religiosos – do ocidente.
Tudo isso parece deixar a Igreja na posição em que ela vem estando nos últimos 50 anos visto do ponto de vista de um tradicionalista social, e mais: em grande parte inútil no nível prático e sociológico, mas não obstante, em última análise e em princípio, o único ponto fixo a partir do qual a desumanidade do mundo moderno pode ser contrariada e superada. Esta visão depende, evidentemente, da opinião de que a realidade e a verdade, e portanto a doutrina, são o que importa no longo prazo.
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A “obamificação” do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU