31 Outubro 2014
“As portas estão abertas – mais abertas do que elas alguma vez estiveram desde o Concílio Vaticano II. Os debates sinodais foram apenas o ponto de partida. Francisco quer que as coisas aconteçam, quer fazer acontecer os processos. O verdadeiro trabalho está por começar”, contou o cardeal Reinhard Marx ao jornal semanal alemão Die Zeit.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada pelo National Catholic Reporter, 28-10-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O fato de que os dois assuntos polêmicos – a Comunhão para católicos divorciados e casados novamente e um enfoque mais positivo e aberto à homossexualidade – debatidos no Sínodo dos Bispos 2014 sobre a família não conseguiu obter a maioria de dois terços não deveria ser visto como um retrocesso, disse.
“A pessoa que chega a esta conclusão [de que foi um retrocesso] não está percebendo o que vem sendo feito em nossa Igreja durante este último um ano e meio”, falou o religioso. “Até o momento, estas duas questões eram absolutamente inegociáveis. Ainda que elas fracassaram em obter a maioria de dois terços, uma grande parte dos padres sinodais votou, no entanto, a favor.
“Elas ainda fazem parte do texto”, continuou Marx. “Em particular, perguntei ao papa sobre isso, e ele disse que quis ter todos os textos publicados juntos, ao lado dos resultados das votações. Ele quis que todo mundo na Igreja visse em que pé nos encontramos. Este papa abriu as portas [da Igreja] e os resultados das votações ao final do Sínodo não irão mudar isto”.
O repórter do Die Zeit perguntou a Marx se foi a Cúria ou os bispos africanos e asiáticos que consideraram estes dois assuntos polêmicos como uma ameaça.
“Nem um, nem outro. Esta foi a minha descoberta naquelas duas semanas”, respondeu. Nós, do mundo que língua alemã, não estamos sozinhos com nossas dificuldades. Foi tantas vezes insinuado nos últimos anos que estes dois desejos são um fenômeno de um ocidente decadente e que eles não mais desempenham um papel no resto da Igreja. No entanto, os inúmeros colegas da África e Ásia, mas também os colegas da Cúria que me abordaram no Sínodo para falar sobre eles, provam o quão equivocado é esta opinião”.
Estes dois assuntos foram tratados de forma polarizada no Sínodo, disse o entrevistador. Isso significa que a Igreja enfrenta atualmente uma disputa interna?
As disputas entre grupos pode ser a lógica das convenções partidárias, mas a Igreja não deve se deixar infectar por elas, disse Marx.
“A lógica da confrontação não seria apenas anticristã, mas também insensata”, falou. Num processo de reforma, quem quer que divide as pessoas em superiores e inferiores nos impede de sermos afetados e surpreendidos pelo Espírito Santo. Não se trata de oponentes se confrontando. Aquele que abusa de um novo começo na Igreja no intuito de organizar maiorias para o seu próprio campo não compreendeu o espírito deste papa”.
A discussão sobre se os fiéis deveriam se conformar à doutrina ou se a doutrina deveria ser adaptada paralisou a Igreja, disse Marx.
“Foi por isso que um dos debates teológicos centrais no Sínodo foi sobre como encontrar uma saída da lógica demasiada estreita do ‘tudo ou nada’, ‘pecado ou não pecado’, como eu disse durante o Sínodo”, afirmou o cardeal.
E como isto deve funcionar?
O cardeal vienense Christoph Schönborn sugeriu aplicar o princípio da gradualidade, “que, noutras palavras, significa realizar o Evangelho em estágios”, disse Marx, acrescentando que a sugestão de Schönborn recebeu grande apoio.
Quando o seu entrevistador lhe pediu para descrever, de forma mais clara, o enfoque especial do Papa Francisco, Marx disse: “Este papa sabe exatamente o que ele está fazendo, não duvidamos disso. Francisco quer que nos movamos. O seu uso frequente da palavra ‘avanti’ – avante – é uma prova clara disso. Ele se convenceu de que, se não tivermos medo, não precisamos de uma tática astuta. Em seu discurso final e contundente ao Sínodo, pela primeira vez ele descreveu como enxerga o seu próprio cargo. ‘Enquanto eu estiver junto, vocês podem discutir tudo sem ter medo. Eu cuidarei para que estejamos no caminho da Igreja’. Aqui ele enfatizou claramente a sua primazia”.
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Cardeal Marx: O Papa Francisco abriu as portas da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU