23 Outubro 2014
O Sínodo de 2015 começou nessa segunda-feira: será um ano de escola espiritual da qual será aluno quem quiser sê-lo. E não bastará ser prudente e permanecer sub Petro, porque, do Mestre, Pedro é só o vigário.
A opinião é de Alberto Melloni, historiador da Igreja, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 21-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A verdadeira notícia desses dias não é que no Sínodo havia uma minoria, ou que uma maioria tenha se afirmado sem cedimentos, de cujo andamento do magistério episcopal preexistente Francisco não suspeitava da existência. Mas sim que Francisco lembrou verbis et exemplis que maioria e minoria têm uma responsabilidade.
Nesse, como em todas as passagens históricas de tipo colegial, deve sair um consenso que não é um acordo entre líderes, mas, como disse Francisco na homilia dessa segunda-feira, um consenso de "Igrejas" representada na sua subjetividade teológica.
O direito canônico, especialmente o latino, buscou, ao menos há nove séculos, critérios e limites do de maioritate para os momentos conciliares ou para a escolha de bispos, patriarcas, abades.
Os limiares (os 2/3 usados para as definições dogmáticas nos Concílios, para a eleição do papa e também em um Sínodo que, de 1967 até hoje, nunca tinha sido um lugar de discussão aberta) serviam para isso; e a teoria da sanior pars – segundo a qual é possível que, em casos extremos, o direito de prevalecer cabe à minoria – a compensava.
Nessa função reciprocamente maiêutica, maioria e minoria decidiram a estatura de cada evento sinodal. O Vaticano II, por exemplo, virou nos dias 21-22 de novembro de 1962, quando o decreto sobre a revelação preparado no Santo Ofício foi rejeitado por uma maioria que não alcançava os dois terços. O Papa João XXIII revogou o regulamento e dispôs que aquela que seria a Dei Verbum começasse mesmo que uma minoria não quisesse: porque eram claras a instrumentalidade e a indecifrabilidade daquele obstrucionismo.
E quando, ainda naquele Concílio, Giuseppe Dossetti propôs os votos orientativos sobre a eclesiologia, que foram aprovados na Aula no dia 30 de outubro de 1962, foi Paulo VI que comentou "Então nós vencemos": mesmo sendo ele o papa que, sonhando com uma quase unanimidade da votação final dos documentos, acreditava em hipotecar um pós-Concílio bem temperado que não houve.
A dialética dentro do Sínodo de 2014, portanto, tornou-se notícia só por motivos contingentes. O próprio segredo nas respostas das Conferências Episcopais de todo o mundo ao questionário enviado em 2013 não evitou nada e desgastou a oportunidade para alguma reflexão mais profunda.
O sigilo das intervenções pronunciadas pelos padres sinodais na Aula derramou as expectativas sobre a relatio do douto cardeal Erdö, que fez tanto barulho por uma semana. Só boas notícias: a possibilidade de comparar o texto intermediário com o final documenta que os 2/3 dos consensos faltaram justamente onde foi modificada o rastro de Erdö. E uma dúvida: receberia mais ou menos votos se tivesse permanecido como estava?
O papa, nesse vivaz processo sinodal, não ficou quieto nem neutro. Com um discurso martelante na conclusão dos trabalhos, justamente Francisco mostrou que não ficou surpreso com essa distância, que não se contentou com o sucesso que ele embolsou objetivamente aos olhos daqueles que sonhavam em mandá-lo "para baixo" e que não se considerou como um mediador político entre partidos, mas um garante em relação à reivindicação evangélica subentendida a esses temas.
O seu objetivo não é fazer "passar" uma teologia própria, mas restaurar uma sinodalidade à qual todos devem se acostumar. Os padres mais conservadores, que não devem confiar as suas razões a livros e manobras imprudentes como as vistas antes do Sínodo. Os padres mais abertos, que devem aceitar o esforço de se explicar (a expensio) em relação ao Evangelho e não em relação aos "caldos" teológicos e sociológicos dos quais muitas vezes se sentiu o perfume. E todos os outros – povo de Deus e meios de comunicação –, para participar como sujeitos e não como torcedores.
O futuro da sinodalidade católica, portanto, começou. Talvez ele deverá ser regulado por normas. Mas, mesmo assim, normatizado pela práxis evangélica da pobreza e por uma teologia rigorosa sobre Cristo pastor, ele produziu um resultado surpreendente. O Sínodo de 2014 durou duas semanas. O de 2015 começou nessa segunda-feira: será um ano de escola espiritual da qual será aluno quem quiser sê-lo. E não bastará ser prudente e permanecer sub Petro, porque, do Mestre, Pedro é só o vigário.
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A Igreja em escuta que nasce do Sínodo. Artigo de Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU