22 Outubro 2014
Elas mostram a Terra de outro ponto de vista. Provocam artigos, "Curtis", retuítes... e frequentemente caem no esquecimento. Um projeto espanhol, Cities at Night (Cidades à Noite), se propõe a classificar as fotografias noturnas de nosso planeta feitas da Estação Espacial Internacional para poder lhes dar uma utilidade na pesquisa. Seus criadores acreditam que os cerca de 300 mil instantâneos do extenso arquivo público do Centro Espacial Johnson são úteis para estudar a poluição luminosa. O projeto precisa da colaboração de voluntários, e estes são cada vez mais numerosos desde que a Nasa abraçou a iniciativa.
A reportagem é de Miguel Pérez García, publicada pelo Portal Uol, 21-10-2014.
A ideia foi de Alejandro Sánchez de Miguel, doutorando de último ano no departamento de astrofísica da Universidade Complutense de Madri, que conta com a ajuda de José Gómez Castaño, astrônomo aficionado e especialista em sistemas informáticos, ao constatar que há tarefas que as pessoas podem realizar melhor que as máquinas.
"O computador não é capaz de distinguir corretamente se uma imagem mostra estrelas ou as luzes de uma cidade à noite", explica o físico.
Para solucionar este problema, eles recorrem à ajuda de voluntários por meio da plataforma Crowdcrafting.org, que põe em contato projetos com pessoas dispostas a dedicar um pouco de seu tempo a ajudar. Para facilitar as coisas, o trabalho foi dividido em três tarefas simples. O primeiro passo consiste em diferenciar as fotografias que mostram núcleos populacionais vistos à noite daquelas que contêm estrelas (o que se realiza por meio da aplicação batizada de Dark Skies ISS); o segundo identifica as cidades que são observadas nas imagens (Lost at night); e em último lugar é preciso sobrepor essas imagens em um plano para construir um mapa de luzes de cada metrópole (Night Cities ISS).
O responsável pelo Crowdcrafting, o engenheiro informático Daniel García Lombraña, indica que a colaboração no projeto é totalmente gratuita. Este não tem financiamento público, mas a Universidade Complutense de Madri facilita o uso de suas instalações e o acesso a um servidor.
Cities at Night nasceu em 2011, mas até 8 de julho passado só os próprios pesquisadores processavam as imagens.
"Quando iniciamos, em apenas algumas semanas passamos de 4.000 tarefas terminadas para 21 mil, e graças à publicidade que nos deu a Nasa chegamos a 70 mil em um dia". Ao todo, eles completaram quase um milhão de tarefas, a maioria de Dark Skies ISS, relata Sánchez de Miguel. Contudo, não é esse o número de imagens que já estão classificadas, porque, segundo reconhece o pesquisador, muitas são repetidas.
Trata-se de uma precaução para evitar erros na medida do possível. O sistema de trabalho estabelecido pelos pesquisadores faz que cada fotografia seja processada por várias pessoas diferentes. No início, cada uma era examinada por 30 pessoas, mas, para agilizar o processo, o número foi sendo reduzido até se situar em cinco. Com isso, eles calculam que a margem de erro seja inferior a 2%.
Os pesquisadores pretendem criar um atlas de luzes de todo o mundo em cores. Sánchez de Miguel não acredita que eles consigam terminar antes de um ano, no melhor dos casos, três se os voluntários diminuírem. Em outubro, eles querem divulgar os primeiros resultados provisórios, nos quais mostrarão os mapas noturnos das cidades de Xangai, Madri e Valência, com uma resolução que "multiplicará quase por dez a disponível até agora".
Por enquanto, o pesquisador espanhol indica que nas fotografias que manipula se observam detalhes interessantes, como o declínio da iluminação nas estradas, que atribui à crise, ou os diferentes tipos de lâmpadas utilizados na iluminação pública. Por exemplo, em Berlim, onde 25 anos depois da queda do muro ainda se observam diferenças entre a iluminação no lado ocidental, de cor branca-azulada, e no oriental, alaranjada.
Retratar a Terra a 400 km
As fotografias que os astronautas tiram em seu escasso tempo livre da Estação Espacial Internacional são feitas com uma câmera D3S, um equipamento comercial de alta gama. Para ser utilizada em ciência, ela deve ser calibrada em laboratório (um processo que padroniza a luz que se vê nas imagens). Os responsáveis por Cities at Night também corrigem efeitos ópticos da lente e retificam a inclinação das fotos para mostrá-las como se o observador estivesse situado sobre sua vertical.
Sánchez de Miguel destaca o valor das fotografias, além de sua resolução e por serem em cores, porque "não se trata de composições formadas por múltiplas exposições", como costuma ser frequente. Elas retratam um momento no tempo. Além disso, são feitas de um lugar privilegiado: 400 mil metros acima da Terra.
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Procuram-se voluntários para combater a poluição luminosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU