20 Outubro 2014
Foi o brasileiro Leonardo Boff, defensor do meio ambiente, que convenceu o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, a empreender a megaobra.
A reportagem é de Alver Metalli, publicada por Terre d'America, 15-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na Nicarágua, a discussão em torno do canal interoceânico que cortará o istmo do grande lago Cocibolca é dura, mas a decisão está tomada: o canal será feito, e os trabalhos começarão em dezembro, com um porto no Oceano Pacífico.
Os pró-canal enunciam as vantagens e asseguram a viabilidade do projeto; os críticos minimizam os benefícios e acentuam os danos ambientais que ele poderia envolver; mas poucos sabem que o "inspirador" da megaobra é o teólogo da libertação e ambientalista brasileiro Leonardo Boff.
A revelação surpreendente foi feita pelo próprio presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que até poucos anos era de posições absolutamente contrárias.
"Nem por todo o ouro do mundo, eu podia arriscar o lago com um canal... não se deve correr o risco de contaminar a maior reserva de água potável do país e da América Central." O discurso citado traz a data de 10 de maio de 2007. Ortega mudou de ideia e, com o empresário chinês Wang Jing, tornou-se o principal proponente do canal interoceânico no território nacional.
O quando e o porquê dessa reviravolta de 180 graus são revelados pela revista nicaraguense Trinchera de la Noticia, citando as palavras do próprio presidente sandinista pronunciadas há poucos dias na reunião da Conferência dos Partidos Políticos da América Latina.
Depois de um panorama histórico de Sandino à revolução, ambos propensos à grande obra, o presidente da Nicarágua admitiu que "não foi fácil o convencimento" e que "eu passei pela prova de fogo com Leonardo Boff".
E aqui Ortega contou que, "há dois anos, andava por aqui o Leonardo. Já estava presente essa questão do canal, falava-se bastante. Falei com Leonardo, que é um defensor da natureza. Falando com ele, eu vinha preparado para que ele me dissesse que era uma barbaridade (a construção do canal), eu esperava isso". Mas não foi assim.
Ortega lembrou que, na visita a Manágua, Boff trazia consigo a Carta da Terra, um documento que ele mesmo havia assinado, no qual os políticos e personalidades de diversos países do continente se comprometiam a respeitar o meio ambiente e a combater as mudanças climáticas.
"Eu assinei a carta, me comprometi, mas depois os companheiros começaram a me a falar do canal, a me falar do canal, a me falar do canal..."
Ortega declara ter resistido à ideia da sua realização: "Eu tinha as minhas preocupações". Mas Boff – conta o presidente da Nicarágua – falou-lhe a respeito de megaprojetos no Brasil, hidrelétricas e obras a céu aberto na floresta.
"E me dizia que, sim, havia questionamentos, mas eles acompanharam os projetos, e o impacto que tinham dado, tinha dado vida às florestas."
Boff – relata a Trinchera de la Noticia – tinha convidado o presidente ao Brasil para ver pessoalmente as obras e constatar a sua compatibilidade ambiental. "Foi um alívio para mim", comenta o líder sandinista.
"Começamos o debate sobre o canal, e foram me persuadindo de que a única maneira pela qual a Nicarágua tem de poder enfrentar o tema da pobreza com passos mais rápidos" era precisamente o de realizar o canal interoceânico.
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O teólogo brasileiro e o canal nicaraguense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU