Por: Jonas | 13 Outubro 2014
Referindo-se aos possíveis resultados do Sínodo da Família, Jaime Escobar, do conselho editorial da revista Reflexión y Liberación, considera que o setor mais conservador da Igreja “ainda tem uma boa margem de ação para frear algumas importantes decisões que uma maioria de bispos participantes deseja, em sintonia com o povo de Deus espalhado por todo o mundo”. Seu artigo é publicado pela revista Reflexión y Liberación, 09-10-2014. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
É indiscutível que impactou a força da palavra evangélica no início do Sínodo da Família. A maioria dos padres sinodais e convidados ficou gratamente surpresa com a homilia de abertura do Papa Francisco quando assinala, por exemplo, para “não frustrar o sonho de Deus”, como também pela contundente alocução do relator geral do Sínodo, o cardeal Peter Ërdo.
Também foi gratificante escutar intervenções na linha do já expressado pelo Papa em temas relativos à Família e suas dificuldades neste novo século e os apoios a um dos pontos cruciais que é a realidade eclesial dos separados e em segunda união. Já se escutou na aula sinodal uma palavra avançada e livre exposta pelo P. Adolfo Nicolás, geral dos jesuítas: “Pode haver mais amor cristão em uma união canonicamente irregular do que em um casal casado pela Igreja”.
Considerando que há um bom ambiente de escuta e de esforço para expressar com liberdade os diversos pontos de vista sobre questões que afetam diretamente as famílias, não se pode deixar de fora do que acontece hoje, em Roma, um ponto de fratura que existe e que, a qualquer momento, pode aflorar com inusitada força e não pouca coordenação extra e intra sala sinodal. É a voz do setor mais conservador da Igreja que ainda tem uma boa margem de ação para frear algumas importantes decisões que uma maioria de bispos participantes deseja, em sintonia com o povo de Deus espalhado por todo o mundo.
Vozes autorizadas e conhecedoras, por anos, da complexa estrutura vaticana conservadora e seus nexos com prelados hoje fora do circuito sinodal, concordam que estas vozes emergirão em momentos cruciais das resoluções ou acordos finais do Sínodo. Além disso, é correto dizer que não foram fechadas completamente as feridas deixadas pelos diversos enfrentamentos entre setores curiais, durante todo o tempo do cardeal Ratzinger no trono de Pedro, e que, finalmente, detonaram sua dramática renúncia ao papado.
Tendo em conta que não participam do Sínodo cardeais marcadamente conservadores e que por esta razão olham com distância, por exemplo, a exortação Evangelii gaudium, como é o caso de Tarcisio Bertone, Giovanni Battista Re, Camilo Ruini, Stanislaw Dziwisz, Julián Herranz, Antonio Rouco, Giacomo Biffi, Juan Luis Cipriani e outros, sua palavra e influência, sim, tem certo eco hoje em diversas instâncias vaticanas que desejam continuar com um moralismo duro e desafiante.
Afora o fator externo do Sínodo, encontramo-nos com uma série de nomes que, sim, estão em pleno exercício em diferentes círculos de poder do vaticano. São estes personagens os que, coordenados pelo outrora poderoso cardeal Angelo Sodano, hoje se preparam para uma batalha no interior do Sínodo, defendendo posturas mais apegadas rigidamente à doutrina do que ao princípio da misericórdia, pedido pelo próprio líder mundial da Igreja Católica, que é Francisco.
Tanto é assim que influentes cardeais como Gerhard Ludwig Müller, que acaba de conceder tribuna midiática ao bispo Bernard Fellay da Fraternidade São Pio X, em que critica abertamente ao cardeal Walter Kasper por sua postura de compreensão evangélica a respeito da comunhão para os separados e em segunda união, soma-se aos nomes de Raymond Leo Burke, George Pell, André Leonard de Bruxelas, Carlo Cafarra da Bolonha, Velasio de Paolis, Walter Brandmüller e bispos como George Ganswein, Celso Morga Iruzubieta, Jaime Silva, Carlos Aguiar (Celam) e mais algum outro latino-americano. Todos apostam que não pode passar o capítulo “divorciados em segunda união” e, sob nenhuma circunstância, outro ponto crucial e meditado largamente pelo Papa Francisco: a revisão do celibato obrigatório por uma decisão, em consciência, opcional... O poder da estrutura poderá mais do que a misericórdia?
Essa pergunta terá resposta na próxima semana, quando for se encerrando este Sínodo que pretende ser uma luz de esperança para milhões de católicos e pessoas de boa vontade, que buscam e acreditam na transparência e verdade do Evangelho de Jesus, mas que se distanciam diante das reiteradas mostras de uma Igreja mais punidora do que missionária e que deve estar ao serviço de uma autêntica pastoral não excludente e sem fronteiras restritivas.
“O sonho de Deus sempre enfrenta a hipocrisia de alguns de seus servidores. Podemos ‘frustrar’ o sonho de Deus se não nos deixamos guiar pelo Espírito Santo. O Espírito nos dá essa sabedoria que vai para além da ciência, para trabalhar generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade...”. (Papa Francisco – Homilia na abertura do Sínodo da Família).
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Conservadores se alinham para frear o Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU