03 Outubro 2014
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 21,33-43 que corresponde ao 27º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Fonte: http://www.periodistadigital.com/religion/ |
A parábola dos “vinhateiros homicidas” é o relato em que Jesus vai mostrando com traços alegóricos a história de Deus com o Seu povo eleito. É uma história triste. Deus tinha-os cuidado desde o início com todo o carino. Era a Sua “vinha preferida”. Esperava fazer deles um povo exemplar pela sua justiça e a sua fidelidade. Seriam uma “grande luz” para todos os povos.
No entanto, aquele povo foi repudiando e matando sucessivamente os profetas que Deus lhes ia enviando para recolher os frutos de uma vida mais justa. Por fim, num gesto incrível de amor, enviou-lhes o Seu próprio Filho. Mas os dirigentes daquele povo acabaram com Ele. Que pode fazer Deus com um povo que defrauda de forma tão cega e obstinada as Suas expectativas?
Os dirigentes religiosos que estão escutando atentamente o relato respondem espontaneamente nos mesmos termos da parábola: o senhor da vinha não pode fazer outra coisa que dar morte àqueles lavradores e colocar a sua vinha em mãos de outros. Jesus tira rapidamente uma conclusão que não esperavam: “Por isso Eu vos digo que se tirará a vós o Reino de Deus e será dado a um povo que produza frutos”.
Comentaristas e predicadores interpretaram com frequência a parábola de Jesus como a reafirmação da Igreja cristã como “o novo Israel” depois do povo judeu que, após a destruição de Jerusalém no ano setenta, dispersou-se por todo o mundo.
No entanto, a parábola fala também de nó. Uma leitura honesta do texto obriga-nos a fazer-nos graves perguntas: Estamos produzindo no nosso tempo “os frutos” que Deus espera do Seu povo: justiça para os excluídos, solidariedade, compaixão para com o que sofre, perdão...?
Deus não tem por que abençoar um cristianismo estéril do qual não recebe os frutos que espera. Não tem por que identificar-se com a nossa mediocridade, as nossas incoerências, desvios e pouca fidelidade. Se não respondemos às Suas expectativas, Deus continuará a abrir caminhos novos ao Seu projeto de salvação com outras pessoas que produzam frutos de justiça.
Nós falamos de “crise religiosa”, “descristianização”, “abandono da prática religiosa”... Não estará Deus preparando o caminho que torne possível o nascimento de uma Igreja mais fiel ao projeto do reino de Deus? Não é necessária esta crise para que nasça uma Igreja menos poderosa, mas mais evangélica, menos numerosa, mas mais entregue a fazer um mundo mais humano? Não virão novas gerações mais fiéis a Deus?
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Crise religiosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU