15 Agosto 2014
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 15,21-28 que corresponde ao 20º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
No Brasil celebra-se a Festa da Assunção de Maria.
Eis o texto
Uma mulher pagã toma a iniciativa de falar com Jesus mesmo não pertencendo ao povo judeu. É uma mãe angustiada que vive sofrendo com uma filha “atormentada por um demônio”. Sai ao encontro de Jesus dando gritos: “Tem compaixão de mim, Senhor, Filho de David”. A primeira reação de Jesus é inesperada. Nem sequer se detém para escutá-la. Todavia não chegou a hora de levar a Boa Nova de Deus aos pagãos. Como a mulher insiste, Jesus justifica a Sua atuação: “Só Me enviaram para as ovelhas desencaminhadas da casa de Israel”.
A mulher não se retira. Superará todas as dificuldades e resistências. Num gesto audaz prostra-se ante Jesus, detém a Sua marcha, e de joelhos, com um coração humilde mas firme, dirige-Lhe um só grito: “Senhor, socorre-me”.
A resposta de Jesus é insólita. Apesar de nessa época os judeus chamarem com toda a naturalidade “cães” aos pagãos, as suas palavras resultam ofensivas aos nossos ouvidos: “Não está bem deitar aos cães o pão dos filhos”. Retomando a sua imagem de forma inteligente, a mulher atreve-se do chão a corrigir Jesus: “Tens razão, Senhor, mas também os cães comem as migalhas que caem da mesa dos senhores”.
A sua fé é admirável. Seguramente que na mesa do Pai se podem alimentar todos: os filhos de Israel e também os cães pagãos. Jesus parece pensar só nas “ovelhas perdidas” de Israel, mas também ela é uma “ovelha perdida”. O Enviado de Deus não pode ser só dos judeus. Há-de ser de todos e para todos.
Jesus rende-se ante a fé da mulher. A Sua resposta revela-nos a sua humildade e a sua grandeza: “Mulher, que grande é a tua fé! Que se cumpra como desejas”. Esta mulher está a revelar-lhe que a misericórdia de Deus não exclui ninguém. O Pai Bom está por cima das barreiras étnicas e religiosas que traçam os humanos.
Jesus reconhece a mulher como crente apesar de viver numa religião pagã. Inclusive encontra nela uma “fé grande”, não a fé pequena dos Seus discípulos a quem recrimina mais de uma vez como “homens de pouca fé”. Qualquer ser humano pode aproximar-se de Jesus com confiança. Ele sabe reconhecer a sua fé apesar de viver fora da Igreja. Sempre encontrarão nele um Amigo e um Mestre de vida.
Os cristãos, temos de nos alegrar de que Jesus siga atraindo hoje a tantas pessoas que vivem fora da Igreja. Jesus é maior do que todas as nossas instituições. Ele continua a fazer muito bem, inclusivamente àqueles que se afastaram das nossas comunidades cristãs.
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