21 Junho 2014
"(...) Nenhum acadêmico poderá, a partir da pesquisa de Piketty, desconsiderar a enorme exclusão social gerada pelo capitalismo, ou a premente necessidade de uma ação que consiga reverter este quadro dramático", escreve Ronaldo Campos Carneiro, diretor da Câmara de Comércio Brasil Portugal - CCBP, em artigo, 06-2014.
Eis o artigo.
Quinze anos de pesquisa (1998-2013) destinada sobretudo para entender a dinâmica histórica de renda e riqueza em cerca de 20 países, retrocedendo cerca de 200 anos e muitas delas desde o inicio dos tempos, marcando fatos notáveis da humanidade, tais como revolução industrial, conflitos mundiais, crises econômicas, usando correções e harmonização de dados amplamente aceitas por instituições de credibilidade tais como Banco Mundial, ONU, FMI, permitiram a este professor economista francês de 43 anos da Escola de Economia de Paris Thomas Piketty, concluir que:
Capitalismo é altamente concentrador de renda e riqueza - é um processo onde rico fica mais rico e pobre fica mais pobre.
Estimativas para o século 21 são alarmantes, tornando inviáveis a convivência humana com as regras atuais.
A competição de mercado que se assiste hoje é como uma corrida de atletismo: alguns de barriga cheia e com acesso aos sistemas de saúde e de educação, disparados lá na frente; e uma multidão de excluídos lá atrás: o mínimo decente e justo é colocá-los na mesma linha de partida ou igualar as oportunidades na largada.
"A desigualdade excessiva é corrosiva do crescimento; é corrosiva para a sociedade. Acredito que os profissionais da economia e a comunidade política ignoraram a desigualdade por tempo demais." Cristine Lagarde, diretora Executiva do Fundo Monetário Internacional.
Penso que estas conclusões são irrefutáveis, nenhum acadêmico poderá, a partir da pesquisa de Piketty, desconsiderar a enorme exclusão social gerada pelo capitalismo, ou a premente necessidade de uma ação que consiga reverter este quadro dramático. Desigualdade é um complicador para a economia de mercado. Nunca podemos esquecer que a economia depende da oferta e demanda – de nada adianta ter oferta com redução da demanda ou vice versa. Somente os liberais sonhadores, imaginam que a economia pode funcionar só com oferta!!! Economia é uma ciência onde os agentes são regulados pela inexorável lei da oferta e procura. Política é uma arte onde prevalece a vontade humana. Este o motivo que não podem se misturar, economia e politica tem natureza distinta.
Esta total concordância com as conclusões de Piketty, me levam igualmente a uma total discordância de suas recomendações: taxação progressiva e imposto global sobre a riqueza. Este é o caminho mais rápido para o inferno, significa mais governo, burocracia, guerra, corrupção, ou ainda, na visão econômica: significa transferir recursos da lei da oferta e procura para a cambiante vontade humana de burocratas e políticos – a antessala do inferno. Nada é mais predatório que a ação do governo na economia - endividamento é o que governos sabem fazer e fazem sem parcimônia.
“Déficits significam futuros aumentos de impostos, pura e simplesmente. O aumento de déficits deve ser visto como um imposto sobre as futuras gerações, e os políticos que criam déficits deveriam ser condenados como criadores de impostos”. Ron Paul – ex senador americano (republicano)
“Não se esqueçam de que eu descobri que mais de noventa por cento de todos os déficits nacionais, de 1921 a 1939, foram causados por pagamentos pelas guerras passadas, presentes e futuras”. Franklin D. Roosevelt
“As pessoas não fazem guerras. São os governos que as fazem”. Ronald Reagan
Retrocedo ao ambiente da revolução americana – “jamais fortalecerás os fracos por enfraqueceres os fortes” e ao clima da revolução francesa com promessas de “liberdade, fraternidade e igualdade”
A desigualdade de oportunidades nas regras de convívio humano está gerando o mais terrível processo de dominação e servidão humana que é a ditadura da burocracia. A enorme quantidade de recursos financeiros em poder do Estado a serem alocados por atos de vontade humana estimula uma corrida desenfreada em políticos inescrupulosos que buscam o poder a qualquer custo, onde “não desdenham, em certos casos, alianças com a trapaça, fraude e corrupção” usando as palavras de VILFREDO PARETO.
Seria muito eficaz e útil que os formuladores econômicos se convençam de que aplicar mais medidas usando o mesmo referencial keynesiano chegaremos aos mesmos resultados. Temos que migrar para outro referencial se quisermos avançar no processo de desenvolvimento.
Os dirigentes econômicos devem ter consciência de que:
"Se eles fizerem apenas o que sempre fizeram, acabarão obtendo apenas o que sempre tiveram". Esta proposta de Piketty é mais do mesmo, que certamente levara a resultados medíocres.
A relação renda riqueza se assemelha a um rio fluindo em direção a uma barragem, onde a renda é a variável de fluxo ou a fluidez do rio e a riqueza a variável de estoque ou a acumulação na barragem. Ambos têm a mesma natureza, riqueza nada mais é que trabalho acumulado e somente este pode gerar riqueza. Piketty provou que tem gente colhendo sem plantar, ou gerando riqueza com trabalho alheio ou ainda quando o retorno do capital sobrepuja o rendimento do trabalho, produz acumulação predatória. É a economia patrimonialista que produz rendimento herdado de família ou de natureza politica: ser amigo do rei rende mais que o mérito e competência. Seria cômico se não fosse trágico imaginar que o controle de fluxos financeiros: moeda, cambio e crédito possa gerar desenvolvimento, como sugeriu Keynes. Apenas e somente trabalho produtivo consegue gerar capital.
“O trabalho existe antes, e é independente do capital. O capital é apenas o fruto do trabalho, e jamais teria existido sem a prévia existência do trabalho. O trabalho é superior ao capital, e merece muito mais consideração”
Esta verdade expressa por Abraham Lincoln deve ser resgatada por todos aqueles zumbis que estão vagando perdidos e descolados de conceitos básicos da economia.
Não se pode criticar sem propor algo em troca. Solução não esta no rol das ferramentas econômicas, mas no âmbito da politica, através de acordo pleno, real e verdadeiro em torno de um novo Pacto Social, onde nutrição, saúde e educação passam a ser reponsabilidades do processo produtivo privado e o governo, reduzindo a tributação correspondente, irá reduzir sua interferência na economia. Ao invés de transferir recursos do rico para o pobre, igualam-se as oportunidades de nutrição, saúde e educação. Não falamos de filantropia, mas num novo conceito de trabalho humano como processo de transformação de energia humana em energia física ou intelectual. Trata-se de substituir a cambiante lógica de ideias – ideologia – pela invariável lógica da vida – biologia. Certamente o empresário não ira agir por filantropia, é o pleno emprego produtivo que será o fiador deste Acordo de vontades.
Ideia é de uma simplicidade franciscana: Piketty provou que através de séculos de implantação de medidas distributivas em todos os países, ou ainda transferir recursos de ricos para pobres apenas conduz a mais exclusão social, vamos igualar a todos o acesso a nutrição, saúde e educação e liberar todo o arsenal e valores da economia de mercado. Foram estes valores que fizeram o ocidente prospero desde o século XIX e que já provaram sua eficácia.
Antes de qualificar esta proposta de utópica, teórica, ou irrealizável, é oportuno lembrar que a liberação total de preços e salários irá conduzir ao pleno emprego produtivo, vale dizer: salários serão ascendentes - não é necessário definir um salario mínimo - imaginem como foi a revolução industrial no inicio do século XIX.
"As instituições governamentais somente:
a) protegem os poderosos e os grupos de interesse,
b) criam hostilidade, corrupção, e desesperança,
c) limitam a prosperidade, e
d) reprimem a livre expressão e as oportunidades dos indivíduos"
IMB - Instituto Mises
Deixo, adiante, alguns desafios para reflexão no âmbito desta proposta:
1) setor agrícola e a reversão da migração campo - cidade
2) setor de saúde e educação e a eficácia do arsenal da empresa privada;
3) setor financeiro e sua inviabilização na compra e venda de papel com expressão monetária;
4) área politica e o desinteresse de aventureiros quando recursos escassearem
Finalmente, uma oportuna reflexão diante da realização de uma Copa do Mundo de futebol, ou de uma Olimpíada, imaginem como seria a competição caso houvessem influencias de natureza politica - burocrática na escalação das equipes e nas regras do jogo!!!
“No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”. Dante Alighieri (1265-1321)
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Livro "Capital" de Piketty – Resposta de um liberal convicto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU