13 Mai 2014
Foi publicada agora na Alemanha a monumental biografia sobre Max Weber, editada pela C. H. Beck: o sociólogo da Universidade de Marburg Dirk Kaesler é considerado há décadas um dos maiores conhecedores do pai da sociologia.
A reportagem é de Tonia Mastrobuoni, publicada no jornal La Stampa, 04-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E uma velha monografia sua sobre o gênio prussiano foi publicada anos atrás na Itália, pela editora Mulino. Mas Kaesler, embora reconhecendo a sua modernidade em algumas teses proféticas – a burocratização de tudo, o predomínio do capitalismo empresarial e a racionalidade ocidental –, convida sempre a considerar com grande cautela a suposta "modernidade" de Max Weber.
Por fim, sobre a intuição mais conhecida, a do suposto nexo entre ética protestante e capitalismo, o estudioso descobriu que a Itália tem muito a ver com isso. Paradoxalmente, a mais famosa teoria econômica sobre o protestantismo está muito relacionada com a capital mundial do catolicismo: Roma.
Eis a entrevista.
Qual é a atualidade do pensamento de Max Weber, por exemplo a sua análise sobre a relação entre racionalidade e Ocidente?
Estou entre aqueles que tentam proteger Max Weber de uma excessiva modernização. Não acredito que se possa entender o seu pensamento desvinculando-o da sua época. É inútil perguntar, por exemplo, "o que Max Weber diria sobre a crise na Ucrânia".
No entanto, existem três grandes temas que o tornam eterno. Em primeiro lugar, o conceito de "betriebskapitalismus", do capitalismo empresarial racional que se tornou imperante depois. O segundo é a progressiva burocratização de tudo. Mas talvez seja o terceiro que nos envolva mais hoje em dia: o da racionalidade ocidental e da posição do Ocidente em relação ao restante do mundo. Weber estava convencido de que, mais cedo ou mais tarde, ele prevaleceria sobre tudo.
Hoje, ao contrário, damo-nos conta mais do que nunca que existem fortes resistências a esse modelo – basta pensar no Islã. No entanto, é preciso ter atenção ao adotar o pensamento de Weber sem filtros: ele deve ser sempre inserido na sua época e interpretado com espírito crítico.
Um dos livros mais famosos, mas também mais criticados, é o da relação entre ética protestante e capitalismo. Essa tese sobrevive ainda hoje?
Na minha biografia, eu tento contar como Roma e a Itália foram importantes para Max Weber. E sou o primeiro a fazer isso. Weber começou a escrever essa obra justamente em Roma: não é um detalhe. Vivendo cotidianamente o catolicismo, Weber começou a refletir sobre si mesmo e sobre a sua confissão, sobre o protestantismo. É um nexo importante: a Itália vivida por Weber, a leveza dos italianos, a sua vontade de viver o induziram a refletir sobre a sua identidade de prussiano, sobre o protestantismo, sobre o seu "peso".
Muitos, no entanto, questionaram a causalidade entre ética protestante e capitalismo.
Certamente, mas, para além da crítica sobre os pontos individuais, o filão narrativo da ética protestante e do capitalismo se tornou um grande filão da sociologia moderna. Tornou-se um lugar tão comum que, em muitos países, ele funciona como uma profecia que se autorrealiza. Então, não importa mais que Max Weber tinha razão ao escrever que o calvinismo predestinou certos povos ao capitalismo (ou vice-versa, como alguns defendem). É uma tese que funciona porque as pessoas acreditam nela. Nos Estados Unidos, a "Weber thesis" funciona porque é conhecida por todos, mesmo entre milhões de pessoas que nunca leram uma linha de Weber.
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Max Weber, o protestantismo e o capitalismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU