13 Mai 2014
No dia 21 de abril, lembramos o 150º aniversário de nascimento de Max Weber, uma oportunidade para revisitar algum ponto crítico para verificar a sua força analítica, ainda hoje.
A análise é do historiador e cientista político italiano Gian Enrico Rusconi, professor emérito da Universidade de Turim, em artigo publicado no jornal La Stampa, 04-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
"A política como profissão", "o líder carismático", "a ética da convicção e a ética da responsabilidade", "a ética protestante é o espírito do capitalismo", "a racionalidade como essência do Ocidente". Quem hoje, em uma conversa erudita mesmo entre amigos, não usa essas expressões, na certeza de encontrar aprovação? Essa é a herança intelectual de um dos "clássicos" da ciência política, da sociologia, da história do século passado – Max Weber.
Dele se lembra, nestes dias, o 150º aniversário de nascimento [21 de abril de 1864]. O rito dos aniversários se presta a duas operações. Ou é um repasso de citações, ou fornece a oportunidade para revisitar algum ponto crítico para verificar a sua força analítica, ainda hoje.
Comecemos pela política. Weber cultiva um realismo político que não deixa espaço para aquela ênfase na "sociedade civil", nos conceitos de "cidadania" e de "participação democrática" que é característica do nosso tempo. A democracia, para ele, é substancialmente um mecanismo de governo de interesses que requerem um guia, um líder (ou seja, com o termo alemão histórico, que aos nossos ouvidos soa sinistro, um Führer).
O líder, naturalmente, deve ser expressado por mecanismos eleitos: "Um Parlamento forte e partidos parlamentares responsáveis devem servir como lugares de seleção e de prova dos chefes das multidões, assim como regentes do Estado". Mas o chefe só o é se possuir o "carisma", se possuir dotes de atração, consenso e "sedução em massa". Deve-se justamente a Weber a utilização definitivamente positiva desse conceito na política, embora tenha componentes ambíguos de tipo "demagógico".
É fácil ver hoje o seu potencial perigoso (a Führerdemokratie, que alguns estudiosos italianos traduzem com constrangimento, oscilando entre "democracia autoritária" ou "democracia guiada"). Não há dúvida alguma, porém, de que Weber, liberal convicto, não cultivava qualquer tendência autoritária. Ele pensava em uma espécie de democracia presidencial que, enquanto ele estivesse vivo, poderia se instaurar na Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial.
A morte prematura (1920) de Weber o impediu de verificar se a sua hipótese tinha contribuído para levar à crise da democracia alemã, por causa do abuso das competências presidenciais da Constituição weimariana, abrindo as portas para o Führer por antonomásia.
A essa problemática é dedicado o livro A política como profissão. Solidamente enquadradas em uma ética política (distinta entre convicção e responsabilidade), ancoradas em uma sólida ideia de profissão/vocação (de longínqua matriz religiosa), as teses weberianas são isentas de toda suspeita de tendências fascistoides, autoritárias ou populistas (como dizemos hoje).
Pode-se objetar que a lição weberiana continua sendo substancialmente de ordem ética, sem que tenha encontrado uma clara fórmula político-institucional. Mas como negar que, de fato, hoje, as democracias mais eficientes são aquelas que têm executivos guiados por personalidades que contam com fortes competências institucionais e possuem capacidades decisionais? Que gozam de um consenso em massa que também utiliza até mesmo inescrupulosamente o sistema midiático (desconhecido para Weber)? Em suma, que, de algum modo, são chefes carismáticos?
Certamente, contra todo desvio ou tentação populista, vale a recomendação de que o verdadeiro líder sabe conciliar a determinação à ação que decorre das suas convicções com a ética da responsabilidade para com a pluralidade dos interesses que deve governar. Incluindo um cuidadoso cálculo das consequências não previstas das suas decisões.
Isso nos leva a algumas considerações sobre a outra tese que fundamenta o pensamento de Weber: a racionalidade ou o racionalismo como um traço característico ou, melhor, como "essência" do Ocidente. Algumas das suas páginas parecem a apoteose do racionalismo ocidental, que encontra a sua realização no Estado moderno, dotado de uma Constituição racionalmente promulgada, de um direito racionalmente constituído, de uma administração de funcionários especialistas, apoiado pela ciência da política e da organização capitalista da economia, que é definida como "o poder mais fatal" do Ocidente.
Naturalmente, Weber vê os lados negativos dessa construção. Por um lado, a burocratização do sistema que o reduz a uma paralisante "gaiola de aço" e, por outro, a subordinação da lógica do capitalismo a uma visão e a uma prática predatória, enquanto a economia produtiva real dá lugar à mera especulação financeira. Esse é o resultado que temos sob os nossos olhos.
Mas, nesse ponto, devemos ampliar o discurso sobre a ideia de racional e de racionalidade que percorre o pensamento weberiano – da política à economia, passando pela religião. A racionalidade, de fato, sempre convive com o seu oposto, com a irracionalidade. O irracional é o polo de referência do racional e, ao mesmo tempo, aquilo que, no seu núcleo profundo, é irredutível a ele. Ele expressa a "vida", em cujo âmbito se gera o elemento carismático, profético, demoníaco e erótico – todas potências ativas e positivas da experiência vital.
O texto que trata dessa problemática é a Consideração intermediária (na Sociologia das religiões), em que a existência humana é apresentada como um conjunto de esferas vitais em conflito entre si, porque cada uma segue uma lógica específica própria.
Assim é para a esfera da ética religiosa, que entra em tensão com a esfera da economia e da política, que é a depositária do monopólio do uso legítimo da força. Mas não menos dramática e radical é a tensão entre a sexualidade e a ética da fraternidade, entre a esfera erótica e a da religião. O erotismo, em particular, aparece como uma força de ruptura irresistível em relação ao irracional, "uma porta ao núcleo mais irracional e, ao mesmo tempo, mais real da vida".
Mas é na esfera religiosa que se consuma o contraste mais radical. "Com o crescimento do racionalismo da ciência empírica, a religião é progressivamente expulsa do domínio do racional no irracional e se torna a potência irracional e antirracional suprapessoal tout court".
São palavras fortes, um pouco de " enigmáticas em sua finalidade. Mas ter um olhar muito mais penetrantes discussões hoje sobre a secularização atual ou vice versa sobre o " retorno da religião " no poder comunicativo dos novos carismas de personalidades religiosas. O estudioso Weber do fenômeno religioso é confirmado como intelectualmente estimulante e mais do estudioso do racionalismo capitalista ou política. Merece mais atenção no discurso público e de direito público.
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Weber, a infância liberal do líder carismático. Artigo de Gian Enrico Rusconi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU