Por: André | 25 Março 2014
Está se registrando uma formidável tempestade que poderíamos denominar de solução Kasper para os divorciados recasados. O cardeal alemão Walter Kasper, que acaba de completar 81 anos, a expôs no Consistório de cardeais de fevereiro passado e de lá para cá não há dia em que outros cardeais ou altos eclesiásticos não manifestem que sua proposta é absolutamente impossível de ser colocada em prática. Por outro lado, têm o apoio dos bispos alemães e em algum momento será preciso analisar a causa “material” desse empenho germânico, que também se estende a outros países centro-europeus.
A reportagem é de Javier Mora e publicada no jornal La Coruña, 23-03-2014. A tradução é de André Langer.
Pois bem, apesar das surradas nada discretas que a solução Kasper recebe – que está em sintonia com as ideias do Papa Bergoglio –, este temporal em relação a um dos fundamentos da Igreja, isto é, a indissolubilidade do matrimônio, mal chega aos meios de comunicação. Não obstante, tal vazio informativo seria outra prova de como a popularidade do Papa absorve todo o conteúdo informativo sobre a Igreja, e de tal modo que o Pontífice e sua boa imagem agem como escudo dissipador de notícias sobre a marcha real do catolicismo. Isto também mereceria outra análise detalhada.
Em todo o caso, a solução Kasper de que um divorciado recasado possa receber o perdão sacramental e a comunhão eucarística – do que hoje são excluídos pela Igreja – consiste no seguinte, segundo sua própria intervenção diante dos 150 cardeais: “A um divorciado recasado:
1. se se arrepende de seu fracasso no primeiro matrimônio,
2. se esclareceu as obrigações do primeiro matrimônio e se excluiu de maneira definitiva voltar atrás,
3. se não pode abandonar sem outras culpas os compromissos assumidos com o novo casamento civil,
4. se se esforça para viver ao máximo de suas possibilidades o segundo matrimônio a partir da fé e educar seus filhos na fé,
5. se deseja os sacramentos como fonte de força em sua situação, devemos ou podemos negar-lhe, depois de um tempo de nova orientação, o sacramento da penitência e depois o da comunhão?”
Este caminho Kasper baseia no fato de que “não pode haver alguma dúvida sobre o fato de que na Igreja primitiva, em muitas Igrejas locais, e por direito consuetudinário havia depois de um tempo de arrependimento a prática da tolerância pastoral, da clemência e da indulgência”. Ou seja, um argumento de autoridade tomado da história ou de uma tradição que teve certa vigência durante um tempo.
Na mesma intervenção, Kasper também se perguntou sobre o divorciado recasado e penalizado sem sacramentos. “Não é, talvez, uma instrumentalização da pessoa que sofre e pede a ajuda se fazemos dela um sinal e uma advertência para os outros? Deixamos que morra sacramentalmente de fome para que outros vivam?” São duas perguntas-bombas e cujo substrato é tremendamente complexo e muito antigo: a tensão entre o indivíduo e as normas do grupo a que pertence, assim como a exemplaridade das penas frente ao perdão e a misericórdia cristã.
Diante da proposta de Kasper, manifestaram-se com grande contundência os cardeais Müller, Caffarra, O’Malley ou Burke, autênticos porta-aviões da frota católica; e a seu favor o fez o cardeal Reinhard Marx, recém eleito presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha. Passarão mais dias e temporais e em algum momento Francisco resolverá. Ou não?