21 Março 2014
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo
João 4, 5-42 que corresponde ao Terceiro Domingo de Quaresma, Ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Fonte: http://www.periodistadigital.com/religion/ |
A cena é cativante. Cansado do caminho, Jesus senta-se junto ao manancial de Jacob. Rapidamente chega uma mulher a recolher água. Pertence a uma população meio pagã, desprezada pelos judeus. Com toda a espontaneidade, Jesus inicia o diálogo. Não sabe olhar para ninguém com desprezo, mas sim com grande ternura. “Mulher, dá-me de beber”.
A mulher fica surpreendida. Como se atreve a entrar em contato com uma samaritana? Como se rebaixa a falar com uma mulher desconhecida? As palavras de Jesus surpreendem-na ainda mais: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede de beber, serias tu a pedir-lhe, e Ele te daria da água da vida”.
São muitas as pessoas que, ao longo destes anos, foram se afastando de Deus, sem dar-se conta do que realmente estava a ocorrer no seu interior. Hoje, Deus é-lhes um “ser estranho”. Tudo o que está relacionado com Ele lhes parece vazio e sem sentido: um mundo infantil, cada vez mais distante.
Entendo-os. Sei o que podem sentir. Também eu me fui afastando pouco a pouco daquele “Deus da minha infância” que despertava dentro de mim tantos medos, mal-estar e desconforto. Provavelmente, sem Jesus nunca me teria encontrado com um Deus que hoje é para mim um Mistério de bondade: uma presença amistosa e acolhedora em que posso confiar sempre.
Nunca me atraiu a tarefa de verificar a minha fé com provas científicas: creio que é um erro considerar o mistério de Deus como se fosse um objeto de laboratório. Tampouco os dogmas religiosos me ajudaram a encontrar-me com Deus. Simplesmente deixei-me conduzir por uma confiança em Jesus que foi crescendo com os anos.
Não saberia dizer exatamente como se sustenta hoje a minha fé no meio de uma crise religiosa que me sacode também a mim como a todos. Só diria que Jesus trouxe-me a viver a fé em Deus de forma simples do fundo do meu ser. Se eu escuto, Deus não se cala. Se eu me abro, Ele não se fecha. Se eu me confio, Ele me acolhe. Se eu me entrego, Ele me sustém. Se eu me afundo, Ele me levanta.
Creio que a experiência primeira e mais importante é encontrar-nos à vontade com Deus, porque O percebemos como uma “presença salvadora”. Quando uma pessoa sabe o que é viver à vontade com Deus, porque apesar da nossa mediocridade, nossos erros e egoísmos, Ele nos acolhe tal como somos e nos impulsiona a enfrentar a vida com paz, dificilmente abandonará a fé. Muitas pessoas estão hoje abandonando Deus antes de tê-lo conhecido. Se conhecessem a experiência de Deus que Jesus contagia, procurá-lo-iam.
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À vontade com Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU