24 Fevereiro 2014
As palavras do Papa Francisco ao cardeal alemão têm um significado importante sobre o pano de fundo dos últimos 30 anos de história da teologia católica.
A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Saint Paul, nos EUA. O artigo foi publicado no jornal Europa, 21-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Um papa jesuíta como Francisco soube até agora cobrir bem os seus próprios rastros, no sentido dos seus teólogos e pensadores de referência. A diferença em relação aos outros papas pós-conciliares é visível: os franceses Maritain e Guitton, para Paulo VI; a filosofia personalista e fenomenológica para João Paulo II; e Ratzinger, o teólogo, para Bento XVI, o papa.
O Papa Bergoglio esclareceu – se poderia dizer até resolveu – a questão da relação (dele e de toda a Igreja) com a preciosa herança da teologia da libertação; mas, com relação ao resto, Francisco não deu mostras dos seus teólogos de referência. Com uma exceção vistosa: o teólogo acadêmico, bispo alemão e depois cardeal Walter Kasper.
Desde os primeiros dias, o Papa Francisco falou em público sobre Walter Kasper como um dos teólogos que ele lê e aprecia. Na primeira ocasião, no seu primeiro Ângelus de 17 de março de 2013, Francisco falou referindo-se ao recente livro sobre a misericórdia (publicado pela Queriniana, que se tornou um best-seller instantâneo).
Mas as referências de Francisco a Kasper dizem mais, especialmente no que se refere à questão da qual o consistório dos cardeais nestes dias está se ocupando, ou seja, a disciplina dos sacramentos para os católicos divorciados. Em primeiro lugar, Kasper é o teólogo, dentre outras coisas, da tradição alemã de reflexão sobre a relação entre fé e história, ou sobre a historicidade do cristianismo e das suas formulações – questão-chave na reflexão sobre Igreja e moral moderna.
Em segundo lugar, a pública elevação por parte do Papa Francisco de Walter Kasper a teólogo-guia da reflexão em curso equivale a uma reparação do papel do Kasper em uma Igreja católica que sempre viu (com ou sem razão) o teólogo Ratzinger de um lado e grande parte da teologia contemporânea restante do outro. Quem estudou e viveu na Igreja alemã sabe que as palavras do Papa Francisco ao cardeal suábio Walter Kasper têm um significado importante, no pano de fundo dos últimos 30 anos de história da teologia católica.
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As reformas de Francisco e o cardeal Kasper. Artigo de Massimo Faggioli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU