10 Dezembro 2013
De repente, o zumbido da imensa multidão atarefada pulando de loja em loja em busca de presentes se aplacou, quase silenciou. Durante meia hora na Piazza di Spagna, coração do centro comercial e do luxo, o zumbido deu lugar a um silêncio incomum. O Papa Bergoglio recolhido em oração, encolhido no seu casaco branco, debaixo da coluna de mármore financiada por Fernando II, rei das duas Sicílias como ato simbólico de reconciliação com a Igreja e dedicada ao dogma da Imaculada Conceição, repetia o "ato de devoção filial a Maria, para lhe confiar a cidade de Roma, a Igreja e a humanidade inteira".
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messagero, 09-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Francisco se apresentou no compromisso que marca o início do período de Natal com um pouco de frio e com um buquê de flores na mão, que ele logo colocou aos pés do pedestal, recitando no microfone uma oração composta por ele para o rito tradicional.
Por trás das barreiras, uma multidão imponente, inacreditavelmente prensada, escutava. "Que o grito dos pobres nunca nos deixe indiferentes, que o sofrimento dos doentes e de quem passa necessidade não nos encontre distraídos, que a solidão dos idosos e a fragilidade das crianças nos comovam, que cada vida humana seja sempre amada e venerada por todos nós".
Todos os anos o rito do dia 8 de dezembro se repete de um modo reconfortante, mas desta vez o efeito Bergoglio podia ser medido pelas explosões de entusiasmo que irrompiam com a sua passagem e pelos quilômetros de barricadas dispostas ao longo de todo o percurso, necessárias para conter todas as pessoas, congestionando assim o centro da cidade.
Quebra de protocolo
Francisco teria gostado de ficar um pouco mais na Piazza Mignanelli e se misturar livremente entre as pessoas, para acariciá-las, trocar algumas palavras, talvez os votos pelas festas. Uma consulta rápida com os homens da sua comitiva que lhe avisavam que ele tinha que sair imediatamente prolongou a visita mais alguns minutos.
O papa fez de tudo para não decepcionar os doentes do Unitalsi que o esperavam pacientes desde as 11 horas, no frio, aquecidos com cobertores e garrafas térmicas com chá. Assim, ele se dirigiu ao grupo dos doentes em cadeira de rodas com passo firme. "Estou contente em conhecê-lo." "Reze por mim, eu preciso." "Obrigado pelo livro que você me trouxe."
Apertos de mão, beijos, abraços, carícias e de novo apertos de mão, beijos, abraços e carícias. Cerca de 50 pessoas com deficiência tinham chegado de Oristano, uma das regiões da Sardenha mais afetadas pelo mau tempo. Entre eles também pai e filha, Carmine e Ilaria Pau, ambos salvos por um triz pela brigada de incêndio, o emblema de uma tragédia de enormes proporções, e pela qual Francisco dirigiu um apelo pedindo para que as vítimas das enchentes não sejam deixadas sozinhas.
As autoridades saudaram o papa por primeiro, o presidente da província, Zingaretti, e o prefeito de Roma, Marino, ao qual reservou uma caloroso abraço, um beijo e uma troca de palavras. Via Condotti, Piazza di Spagna e Santa Maria Maior foram as etapas da turnê romana para homenagear Nossa Senhora.
Bergoglio, no fim, partiu no costumeiro carro de baixo perfil, um Ford Focus azul, placa 00919, e utilizado também para ir ao Palácio Quirinal no mês passado. Sentou na frente e manteve a janela aberta para cumprimentar os romanos e os turistas que lotavam as barreiras, enlouquecendo os homens da segurança. A Rádio Vaticano resumiu: para os guarda-costas, são calafrios, mas para o Papa Francisco é pura alegria.
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Banho de multidão para o Papa Francisco em carro popular - Instituto Humanitas Unisinos - IHU