Por: André | 25 Novembro 2013
“A Doutrina Social não tolera que os lucros sejam daqueles que produzem e que a questão social seja relegada ao Estado ou às ações de assistência e de voluntariado [...] Necessita-se de coragem, pensamento e a força da fé para estar dentro do mercado, para estar dentro do mercado, guiados por uma consciência que coloca no centro a dignidade da pessoa e não o ídolo dinheiro”. A afirmação é do Papa Francisco no vídeo-mensagem enviado nesta quinta-feira à tarde a Verona e que foi transmitida durante a abertura do Festival da Doutrina Social, que este ano é realizado para refletir sobre o tema “Menos desigualdades, mais diferenças”. Um título, explicou o Papa, que “evidencia a riqueza plural das pessoas como expressão dos talentos pessoais e que se distancia da homologação que mortifica e torna desiguais”.
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Fonte: http://bit.ly/I8IZiT |
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 22-11-2013. A tradução é de André Langer.
Bergoglio voltou a falar sobre os jovens e os idosos. “Hoje, os jovens e os idosos são considerados descartáveis porque não respondem às lógicas produtivas numa visão funcionalista da sociedade, não respondem a nenhum critério útil de investimento. Diz-se que são “inativos”, não produzem, na economia do mercado não são sujeitos de produção. Mas não devemos esquecer que os jovens e os idosos carregam consigo, cada qual, uma grande riqueza: ambos são o futuro de um povo”.
Francisco falou depois sobre a “porcentagem de jovens que neste momento não têm trabalho: em alguns países fala-se de 40% dos jovens” desempregados. “Esta é uma hipoteca, é uma hipoteca para o futuro”.
O Papa também indicou que a Doutrina Social da Igreja é “um grande ponto de referência”, muito útil “para não se perder”. “Quem trabalha na economia e nas finanças – disse Francisco – seguramente sente-se atraído pelo lucro e se não estiver atento, coloca-se a serviço do próprio lucro. Assim, torna-se escravo do dinheiro. A Doutrina Social contém um patrimônio de reflexões e de esperanças que é capaz, também hoje, de orientar as pessoas e de conservá-las livres. Necessita-se de coragem, pensamento e a força da fé para estar dentro do mercado, para estar dentro do mercado, guiados por uma consciência que coloca no centro a dignidade da pessoa e não o ídolo dinheiro”.
A colocação em prática da Doutrina Social, explicou Bergoglio, “contém em si uma mística. Parece tirar de ti algo, parece que colocá-la em prática te tira do mercado, das regras correntes. Vendo os resultados em seu conjunto, esta mística implica, ao contrário, um enorme ganho, porque é capaz de criar desenvolvimento justamente enquanto (na sua visão de conjunto) exige ocupar-se dos desempregados, das fragilidades, das injustiças sociais e não está submetida às distorções de uma visão economicista”.
“A Doutrina da Igreja – disse o Papa – não tolera que os lucros sejam daqueles que produzem e que a questão social seja relegada ao Estado e às ações de assistência e de voluntariado. É por isso que a solidariedade é uma palavra chave. Mas nós, neste tempo, corremos o perigo de apagá-la do dicionário, porque é uma palavra incômoda, e inclusive (se me é permitido) é quase uma grosseria. Para a economia e para ao mercado, a solidariedade é quase uma grosseria”.
Para concluir, Francisco falou sobre a cooperação. Recordou um episódio da sua vida familiar: “Eu lembro, era jovem, tinha 18 anos, era em 1954, e ouvi o meu pai fazer uma conferência sobre o cooperativismo cristão, e desde aquele tempo me entusiasmei com isto, vi que aquele era o caminho. É precisamente o caminho para uma igualdade, mas não para a homogeneidade, uma igualdade nas diferenças. Também economicamente é lenta. Lembro ainda daquela reflexão do meu pai: segue em frente, lentamente, mas é segura”.
O Papa aludiu também a um encontro que teve há alguns meses com os representantes do mundo das cooperativas: “Consolou-me muito e creio que é uma boa notícia para todos ouvir que, para responder à crise, reduziu-se o ganho, mas manteve-se o nível de emprego. O trabalho é muito importante. Trabalho e dignidade da pessoa andam de mãos dadas. A solidariedade deve ser aplicada para garantir o trabalho; a cooperação representa um elemento importante para garantir a pluralidade de presenças entre os empregadores do mercado. Hoje, ela é objeto de algumas incompreensões, inclusive em nível europeu, mas creio que não considerar atual esta forma de presença no mundo produtivo constitui um empobrecimento que deixa espaço às homologações e não promove as diferenças e as identidades”.
Por isso, o mundo da cooperação deve converter-se num “sujeito capaz de pensar nas novas formas de Welfare. Espero que possam encher de novidade a sequência dos acontecimentos. E assim imitamos também o Senhor, que sempre nos faz prosseguir com surpresas, com a novidade”.
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A solidariedade é útil para a economia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU