15 Novembro 2013
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo
Lucas 21, 5-19 que corresponde ao 33º Domingo do Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Nos evangelhos recolhem-se alguns textos de caráter apocalíptico em que não é fácil diferenciar a mensagem que pode ser atribuída a Jesus e as preocupações das primeiras comunidades cristãs, envolvidas em situações trágicas enquanto esperam, com angústia e no meio de perseguições, o final dos tempos.
Segundo o relato de Lucas, os tempos difíceis não hão de ser tempos de lamentos e desalento. Não é tampouco a hora da resignação ou da fuga. A ideia de Jesus é outra. Precisamente em tempos de crise “tereis ocasião de dar testemunho”. É então quando nos é oferecida a melhor ocasião de dar testemunho da nossa adesão a Jesus e ao Seu projeto.
Levamos já cinco anos sofrendo uma crise que golpeia duramente a muitos. O ocorrido nestes tempos permite-nos conhecer já com realismo o dano social e o sofrimento que gera. Não terá chegado o momento de avaliarmos como estamos reagindo?
Talvez, o primeiro seja rever profundamente a nossa atitude: Temos nos posicionado de forma responsável, despertando em nós um sentido básico de solidariedade, ou estamos vivendo de costas para tudo o que pode perturbar a nossa tranquilidade? Que fazemos a partir dos nossos grupos e comunidades cristãs? Teremos marcado uma linha de atuação generosa, ou vivemos celebrando a nossa fé à margem do que está acontecendo?
A crise está abrindo uma fratura social injusta entre aqueles que podem viver sem medo do futuro e aqueles que estão sendo excluídos da sociedade e privados de uma saída digna. Não sentimos o chamado para introduzir alguns “recortes” na nossa vida para poder viver os próximos anos de forma mais sóbria e solidária?
Pouco a pouco, vamos conhecendo mais de perto quem vai ficando mais indefenso e sem recursos (famílias sem rendimento algum, desempregados de longa duração, imigrantes doentes...). Será que nos preocupamos em abrir os olhos para ver se podemos comprometer-nos em aliviar a situação de alguns? Poderemos pensar em alguma iniciativa realista a partir das comunidades cristãs?
Não devemos esquecer que a crise não só cria empobrecimento material. Gera, também, insegurança, medo, impotência e experiência de fracasso. Desfaz projetos, afunda famílias, destrói a esperança. Não teremos de recuperar a importância da ajuda entre familiares, o apoio entre vizinhos, o acolhimento e acompanhamento a partir da comunidade cristã...? Poucas coisas podem ser mais nobres nestes momentos que o aprender a cuidar-nos mutuamente.
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Tempos de crise - Instituto Humanitas Unisinos - IHU