Por: Cesar Sanson | 09 Outubro 2013
A adesão da ex-senadora Marina Silva ao PSB dividiu a bancada ruralista, até então simpática à candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Enquanto alguns ficaram eufóricos com o fortalecimento da candidatura do pernambucano, a maioria viu com estranheza a filiação e considera que, a depender do papel de Marina no partido, os apoios do setor podem migrar para o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
A reportagem é de Raphael Di Cunto e Tarso Veloso e publicada pelo jornal Valor, 09-10-2013.
Campos fazia, e ainda faz, gestos de aproximação com o setor do agronegócio. Tem tomado a iniciativa de ligar pessoalmente com parlamentares da bancada ruralista para conversar e convidar para reuniões, além de participar de encontros com associações da área. Há cerca de 40 dias pediu ao ex-deputado Odacir Zonta, um dos líderes das cooperativas do agronegócio, a elaboração de propostas para o setor.
O Valor apurou que entre os nomes sondados para colaborar com o texto estão os ex-ministros da Agricultura Francisco Turra, do governo Fernando Henrique Cardoso, e Roberto Rodrigues, do governo Lula. Turra está em viagem no exterior e negou ontem o contato e Rodrigues não foi encontrado até o fechamento desta edição.
Zonta, que é suplente pelo PP de Santa Catarina, foi um dos políticos que se filiaram ao PSB recentemente para concorrer na eleição de 2014. Campos também levou para o partido outro deputado ligado ao agronegócio, Alexandre Toledo, ex-secretário de Agricultura do Alagoas que tem pretensão de ser o candidato do partido ao governo do Estado. Eles terão que dividir espaço com dois deputados levados por Marina: Alfredo Sirkis (RJ), ex-PV, e Walter Feldman (SP).
Para Zonta, a aliança é normal e foi a grande jogada política deste ano. "Foi a consolidação da terceira via", diz. Segundo ele, Campos tem apoio de 90% dos sindicatos de empresas e de trabalhadores rurais de Santa Catarina, resultado de um encontro no início de agosto em que o pernambucano fez um aceno em tema sensível ao setor: a demarcação de terras indígenas.
"Ele defendeu o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da demarcação da reserva Raposa da Serra do Sol, de que os índios têm direito sobre as terras que ocupavam até a promulgação da Constituição Federal em 1988 e de que não podem reivindicar terras que haviam deixado", afirma Zonta, que recebeu ligações de Campos na segunda e terça-feira para reforçar o pedido de interlocução com o setor.
Ex-tucano, Toledo também defende a aliança do ex-governador com Marina. "O governo está sem rumo desde que a Dilma assumiu e ele se posicionou como alternativa. Tem dialogado com os diversos setores para construir um projeto para o país e com certeza vai manter a simpatia do agronegócio, tanto dos pequenos quanto dos grandes produtores", afirma.
De fora do PSB, os apoios da bancada ruralista foram mais contidos. Presidente da Comissão da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional, o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) conversou com Campos na semana passada e diz que a filiação ainda tem que ser maturada. "O fato positivo é que esta aliança mexeu no tabuleiro da política. Não adianta nós gostarmos do Eduardo e ele não ter viabilidade eleitoral", pontua.
Goergen reage ao que diz serem tentativas do PSDB de afastar o setor de Campos. "Não podemos entrar nesta disputa agora porque só fortalece o governo. Nosso problema não é só com a Marina. No Código Florestal e questões indígenas, Dilma também não nos apoiou", afirma. Na segunda-feira, o ex-presidente Fernando Henrique declarou que, "baixada a poeira", começariam a aparecer os problemas da aliança entre Campos e Marina.
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que reúne cerca de 170 parlamentares, o deputado Luís Carlos Heinze (PP-RS) afirma que Campos buscava estreitar relações com o grupo, mas que não sabe o impacto que essa aliança vai causar. "A ministra e hoje candidata Marina Silva tem um discurso radical em relação ao nosso setor. Seguramente, muitos colegas não vão aceitar essa posição."
O deputado Valmir Colatto (PMDB-SC) lembra que a divergência é tão grande que Marina declarou publicamente que não aceitaria o apoio nem filiação de pessoas ligadas ao agronegócio no Rede Sustentabilidade, partido que tentava criar para disputar a eleição de 2014. "Tenho simpatia pelo Eduardo, mas ele vai perder muito apoio do setor". Moreira Mendes (PSD-RO) vai mais longe. "Ouvi muitas críticas. Muita gente que estava se aproximando dele vai puxar o freio."
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Adesão de Marina divide ruralistas e ameaça aproximação a Campos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU