Por: André | 13 Setembro 2013
O Vaticano declarou formalmente sua intenção de colaborar com as autoridades da República Dominicana no processo contra o ex-núncio nesse país, Josef Wesolowski, acusado de abusos sexuais contra menores. A informação foi dada pelo porta-voz vaticano Federico Lombardi, no momento em cresce a polêmica na América Central diante de uma gestão pública deficitária do escândalo por parte da Igreja.
A reportagem é de Andrés Beltramo Alvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 12-09-3013. A tradução é de André Langer.
“No mês de agosto a Secretaria de Estado – através do embaixador da República Dominicana na Santa Sé – declarou sua intenção de colaborar com as autoridades dominicanas caso essas o solicitarem. O chamado do núncio não constitui em absoluto a intenção de evitar que se assuma a responsabilidade sobre o que eventualmente será confirmado”, assinalou em uma declaração oficial.
Com essas palavras, Lombardi tentou aplacar as crescentes críticas de juristas, políticos e jornalistas dominicanos sobre a maneira como foi tratado o caso em nível eclesiástico. A imprensa lançou três questionamentos pontuais: se as autoridades da Igreja tinham conhecimento das denúncias contra o núncio, por que não as transmitiram à justiça civil? Por que a Santa Sé chamou para Roma o diplomata, livrando-o assim de um possível processo judicial no país centro-americano? E por que se minimizou a natureza das acusações, quando todos sabiam que se tratava de abusos contra menores?
Segundo precisou neste dia o diretor da Sala de Imprensa vaticana, no mês de julho passado, pouco antes da viagem do Papa ao Brasil, o cardeal arcebispo de Santo Domingo, Nicolás de Jesús López Rodríguez, informou diretamente em Roma a Francisco sobre as acusações que pesam contra o núncio.
“Em consequência, a Secretaria de Estado interveio rapidamente, no início de agosto, imediatamente depois da volta da viagem ao Brasil, chamando o núncio, removendo-o do seu posto e dando início a uma investigação a cargo da Congregação para a Doutrina da Fé”, apontou.
Depois destas palavras do porta-voz Lombardi não há dúvidas: Wesolowski está sendo investigado por tribunais vaticanos sob a acusação de abusos contra menores. A esta altura do caso a precisão poderia parecer banal, mas não é depois do lamentável espetáculo proporcionado pela Conferência do Episcopado da República Dominicana há apenas alguns dias.
Na quinta-feira, dia 05 de setembro, representantes desse organismo convocaram uma entrevista coletiva para abordar esta e outras situações de sacerdotes infiéis. Na mesma, não apenas se limitaram a divulgar uma mensagem do arcebispo de Santo Domingo pedindo perdão, como entraram em detalhes do caso do ex-núncio.
Aí mesmo e diante de jornalistas tentaram colocar em dúvida os verdadeiros motivos da remoção do diplomata. Dessa maneira, pareceu que defendiam o indefensável, e para frear o embate dos jornalistas – que ficaram totalmente insatisfeitos com essa versão – acabaram jogando a culpa na imprensa. Como se isso resolvesse o problema.
Nessa mesma entrevista coletiva compareceram algumas pessoas que antes, em uma reportagem televisiva, haviam testemunhado situações comprometedoras para o núncio. Ali se retrataram publicamente e inclusive chegaram a dizer o contrário de antes, justificando-se que diante das câmeras se sentiram “constrangidos” e que coisas foram inventadas. Uma das organizações veio a público para esclarecer: “Não queremos que se acredite que essas pessoas estão se retratando, porque elas foram pressionadas pela Igreja...”.
Depois deste fracassado encontro, o programa de televisão que denunciou o escândalo dobrou a aposta e apresentou o testemunho de um menino (com o rosto encoberto) que garantiu ter tido encontros sexuais com Wesolowski. A entrevista alimentou ainda mais a indignação pública e levou o cardeal López Rodríguez a confirmar que foi ele mesmo quem informou o Papa sobre as graves acusações.
Serviu pouco para aplacar os ânimos num problema que está longe de ser considerado definitivamente encerrado e que poderá derivar em uma séria crise diplomática.