07 Setembro 2013
“O jejum como protesto laico”. “Como contestação de um mundo consumista que ignora a solidariedade”. “O jejum como valor simbólico: a força do controle da mente sobre o corpo”. “A vitória do pensamento sobre as necessidades do organismo”. Umberto Veronesi, oncólogo italiano, ex-ministro da Saúde da Itália, explica sua escolha de observar, no sábado dia 7 de setembro, um dia de jejum pela paz na Síria, no Oriente Médio e no mundo inteiro. E por que estendeu o convite a jejuar a todos os membros do movimento Science for Peace, da qual é presidente e fundador, e do qual fazem parte 21 prêmios Nobel.
A entrevista foi publicada no jornal La Repubblica, 04-09-2013. A tradução é de Benno Dischinger.
Professor Veronesi, como você vê o apelo do Papa Francisco?
Este terreno é um ponto de encontro entre ciência e pensamento evangélico. As palavras do Papa “não é a cultura do desencontro e do conflito que produz a convivência” coincidem com as conclusões expressas na carta de Sevilha, o documento que apresenta os estudos mais recentes sobre biologia e antropologia humana, e que confirmam como a natureza humana é inclinada à solidariedade e à ajuda recíproca. A violência é uma reação a situações adversas, antes de tudo a outra violência. Biologicamente a violência gera violência. Responder às armas com as armas não resolve os conflitos, mas, ao contrário, os amplia.
Você pensa realmente que a aliança entre todas as forças pacifistas mundiais, crentes ou não crentes, possa induzir o Congresso USA a deter o seu presidente?
Vale a pena experimentar. É impensável que as armas, por mais sofisticadas que sejam, atinjam somente objetivos militares. Estamos certos que morrerão centenas de civil, muitos dos quais crianças.
Você está convencido que a guerra é um ato contra a natureza?
A posição de Bergoglio se refere à grande cultura pacifista de muitos de seus predecessores, como João XXIII que, com a encíclica “Pacem in Terris” colocou as bases do pacifismo moderno, compartilhado pelos movimentos laicos. Ecoa também o pensamento agostiniano em sua teoria da “privatio boni”: o bem é a regra da vida humana e o mal não é senão sua privação. Portanto, também do ponto de vista filosófico, se o homem é bom por natureza, toda violência é um ato contra a natureza. E, por conseguinte, a guerra é contra a natureza.
O jejum como grande mobilização popular?
No mundo moderno a vontade popular é aquela que faz a história. Com a web e a globalização entramos na era da participação. É claro a todos que é um absurdo, e até mesmo um ato de crueldade, ir matar num País que já conta mais de 90 mil mortos.
Mas, como combater o uso das armas químicas?
Reagir matando com armas convencionais não é menos grave. A campanha contra a intervenção militar na Síria deve ser a ocasião para reafirmar o princípio da paz, que está prevalecendo quase por toda parte, salvo nos USA. Os Estados Unidos, com sua tradição western, continuam a ter uma atitude violenta como meio de controle e de domínio. Não é por nada que são o único País ocidental a manter a pena de morte.
Então, um jejum como jornada de reflexão?
Sim. A comida não predispõe nem à meditação nem à simples reflexão.
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"O jejum é um protesto laico, a violência é contra a natureza, como o diz a ciência”. - Instituto Humanitas Unisinos - IHU