19 Agosto 2013
Em seu primeiro discurso às representantes das irmãs católicas dos EUA desde a sua nomeação em abril de 2012, o arcebispo encarregado pelo Vaticano de supervisionar o seu grupo de lideranças supostamente tinha pouco a oferecer com relação ao motivo da preocupação vaticana ou sobre como o processo seguirá daqui para a frente.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 16-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ao saírem da reunião a portas fechadas dessa quinta-feira entre o arcebispo de Seattle, J. Peter Sartain (foto), e a Leadership Conference of Women Religious (LCWR), várias irmãs disseram que sentiram frustração pela falta de detalhes dados pelo prelado que está há quase 19 meses em seu mandato.
Sartain encontrou-se nessa quinta-feira à tarde com 825 membros da LCWR, que são representantes de ordens católicas femininas por todo o país. A Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano nomeou o prelado como o "delegado apostólico" do grupo e deu-lhe amplo poder de rever seus estatutos e programas.
Membros da LCWR foram convidadas pelas lideranças do grupo a não discutir as reuniões de quinta-feira com membros da imprensa. As portas do salão de convenções onde Sartain estava falando foram fechadas, e guardas uniformizados se posicionaram perto delas para evitar a entrada de pessoas não autorizadas.
Vários membros da LCWR, embora não dando detalhes sobre as considerações de Sartain ou sobre as perguntas que foram feitas ao arcebispo, falaram depois ao NCR sobre a sua sensação geral da reunião. Algumas dos membros expressaram sua apreciação pelo fato de Sartain ter passado um tempo na sua assembleia; outras disseram que havia um sentimento geral de frustração, cansaço e desapontamento com a direção da tarde.
"Trata-se apenas de mais do mesmo", disse uma delas. Outra religiosa, solicitada a expressar um sentimento geral, fez apenas um gesto de "mais ou menos" com as mãos.
Um membro disse que Sartain não respondeu de forma detalhada as perguntas sobre as acusações específicas feitas na avaliação doutrinal vaticana sobre a LCWR, preferindo, ao invés, falar sobre o seu sentido geral acerca do papel da vida religiosa na Igreja. A maior parte da sua fala, disse essa irmã, se focou em Jesus.
Em um certo ponto da sua fala, disse um membro da LCWR, Sartain falou às irmãs que o seu papel "é pensar com a Igreja e na fidelidade ao magistério da Igreja".
Do lado de fora do salão da assembleia onde Sartain falava nessa quinta-feira, a voz do prelado pôde ser ouvida suavemente por cerca de 37 minutos. Depois, houve um minuto de palmas antes que as vozes de irmãs individuais fossem ouvidas de forma intermitente, até uma pausa programada de 90 minutos.
De acordo com um membro da assembleia que estava na sala, a fala do prelado foi seguida por uma breve pausa, durante a qual as irmãs, sentadas em mais de 100 mesas, prepararam perguntas para o arcebispo.
Cada mesa foi então convidada a enviar uma representante para a frente para fazer perguntas, e Sartain respondia algumas questões selecionadas de seis representantes a cada vez.
Ao todo, disse o membro da LCWR, Sartain respondeu perguntas de cerca de 50 religiosas. Embora o arcebispo ouvisse, disse o membro, ele raramente respondia às perguntas com detalhes específicos e falava mais geralmente sobre o papel da vida religiosa.
Embora as lideranças da LCWR e Sartain disseram que não falariam à imprensa durante a assembleia sobre o seu relacionamento, o arcebispo teve ao menos uma refeição com o conselho do grupo de irmãs e foi visto conversando de forma amigável com um grande número de irmãs ao longo da última semana.
Vários membros da LCWR disseram ao NCR que se sentiram divididas entre o pedido das suas lideranças para que ficassem em silêncio sobre a forma das discussões com Sartain e um desejo de serem abertas e transparentes sobre os procedimentos.
De acordo com um membro, os temas comuns nas perguntas a Sartain por parte dos membros da LCWR nessa quinta-feira incluíram:
• Frustração das congregações de irmãs diante da lentidão para receber informações a respeito de como o papel de Sartain na LCWR continuaria;
• Uma sensação de que a reputação das irmãs norte-americanas havia sido injustamente manchada;
• Um duro desacordo com alegações de autoridades do Vaticano de que a LCWR não se comunica adequadamente com os bispos de Roma.
Com relação ao último ponto, Sartain teria dito que as autoridades vaticanas, "daqui para a frente, esperam ter uma melhor comunicação com a LCWR".
"Mas isso não é da nossa parte", teria respondido uma irmã, mencionando que as lideranças da LCWR visitam as Congregações vaticanas em Roma a cada ano e estendem convites aos bispos para participarem das suas assembleias.
"Isso é o que fazemos", teria continuado a irmã.
Com relação ao segundo ponto, uma irmã teria dito a Sartain que o Vaticano tinha, "sem dúvida (…), cometido uma injustiça à nossa reputação".
Por sua vez, disse outra irmã, o arcebispo começou o seu discurso dizendo que queria falar com as irmãs "do coração" e como "irmão e amigo" delas.
Sartain, disse essa irmã, também manifestou apoio a diversos ministérios das irmãs, que incluem educação, saúde e defesa da justiça social.
"Nós apoiamos os seus ministérios ao longo de todos esses anos", disse Sartain de acordo com essa irmã. "Não há nenhuma crítica à sua missão social".
Uma das sugestões que Sartain fez à LCWR nas suas considerações, segundo uma irmã, era de alterar a forma como o grupo escolhe os conferencistas para as suas assembleias anuais. Em vez de escolher apenas um conferencista para falar aos seus membros, Sartain sugeriu que elas selecionassem comentadores também, incluindo ao menos uma pessoa que colocasse em uma luz positiva os ensinamentos oficiais da Igreja.
O discurso de Sartain à LCWR ocorreu no terceiro dia da assembleia anual do grupo, que foi realizada em Orlando até essa sexta-feira à noite. A LCWR representa cerca de 80% dos cerca de 57 mil irmãs norte-americanas.
A lideranças da LCWR e os institutos individuais de irmãs norte-americanas têm expressado há muito tempo sua dor e confusão com relação à medida do Vaticano contra o seu grupo, realizada em uma "avaliação doutrinal" publicada pela Congregação vaticana que deu Sartain um mandato de "até cinco anos, se necessário", para rever o grupo.
Antes da fala de Sartain na quinta-feira, as lideranças da LCWR realizaram uma reunião a portas fechadas de três horas com os seus membros. De acordo com várias irmãs, esse encontro foi a primeira oportunidade da assembleia deste ano para que os membros da LCWR perguntassem às três presidentes da organização como foram as discussões com Sartain sobre o mandato desde abril de 2012.
Os encontros entre Sartain e as lideranças da LCWR nos 18 meses desde a publicação do mandato ocorreram fora do escrutínio público, e nem Sartain nem as irmãs detalharam publicamente o número ou o conteúdo das suas reuniões.
Segundo fontes confiáveis, os membros da LCWR disseram nessa quinta-feira que as suas lideranças se reuniram com Sartain durante quatro vezes ao longo do ano passado: uma vez depois da assembleia da LCWR do ano passado, em St. Louis; uma vez em novembro, em Baltimore, durante a assembleia anual dos bispos dos EUA; uma vez em maio, durante a visita anual do grupo a Roma; e mais uma vez neste verão norte-americano.
Em cada uma das vezes, segundo as lideranças da LCWR, Sartain não detalhou as preocupações específicas do Vaticano com relação à LCWR.
Em sua primeira reunião em agosto passado, Sartain também teria dito que ele não tinha estudado suficientemente a renovação da vida religiosa que se seguiu ao Concílio Vaticano II (1962-1965). Esses esforços de renovação, que duraram décadas, são vistos pelas religiosas como conquistas memoráveis.
Em sua sessão fechada com os membros nessa quinta-feira, o conselho da LCWR também compartilhou um relatório da sua reunião de maio em Roma com os membros da Congregação para a Doutrina da Fé. Várias irmãs disseram que foram informadas de que a resposta da LCWR à avaliação doutrinal continha "deficiências", que, contudo, não foram explicadas.
Na reunião a portas fechadas com Sartain nessa quinta-feira, várias irmãs teriam pedido que o arcebispo esclarecesse essas supostas deficiências, mas ele não o fez.
Eleições e nova liderança
Depois do seu encontro com Sartain nessa quinta-feira, a LCWR realizou outra sessão fechada em que anunciou os resultados da sua eleição anual para a cúpula do grupo.
A liderança da LCWR é composta por uma presidente eleita, por uma presidente e por uma ex-presidente, que governam o grupo de forma colaborativa. Todos os anos, em sua assembleia anual, o grupo elege uma nova presidente eleita, que passa para o cargo de presidente no ano seguinte.
De acordo com várias irmãs, a Ir. Sharon Holland, das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, foi eleita como a nova presidente eleita do grupo.
Renomada canonista, Holland trabalhou anteriormente durante 21 anos no Vaticano como membro da equipe da Congregação para os Religiosos e foi considerada uma das mulheres de mais elevado cargo na estrutura de comando da Igreja.
A então atual presidente da LCWR era a irmã franciscana Florence Deacon. Depois de um discurso para os membros do grupo nessa sexta-feira, Deacon se tornou a ex-presidente do grupo, enquanto a Ir. Carol Zinn, das Irmãs de São José, eleita como presidente eleita na assembleia do ano passado, se tornou presidente.
As lideranças da LCWR não disseram quando ou se irão dar detalhes sobre a reunião de quinta-feira com Sartain. Os membros do conselho do grupo devem se reunir em uma casa de retiros neste fim de semana para continuar as deliberações sobre o mandato.
Alguns membros da LCWR disseram que há um plano para divulgar uma declaração depois da reunião do fim de semana, mas outras disseram que nenhuma decisão ainda foi tomada sobre esse assunto.
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Arcebispo supervisor da LCWR dá poucos detalhes sobre o porquê da avaliação vaticana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU