13 Agosto 2013
Mercadores de homens, como no séculos dos negreiros. "Há uma organização criminosa, parece que egípcia, com células de seleção na Sicília, que gerencia o tráfico de migrantes", adverte o procurador-chefe de Catânia, na Itália, Giovanni Salvi. A hipótese investigativa, em campo há muito tempo, foi confirmada por 64 dos mais de 90 sírios e egípcios que ficaram presos ao longo da costa do Etna na madrugada de sábado passado.
A reportagem é de Elsa Vinci, publicada no jornal La Repubblica, 12-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Viajamos por cerca de sete dias a bordo de um navio mercante, uma 'nave-mãe' que partiu de Alexandria do Egito. Depois, tendo avistado a costa da Sicília, nos fizeram passar para um pesqueiro. O capitão e outros dois traficantes nos abandonaram ao longo do contorno da costa".
Alguns dos migrantes em fuga da guerra dizem que foram deixados sozinhos pouco antes que a embarcação encalhasse nas águas rasas diante da Plaia do Etna; outros falam de 36 horas antes do naufrágio que matou seis jovens.
Uma tragédia que "tocou profundamente o Papa Francisco", declarou o padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa vaticana. Para uma das vítimas, um egípcio de 27 anos, foi fatal o quinto desembarque em nove anos (as outras quatro vezes ele sempre tinha sido repatriado). Nenhum dos migrantes o conhecia. Ele foi identificado pelas impressões digitais.
Para os mercadores de homens, uma vida vale 50 mil liras egípcias, ou seja, cinco mil euros. "O saldo da viagem é na chegada, quando cada um dos migrantes tem que telefonar por um celular para um número pré-estabelecido para confirmar o desembarque", dizem os investigadores. Que também explicam: "Na Sicília, seguramente há alguém que controla os trechos da costa não patrulhados e que sugere os pontos de desembarque": Pozzallo, Giarre, Diporto, o porto do Siracusa.
Para alguns, parece que o acordo também prevê a inclusão no mercado de trabalho ilegal. Como invisíveis, apenas por alguns meses, o tempo suficiente para juntar um pouco de dinheiro para chegar à França, Alemanha, Escandinávia.
"Certamente é um grande negócio – confirma o procurador Salvi – com interesses econômicos muito fortes". Ligações com a máfia siciliana? "Não podemos afirmar – diz o juiz –, embora no passado surgiram episódios de contato". A hipótese, "apoiada pelos fatos", é que as células que servem de base na Sicília são norte-africanas.
"Mas é preciso distinguir", explica o promotor Salvi. "Veio à tona que há muitas diferenças, de acordo com os locais de origem dos refugiados. Da Líbia, para portos fáceis como Lampedusa, pois o Estado não respeita os acordos com a Itália e permite as partidas. Da Síria e do Egito, a história é diferente. Dali, o êxodo seria impossível sem uma organização estruturada e complexa. E nós buscamos as suas bases na Itália".
Nesse sentido, não se exclui a apresentação de um pedido de rogatória ou ao menos de colaboração com o Egito.
Não chegou nenhuma contribuição para as investigações sobre o desembarque em Catânia a partir da detenção de dois comerciantes egípcios, jovens de 16 e 17, que ainda não foram interrogados, mas que já disseram que não sabem de "nada, porque foram contratados apenas para distribuir pão e água a bordo". Assim que foram detidos, foram levados ao centro de acolhida do Tribunal de Menores de Catânia.
Ao contrário, os sírios, cerca de 30 pessoas, que recusam o asilo na Itália, foram alojados em uma escola. Eles interromperam a greve de fome, mas foi impossível recolher as impressões digitais e iniciar os procedimentos legais para a triagem nos centros. Os diversos núcleos familiares querem chegar à França, Alemanha, Suécia e Noruega.
"Nós somos um país de trânsito", diz a ministra do Exterior, Emma Bonino. "O problema é europeu". De fato, o presidente do Conselho, Enrico Letta, em vista dos semestres italiano e grego, já concordou com o primeiro-ministro Samaras que irá colocar no centro da pauta o problema das políticas migratórias.
"É indispensável uma abordagem diferente – diz –, uma mudança de ritmo da União Europeia".
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O drama do migrante morto em seu quinto desembarque - Instituto Humanitas Unisinos - IHU