Por: Jonas | 08 Agosto 2013
Quando Bergoglio (foto) ainda estava em Buenos Aires, nunca perdia a festa do dia 7 de agosto, no Santuário de São Caetano, bairro de Lieners. Mesmo agora, como bispo de Roma, o ex-arcebispo da metrópole portenha quis participar de alguma forma.
Fonte: http://goo.gl/WRUZlo |
A reportagem é de Gianni Valente, publicada no sítio Vatican Insider, 07-08-2013. A tradução é do Cepat.
Desde as 23h00s de ontem, a multidão de peregrinos desfila para oferecer sua homenagem à pequena imagem de São Caetano de Thiene (1), e puderam acompanhar o vídeo-mensagem que o Papa argentino gravou para eles, do outro lado do mundo. A mensagem foi retransmitida nos telões colocados ao redor do Santuário. Palavras simples, mas intensas, que conduzem ao dinamismo inconfundível da caridade cristã, pronunciadas seguindo a fórmula-intenção da peregrinação, que neste ano exortou para caminhar com “Jesus e São Caetano” ao encontro dos “mais necessitados”. “O mais importante” repetiu o Papa, “não é olhar de longe ou ajudá-los de longe, mas ir ao seu encontro”. Olhar nos olhos daqueles a quem damos esmola, tocar suas mãos, porque “caso não as tocou, não houve encontro”. Um impulso gratuito, sugeriu Francisco aos seus compatriotas, que não nasce de si mesmo, do esforço de fazer coisas boas, e muito menos de intenções propagandísticas, mas como simples eco das coisas boas que Cristo pode operar em quem o segue: “Convencerei o outro a se tornar católico?”, perguntou Bergoglio. “Não, não; vou encontrá-lo. É seu irmão, isso basta. Com isso, você o ajudará; Jesus faz o restante, o Espírito Santo faz”. Por essa razão, convidou para que se saia ao encontro dos mais necessitados, daqueles que estão passando um momento mais difícil do que aquele que nós estamos passando, porque “sempre há alguém passando por coisas piores, sempre, sempre há alguém”. Desta maneira, pode acontecer que “seu coração, quando você se encontrar com aquele que mais necessita, comece a se agigantar, agigantar, agigantar, porque o encontro multiplica a capacidade do amor, engrandece o coração”.
O Santuário de São Caetano é o Santuário mais querido pela classe operária, desde os tempos dourados do sindicalismo peronista. Para o Santo, amigo das prostitutas e dos infelizes destroçados pelos usurários, os argentinos sempre pedem pão e trabalho. Os sacerdotes mantêm a Igreja aberta, com os confessionários funcionando, durante doze horas. E ao redor do santuário acontece e aumenta uma conjunção de vida cristã intensa, na qual a graça saboreada nas liturgias, nos sacramentos e no consolo da oração, floresce imediatamente em milhares de obras de misericórdia corporal e espiritual. Os voluntários juntam comida, remédios e roupa para distribui-las por todo o país. Há um refeitório paroquial e cursos de formação para os excluídos do circuito produtivo. Também há uma base de dados com os nomes daqueles que estão procurando trabalho, que funciona como uma pequena agência de emprego. É um pouco essa imagem de Igreja que Bergoglio leva em sua percepção e no coração, quando, mesmo como Papa, sugere a todos uma “conversão pastoral” e um impulso missionário que se configure completamente de acordo com as marcas da misericórdia e da cercania, da proximidade, do encontro.
Em seus 15 anos como arcebispo, Bergoglio sempre celebrou alegremente a missa no Santuário, no dia da festa do Santo. Suas homilias deixavam uma marca no coração frio do inverno argentino. “Há dores e dores. Esses do salário negado, esses da falta de trabalho, esses que clamam vingança”, disse no dia 7 de agosto de 2006, e acrescentou que “as dores por causa da injustiça clamam vingança, porque são dores que podem ser evitadas, apenas sendo justos, ajudando aos que mais necessitam, criando trabalho, sem roubar, sem mentir, sem abalar muito, sem se aproveitar”. Dois anos depois, em 2008, sua homilia se condensou num diálogo com o povo de Deus. “Então – disse – faço-lhes uma pergunta: a Igreja é um lugar aberto apenas para os bons?”. E todos responderam em coro: “Não!”. “Aqui, colocamos alguém para correr porque é mau? Não, pelo contrário, nós o acolhemos com mais afeto. Isso foi Jesus que nos ensinou. Imaginem, então, como o coração de Deus é paciente com cada um de nós”. No ano passado, o então cardeal Bergoglio voltou a pedir para São Caetano a graça de ter pão e trabalho para todos, “tão necessários para uma vida digna”, inclusive, justificou a indignação e a luta justa para impedir que tais bens sejam roubados do povo para quem foram destinados.
Toda vez, ao final da missa, Bergoglio voltava a percorrer, do lado contrário, a fila dos fiéis (centenas de milhares) que esperavam pacientemente para se aproximarem da imagem do Santo. Abraçava e beijava a todos, um por um. Conversava, escutava histórias e problemas, abençoava crianças, rosários, fotos de familiares enfermos e as barrigas das mulheres grávidas, sempre as convidando com delicadeza para que batizassem seus filhos, porque “assim o Senhor se reforça”. Terminava cansadíssimo, mas seu coração de pastor voltava a florescer com alegria e paz daqueles longos mergulhos no “sensus fidei” do Povo de Deus. E, no final, reconfirmava a certeza de que “o Senhor escolhe os pobres, porque os pobres não se gabam de serem escolhidos, não consideram ser um mérito próprio. Assim, a predileção do Senhor pode se tornar um dom que todos agradecem”.
“Deus Pai Nosso”, disse em certa ocasião, “escuta o clamor de seu povo. O clamor silencioso da fila interminável que passa diante de São Caetano. Nosso Pai nos céus escuta o ruído de nossos passos, a oração que vamos sussurrando em nosso coração, enquanto nos aproximamos”.
Pão e Trabalho
Segundo informa a Sala de Imprensa do Vaticano, o Santuário de San Cayetano, padroeira na Argentina do "Pão e Trabalho" se localiza no bairro Liniers de Buenos Aires, zona periférica da cidade. Anualmente, no dia 7 de agosto, na memória litúrgica de São Caetano, milhares de fieis se postam na fila para passar ante a pequena estátua de São Caetano, beijar o vidro que guarda a estátua e fazer o sinal da cruz.
A fila se estende por 15 ruas da cidade e dura o dia todo. A espera pode durar 10 horas. A cada hora, no Santuário é celebrada uma missa.
A celebração principal é a das 11h. Como Arcebispo de Buenos Aires, o então cardeal Bergoglio presidia a celebração da Festa de São Caetano e, no final, percorria, em sentido inverso, a fila para ouvir as histórias do povo e abençoar as crianças.
Neste ano, a missa das 11h foi presidida por Mario Aurelio Poli, arcebipos de Buenos Aires e Primaz da Argentina.
Eis a mensagem do Papa Francisco
Boa tarde!
Como todos os anos, depois de percorrer a fila (dos fiéis), falo com vocês. Desta vez, percorri a fila com o coração. Estou um pouquinho longe e não posso compartilhar com vocês deste momento tão lindo. Deste momento em que vocês estão caminhando para a imagem de São Caetano. Para quê? Para se encontrar com ele, para se encontrar com Jesus. Contudo, hoje, o lema desta peregrinação, lema escolhido por vocês, selecionado entre tantas outras possibilidades, hoje o lema fala de outro encontro, e diz: “Com Jesus e São Caetano, caminhemos ao encontro dos mais necessitados”. Fala sobre o encontro com as pessoas que mais necessitam, com aquelas que necessitam que ofereçamos uma mão, que as olhemos com carinho, que compartilhemos suas dores ou suas ansiedades, seus problemas. Porém, o importante não é olhá-las de longe, ou ajudá-las de longe. Não, não! É ir ao encontro. Isto é o cristão! Isso o que Jesus nos ensina: ir ao encontro das pessoas mais necessitadas. Assim como Jesus, que sempre ia ao encontro das pessoas. Ele ia encontrá-las. Sair ao encontro das pessoas mais necessitadas.
Às vezes, eu pergunto para alguém:
- “Você dá esmola?”
Diz-me: “Sim, padre”.
- “E quando você dá esmolas, você olha nos olhos das pessoas para quem oferece as esmolas?”
- “Ah, não sei, não me dei conta”.
- “Então não se encontrou com esta pessoa. Jogou a esmola e partiu. Quando você oferece esmola, toca na mão da pessoa ou joga-lhe a moeda?”
- “Não, jogo-lhe a moeda”.
“E não a tocou. Se não a tocou, você não se encontrou com ela”.
O que Jesus nos ensina é primeiro a nos encontrarmos, e no encontro, ajudar. Precisamos saber nos encontrarmos. Precisamos edificar, criar, construir uma cultura do encontro. Tantos desencontros, brigas na família, sempre! Brigas no bairro, brigas no trabalho, brigas por todos os lados. E os desencontros não ajudam. A cultura do encontro. Sair ao encontro. E o lema diz para nos encontrarmos com os mais necessitados, ou seja, com aqueles que necessitam mais do que eu. Com aqueles que estão passando por um mau momento, pior do que aquele que eu estou passando. Sempre há alguém que está pior! Sempre! Sempre há alguém. Então, eu penso, estou passando por um mau momento, venho à fila para me encontrar com São Caetano e com Jesus e, em seguida, saio para me encontrar com os outros, porque sempre existe alguém numa situação pior. Assim, são com estes que devemos nos encontrar.
Obrigado por me escutarem, obrigado por estarem aqui hoje, obrigado por tudo o que carregam no coração. Jesus os quer muito! São Caetano os quer muito! Pede a vocês somente uma coisa: “Que se encontrem! Que vão, procurem e se encontrem com aqueles que mais necessitam! Mas, sozinhos não. Com Jesus, com São Caetano! Convencerei o outro a se tornar católico? Não, não, não! Você irá encontrá-lo, é seu irmão! Isto basta! E irá ajudá-lo, Jesus faz o restante, o Espírito Santo faz. Lembre-se bem: Com São Caetano, nós, os necessitados, vamos ao encontro dos mais necessitados. Com Jesus, nós, os necessitados, aqueles que mais necessitam, vamos ao encontro dos que mais necessitam. E tomara que Jesus vá marcando o seu caminho, para que se encontre com quem necessita mais.
Quando você se encontrar com aquele que mais necessita, seu coração começará a se agigantar, agigantar, agigantar! Porque o encontro multiplica a capacidade do amor. O encontro com o outro, agiganta o coração. Anime-se! “Sozinho, não sei como fazer”. Não, não, não! Com Jesus e com São Caetano!
Que Deus o abençoe e que você termine bem o dia de São Caetano. E, por favor, não se esqueça de rezar por mim. Obrigado.
Nota da IHU On-Line:
1,- São Caetano de Thiene, pertencia a uma familia nobre e dedicou a sua vida aos pobres. Tornou-se muito popular na Argentina. Nasceu em Vicenza, na Itália, em 1480. Estudou filosofia e teologia, e doutorou-se em direito civil e eclesiástico. Depois tornou-se padre. Morreu no dia 7 de agosto de 1547. Foi proclamado santo em 1671. Após a crise econômica de 1929, tornou-se o padroeiro do Pão e Trabalho e até hoje é o santo mais venerado pelos trabalhadores argentinos.
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Papa Francisco celebra o Santo “do pão e do trabalho” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU